VEJAM O VÍDEO: "PROFESSORES VIVERAM EM CENÁRIO DE GUERRA DURANTE DESOCUPAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES DO RIO DE JANEIRO

Foto:Luiz IsidoroPoliciais mascarados avançam em direção à multidão acampada do lado de fora do prédio. Do lado de dentro, um outro grupo de policiais acaba com qualquer reação do povo. Bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta, armas de choque e força física. Em poucos segundos, a correria começa. É o cenário perfeito para qualquer filme de guerra, mas ele é real. As cenas aconteceram no dia 28 de setembro, dia em que a Polícia Militar expulsou professores que ocupavam a Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio de Janeiro.
O comandante da PM, Luis Castro, em pronunciamento para a imprensa, afirmou que os policiais não usaram "gás de pimenta ou lacrimogênio dentro da Câmara". Porém, do lado de fora ele concordou que houve uso de força do lado de fora. "Quiseram dificultar o trabalho da polícia e tivemos que ser mais enérgicos". Ao SRZD, profissionais do ensino relataram as cenas de horror que viveram naquela noite.
Cristiano Cardoso era um dos professores que estavam na Câmara desde quinta, dia 26. Quando ele saiu de casa naquele dia, não imaginava que iria dormir na Casa do povo. Planejamento algum foi discutido e quando o grupo entrou, o que se viu foram pessoas tentando acompanhá-los de qualquer forma. "Teve gente que pulou lá de cima, outros que deram a volta", disse. A intenção era resistir por muito tempo e, para isso, a ajuda de outros professores foi necessária. "Nós entramos sem nada e os professores foram levando. Quando falaram da ocupação, os professores que estavam fora acabaram cotizando para comprar material. Comprar água, comprar material de limpeza para manter limpo lá dentro, produtos de higiene e alimentos".
Quando soube da ocupação, a professora Elizete Esquerda correu para ajudar não só seus companheiros de profissão, mas seus amigos pessoais. "Eu e uma amiga viemos em ato de solidariedade entregar umas camisas e alimentos para o pessoal que estava na ocupação". Ela chegou no Centro por volta das 19h30 e, ao estacionar o seu carro no entorno da Câmara, se viu rodeada por policiais, o que a fez permanecer no local. "Como a Tropa de Choque tomou conta, eu não pude sair, tive que ficar. Aí não há como a gente ficando, não se envolver e entrar em protesto contra o que estava acontecendo".
Policiais mascarados durante a desocupação da Câmara no dia 28. Foto: Reprodução
Os primeiros momentos dentro da Câmara foram divididos entre o êxtase da ocupação e a tensão vinda do lado de fora. De acordo com Cristiano, policiais impediam que os mantimentos chegassem até eles. Mas a tentativa só aconteceu naquela noite. "No primeiro dia eles tentaram não deixar entrar, mas depois não sei o que aconteceu. Não sei se eles desistiram, o que que foi".
Na sexta-feira, dia 27, tudo ocorreu bem. Pelo menos até o grupo que estava dentro da Câmara ser surpreendido por policiais. A Polícia Militar entrou na Casa com um documento de reintegração de posse endereçado para o grupo "Ocupa Câmara", que ocupou o prédio durante a votação da CPI dos ônibus, em agosto. Algo que foi percebido pelos professores. "Nós questionamos a validade do documento, já que ele era do dia 20 de agosto e a nossa ocupação não tinha nada a ver com aquela. Tanto é que a pessoa que estava comandando a operação desistiu. E aí nós ficamos mais um dia".
O sábado começou tranquilo, mas, de repente, tudo mudou. Do lado de dentro da Câmara, um grupo de policiais tentava negociar com os professores uma nova saída. "A pessoa que foi lá falou 'vocês vão ter que sair'". Os profissionais do ensino, então, questionaram se havia algum documento da Justiça ou da Câmara. Segundo Cristiano, a resposta foi simples e direta: "não temos documento, o Sérgio Cabral ligou e falou que era para tirar", disse o policial.
"Armados" com câmeras, os professores filmavam o diálogo, ou pelo menos tentavam. De acordo com Cristiano, os policiais começaram a ficar tensos e passaram a repetir que não daria certo se as filmagens permanecessem. E os educadores escolheram pela permanência. O comando da operação foi trocado. "Esse comandante já chegou bem estressado, falando que ia ter que sair naquela hora", revelou o professor.
Policiais durante a desocupação da Câmara no dia 28. Foto: Reprodução / Facebook / Mídia Ninja
Enquanto isso, do lado de fora da Câmara, policiais desviavam a atenção do portão central da Casa e iam para o portão lateral. Segundo revelou Elizete, o efetivo da Tropa de Choque "era pelo menos cinco vezes maior do que o número de pessoas do portão lateral da Câmara". O cordão de policiais estava totalmente mascarado e com um alicate para quebrar a corrente do portão. Para defender aqueles que estavam lá dentro, os professores fizeram um cordão de isolamento. "A gente estava resistindo com o corpo e com a voz, com palavras de ordem, solicitando que eles não entrassem, não usassem a violência".

