BRASILEIROS SÃO ACUSADOS DE ENGANAR SOLDADOS NA RÚSSIA DURANTE ALISTAMENTO E DESVIAR DINHEIRO EM PLENA GUERRA
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(crédito: foto reprodução "IA" Sociedade Militar) |
Postagem publicada à 0h40 desta segunda-feira, 18 de agosto de 2025.
Denúncias apontam brasileiros acusados de enganar soldados estrangeiros na Rússia com supostos golpes financeiros durante alistamento militar, envolvendo procurações, bancos e promessas de ajuda, deixando recrutas sem recursos em plena guerra e aumentando a angústia de familiares no Brasil.
Entrar em um conflito armado já é, por si só, um mergulho em incertezas.
Mas para alguns jovens que sonharam em integrar o Exército
russo, a surpresa não veio apenas do front de batalha, e sim de dentro de uma
armadilha burocrática.
O que deveria ser apenas a porta de entrada para a guerra se
transformou, para eles, em uma amarga experiência de desconfiança, perdas
financeiras e acusações de fraude.
Segundo relatos divulgados pela CNN Brasil, dois brasileiros
residentes na Rússia são apontados por soldados como responsáveis por supostos
golpes financeiros contra estrangeiros que buscavam se alistar para combater na
guerra contra a Ucrânia.
As denúncias revelam um esquema envolvendo traduções de
documentos, falsas explicações e, sobretudo, o uso de procurações que teriam
dado acesso às contas bancárias dos recrutas.
Acusações contra a duplaDe acordo com militares que aceitaram
compartilhar suas histórias, os brasileiros identificados como Arthur Michel e
Antônio Neto usavam canais de mensagens para orientar interessados no
alistamento russo.
O material, que incluía vídeos e explicações em português,
atraía jovens dispostos a viajar por conta própria até Moscou ou São
Petersburgo.
Quando chegavam, eram recebidos pela dupla, que supostamente
auxiliava com a tradução de documentos burocráticos e no trâmite de registro
militar.
No entanto, soldados afirmam que, entre as folhas
apresentadas, havia uma procuração enganosa, muitas vezes assinada sem
conhecimento real de seu conteúdo.
Segundo as denúncias, essa procuração permitia que os
brasileiros movimentassem valores depositados pelo Ministério da Defesa russo
em nome dos soldados.
O relato de Fernando Mazzo
Um dos casos mais detalhados é o de Fernando Mazzo, 44 anos,
que decidiu expor publicamente a experiência após retornar ao Brasil.
Ele conta que, ao assinar os papéis, acreditava estar
realizando um exame psicológico exigido pelo Exército russo.
Somente depois percebeu que havia autorizado a abertura de
uma conta vinculada ao grupo acusado.
“Eles abriram a conta para nós, mas não estava no nosso nome.
Era uma conta dependente da principal deles, o que lhes dava liberdade para
transferir e sacar como quisessem”, relatou Mazzo.
O brasileiro afirma ainda ter enfrentado dificuldades para
cancelar o contrato militar.
Ao tentar deixar a tropa, ouviu que poderia ser acusado de
deserção, situação que o deixou sob intensa pressão psicológica.
Durante uma folga em São Petersburgo, chegou a ser mantido em
um hotel contra sua vontade.
“Quebrei a janela do quarto e fugi pela escada de emergência.
Dormi na rua até conseguir regularizar minha situação e voltar para casa”,
disse.
Outras vítimas e prejuízos milionários
Os depoimentos não param em Mazzo.
Outros soldados relataram experiências semelhantes e
prejuízos que somam centenas de milhares de rublos.
Um militar, que preferiu não se identificar por ainda estar
em território russo, afirmou que teve cerca de 1 milhão de rublos desviados –
valor próximo a R$ 60 mil.
Ele explicou que, sem entender o idioma e sem acesso ao
celular durante a assinatura dos papéis, acreditou estar cumprindo apenas
exigências formais do Exército.
“Assinei confiando no que eles diziam. Depois vi o dinheiro
sumir da conta”, contou.
Segundo estimativas de ex-combatentes, um soldado estrangeiro
pode ganhar até R$ 350 mil durante o período de contrato, incluindo bônus de
alistamento e salário.
Esse atrativo financeiro tem levado muitos jovens brasileiros
e sul-americanos a se arriscar, apesar dos perigos do front e das denúncias de
fraudes.
Consequências no campo de batalha
Além das perdas financeiras, as vítimas relatam que a
situação abalou o desempenho militar.
Um dos soldados disse que passou a abrir diversas contas
online para tentar salvar parte do dinheiro que recebia, desviando sua atenção
das missões de combate.
O mesmo militar foi gravemente ferido em campo ao ser
atingido por estilhaços de um drone inimigo, perdendo o movimento do pé
direito.
Hoje, ele aguarda cirurgia enquanto lida não só com as
sequelas físicas, mas também com o trauma de ter sido enganado por
compatriotas.
Apoio jurídico e investigações
Diante das denúncias, alguns soldados buscaram apoio legal.
O advogado russo Roman Petrov, especializado em direito
militar, afirmou que representa uma das vítimas e que o caso já chegou ao
Ministério de Assuntos Internos da Rússia.
Segundo ele, os acusados podem responder com base no Artigo
159 do Código Penal russo, que trata de fraude.
“Um cidadão relatou que cerca de 800 mil rublos foram
retirados indevidamente de sua conta, após assinatura de procuração lavrada em
Moscou. O caso já é acompanhado pelas autoridades”, afirmou Petrov em nota.
O drama das famílias
No Brasil, a situação também afeta familiares dos soldados.
Helade Medeiros, mãe de Anderson Ferreira, desaparecido na
Rússia desde junho de 2024, relatou que chegou a discutir com um dos acusados,
pois acredita que o filho também foi vítima do mesmo esquema.
O paradeiro de Anderson segue incerto, aumentando a angústia
da família.
O que dizem os acusados
Procurados pela CNN, os brasileiros negaram todas as
acusações.
Antônio Neto afirmou que vive na Rússia há 11 anos, é médico
e atuou apenas como tradutor para militares.
Segundo ele, os relatos são “absurdos” e parte de uma
tentativa de desmoralizá-los em meio à guerra.
Já Arthur Michel declarou que sempre atuou de forma
voluntária e que jamais cobrou pelos serviços prestados.
Ele alega que as assinaturas ocorreram dentro de dependências
oficiais do Exército russo, não havendo ilegalidade.
Posição do Itamaraty
O Itamaraty informou que acompanha casos de brasileiros na
Rússia e na Ucrânia por meio das embaixadas em Kiev e Moscou.
O órgão reforçou que a assistência consular depende do
contato direto do cidadão ou da família.
Além disso, em julho de 2024, o Ministério publicou um alerta
reforçando os riscos para brasileiros que tentam se envolver em conflitos
armados internacionais.
O peso da decisão
Apesar de todos os problemas, Fernando Mazzo disse não se
arrepender de ter servido na Rússia.
Seu maior ressentimento é com o suposto golpe.
“O combate não é o problema. O problema é ser lesado e correr
o risco de morrer sem que sua família saiba”, desabafou.
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Com informações Revista Sociedade Militar.
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