CRISE POLÍTICA TENTA INVADIR OS QUARTÉIS, MAS GENERAIS DÃO RESPOSTA HISTÓRICA CONTRA O RADICALISMO: "ELES QUE VENHAM . POR AQUI NÃO PASSAM"

(crédito: foto reprodução "IA" Sociedade Militar para ilustração do texto)

Postagem públicada às 06h10 desta terça-feira, 12 de agosto de 2025.

Generais de hoje repetem lição de 1866 para impedir que a crise política contamine a Força

Em um momento de tensão política e tentativas de provocar instabilidade dentro das Forças Armadas, o Exército Brasileiro deu um recado firme: a instituição permanece comprometida com a legalidade e não se deixará arrastar para aventuras golpistas. O general Richard Nunes, que deixou o comando do Estado-Maior do Exército (EME) para assumir função no Ministério da Defesa, reagiu às recentes provocações de grupos radicais, reafirmando valores históricos da Força e citando episódios que marcaram a trajetória da Artilharia brasileira.

O tom escolhido pelo oficial remeteu a um dos momentos mais simbólicos da Guerra do Paraguai. Em 24 de maio de 1866, no campo de batalha de Tuiuti, o então tenente-coronel Emílio Luís Mallet respondeu a seus homens diante do avanço da cavalaria paraguaia contra as defesas brasileiras: “Eles que venham; por aqui não passarão”. Mallet, que mais tarde se tornaria patrono da Artilharia, também se destacou em 1869, em Peribebuí, quando impediu um massacre após a tomada das trincheiras inimigas.

A evocação desse episódio histórico se encaixa no atual cenário, onde a “cavalaria inimiga” não vem do exterior, mas de dentro do próprio país. Na última semana, um grupo de oficiais da reserva, alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, tentou explorar tensões políticas para levar a crise institucional aos quartéis. Segundo relatos, a ação foi neutralizada de forma rápida, sem necessidade de reuniões formais para lembrar a esses militares que disciplina e legalidade são princípios basilares da corporação.

Entre os envolvidos estavam três generais que integraram governos passados e a esposa de um quarto oficial. A justificativa apresentada foi a discordância em relação a decisões recentes do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Entretanto, para o Alto Comando, a manobra tinha outro objetivo: gerar uma crise militar para enfraquecer o comandante do

Exército, general Tomás Miguel Ribeiro de Paiva, e abrir espaço para questionar a legitimidade da atual liderança, vista como barreira a qualquer tentativa de golpe.

Durante reunião em Brasília, os generais concluíram que a disputa é estritamente política e que a instituição não deve ser contaminada pelos embates entre os poderes da República. Para alguns oficiais, o discurso da ultra direita, que diz agir “em nome do povo”, lembra o da ultra esquerda armada dos anos 1960, que também se dizia representante legítima da sociedade. A crítica é direta: radicalismos - de qualquer espectro - ignoram a diversidade de pensamento e excluem da cidadania quem não compartilha de sua visão.


O general Richard Nunes (segundo da esquerda para a direita) se despede dos integrantes do Estado-Maior do Exército logo após o término da solenidade realizada na quinta-feira, dia 7, no quartel-general da Força Terrestre, em Brasília. Foto: Marcelo Godoy/Estadão.

Os militares reforçam que, em uma República, o Exército não pode atuar como instrumento de um partido político contra outro. Reconhecem excessos do STF, mas destacam que o Brasil não vive uma ditadura. Como exemplo, lembram que, em um regime autoritário, não haveria espaço para manifestações como a que reuniu 40 mil pessoas na Avenida Paulista contra decisões judiciais.

Outro ponto de consenso no Alto Comando é o apoio ao ministro da Defesa, José Múcio. Apesar de a maioria da oficialidade ter perfil político conservador, há entendimento de que simpatias ideológicas não devem se sobrepor à legalidade.

Cerimônias em Brasília reforçam mensagem

Na quinta-feira, duas solenidades marcaram a troca de comando no EME e a promoção de novos oficiais generais. A primeira, que contou com a presença de Múcio e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, promoveu 16 oficiais ao posto de general de brigada. Tarcísio, ex-colega de Aman da turma de 1996, evitou declarações políticas, contrastando com a postura do ex-presidente, que utilizava eventos militares como palanque.

Durante seu discurso, Richard Nunes afirmou aos novos generais que preservar e fortalecer o Exército “requer acurado entendimento do ambiente informacional e plena aplicação dos preceitos da comunicação estratégica, com estrita observância dos princípios e valores éticos e morais cultuados por nossa instituição”. Ele destacou ainda a necessidade de manter distância da crise política e alertou: “É preciso que instruam e orientem seus subordinados para o desafio de assegurar o caráter perene de uma instituição calcada no respeito à hierarquia e à disciplina.”

Entre os promovidos a general de divisão estava Marcelo Zucco, irmão do deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), investigado por participação nos atos golpistas em Brasília. Mais tarde, na cerimônia de transmissão de cargo,

Richard fez um balanço de seus 47 anos de carreira, recordando desde seu ingresso na Escola Preparatória de Cadetes, em 1978, até os 17.309 dias passados na caserna.

O general prestou homenagem a Múcio “pelo apreço e pela confiança em um momento recente e crucial da minha vida profissional” e elogiou Tomás Miguel Ribeiro de Paiva, afirmando: “Tem sido uma honra servir ao seu lado e auxiliá-lo na grande empreitada que é conduzir os destinos do Exército em uma época de tanta incompreensão.” E concluiu com a frase que ecoou no Forte Caxias: “Conte sempre com este soldado para manter inexpugnável a fortaleza da hierarquia e da disciplina: ‘Eles que venham. Por aqui não passam!’”.

Tomás respondeu com igual tom de reconhecimento: “Contei sempre com você (Richard) nas horas mais difíceis. Os verdadeiros soldados sabem que o reconhecimento e a popularidade são efêmeros e são acompanhados pela abnegação e pelo desprendimento; vivem vidas modestas, dão ordens diretas e assumem a responsabilidade pelo que decidem. Seu farol são a lei e a ética; e sua consciência, a sua maior julgadora. É assim que o seu comandante o vê, como verdadeiro soldado. Outras jornadas o esperam, na certeza de que seguiremos ombreados.”

Reação ao radicalismo

Desde 2022, tanto Tomás quanto Richard têm sido alvo de ataques virtuais e campanhas difamatórias promovidas por setores da ultra direita. Para oficiais próximos ao comando, as últimas semanas deixaram claro que, no campo da ética e da legalidade, o Exército está de um lado — e os agitadores políticos, do outro. As cerimônias em Brasília, com a presença de antigos chefes do EME e da cúpula militar, serviram para consolidar essa mensagem.

Assim como Mallet deteve o avanço paraguaio há mais de 150 anos, a liderança atual quer deixar claro que não permitirá que radicais comprometam a estabilidade da instituição. A mensagem, histórica e simbólica, permanece: “Eles que venham. Por aqui não passam”.


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Com informações Revista Sociedade Militar. 

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