Cerca de meia hora depois, o cordão policial avançou em direção ao portão lateral. Segundo Elizete, "não houve dos manifestantes, e nem de quem estivesse ali assistindo, nenhuma ação de bomba que falam que foi jogada de coquetel molotov". Mas, mesmo assim, o ataque começou. Bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta dispersaram o grupo de professores.
Do lado de dentro, representantes dos professores conversavam com o comandante da operação. Foi quando o tal cordão policial entrou pela lateral do prédio "tentando empurrar as pessoas". Cristiano estava com sua câmera na mão quando percebeu a entrada dos policiais. "Eu estava com a câmera gravando um plano aberto do plenário. Aí eu fui empurrado, no susto eu também tencionei, parei e botei o pé firme. Nisso que eu botei o pé firme, eu levei uma rasteira e um chute na barriga. Fui carregado, arrastado".
Segundo Cristiano, outros casos de violência foram vistos. Professores eram levados a força para o lado de fora. Homem ou mulher. Um deles levou dois choques. Outro levou um soco no rosto e precisou ser levado para o Hospital Souza Aguiar para passar por um exame raio-x.
Enquanto Cristiano sofria com a truculência policial do lado de dentro da Câmara, Elizete passava por momentos piores do lado de fora. Durante uma das correrias, um homem foi empurrado contra um ponto de ônibus por policiais e quase a imprensou na parede. Elizete também sofria com as bombas e o spray. "Eu fiquei acuada na parede e aí veio a terceira bomba que enlouquece, o gás lacrimogenio que queima a garganta". O pânico era tanto que a maneira que ela encontrou para se salvar foi se juntar logo a quem a atacava: um policial. "Eu pensei rápido 'caramba é melhor eu me proteger no policial', porque eu estava do lado dele e aí eu abracei o policial".
Neste momento, Elizete avistou de longe Cristiano. Primeiramente, não acreditou no que via. Na segunda vez que olhou, também não. "Eu olhei o Cristiano três vezes quando ele saiu lá de dentro. Ele saiu revoltado porque ele foi pisado, arrastado. Eu olhei três vezes e não acreditei porque para mim ele estava lá dentro. Quando olhei a terceira vez, era ele. Ele estava chorando, estava em pânico".
Ao SRZD, Elizete disse que nunca imaginaria passar por um momento desses. "A gente não imaginou que eles iam fazer tamanha atrocidade que foi feita". Cristiano foi um dos primeiros a sair da Câmara dos Vereadores e nos contou o que sentiu ao pisar na rua. "Lá dentro eles usaram choque e truculência, mas aqui fora foi um campo de guerra. O Choque meteu o pau aqui fora", relatou ao SRZD.

Confira um vídeo do momento em que professores são expulsos da Câmara*: 


*O Blog Alvaro Neves e o Blog SRZD não são responsável pelo título do vídeo ou por sua descrição

Comentários

Anônimo disse…
Podem reparar, sempre que se fala em manifestação, tem a CPI dos ônibus no meio! Por essa e outras, essa cpi deveria ser suspensa permanentemente! Só gera baderna!

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