FUX ABANDONA PLENÁRIO DO STF DURANTE CRÍTICAS DE GILMAR À LAVA JATO
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(crédito: Getty Images) |
Postagem publicada à 1h31 desta sexta-feira, 17 de outubro de 2025.
Gilmar fez críticas à Lava Jato durante sessão e leu
mensagens trocadas entre procuradores, os chamando de cretinos; Fux levantou-se
da cadeira e deixou o plenário para não mais retornar.
O embate entre os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux durante
o intervalo do julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) de quarta-feira
(15) se estendeu durante a sessão no plenário do tribunal.
O Supremo julgava um processo sobre os valores obtidos
através de condenações em ações públicas na Justiça do Trabalho não serem
destinados a um fundo específico, como prevê a legislação
Gilmar usou o caso para renovar suas críticas à Lava Jato,
lendo mensagens trocadas entre procuradores e acusando-os de cretinos. Fux, com
quem havia discutido havia minutos, levantou-se da cadeira e deixou o plenário
para não mais retornar.
O decano do Supremo fez a ligação entre os dois temas ao se
recordar que, durante a Lava Jato, os procuradores responsáveis pela
investigação decidiram criar um fundo bilionário, bancado com recursos
recuperados da Petrobras e administrado pela força-tarefa para patrocinar
projetos de cidadania e anticorrupção.
"O principal exemplo de desvio flagrantemente ilegal de
recursos que deveria servir à recomposição de danos de atos ilícitos é, sem
dúvida, o que se observou no âmbito da tal Operação Lava Jato, em que foram
verificadas até mesmo tentativa de apropriação de verbas bilionários com
criação de fundos que seriam administrados pelos procuradores de
Curitiba", disse.
"O Brasil produziu, presidente, nesse período de Lava
Jato e quejandos -e é uma singularidade brasileira, uma jabuticaba– um tipo de
combatente, ministro Zanin, de corrupção que gosta muito de dinheiro. É uma
singularidade", completou.
Gilmar entrou no assunto por esse caminho, comparando o uso
irregular de recursos que deveriam ir a um fundo público. Citada a Lava Jato, o
ministro passou a ler mensagens trocadas entre procuradores e avançar sobre
temas diversos ao processo em julgamento.
Ele disse que procuradores tentaram montar um esquema
internacional para compartilhamento ilegal de provas, citou "entrega de
provas em saco de supermercado" e chamou a gestão do ex-chefe da PGR
(Procuradoria-Geral da República) Rodrigo Janot de "triste memória".
O voto de Gilmar durou pouco menos de 50 minutos. Fux deixou
o plenário do Supremo logo no início. Após o decano do tribunal terminar sua
fala, foram feitas poucas intervenções e o presidente da corte, Edson Fachin,
encerrou a sessão.
Um ministro afirmou à Folha, sob reserva, que a retirada de
Fux foi percebida pelos colegas como um ato de repúdio a Gilmar. O clima na
corte seguiu tenso nesta quinta-feira (16). Gilmar e Fux, procurados, não se
manifestaram.
Uma hora antes do embate silencioso no plenário, Gilmar e Fux
tiveram um duro diálogo em uma das salas do STF anexas ao plenário, como
revelou a colunista Mônica Bergamo.
No intervalo da sessão, pouco depois das 16h, Gilmar
questionou Fux, de forma irônica, sobre ele ter suspendido o julgamento de um
recurso em que Sergio Moro tenta reverter decisão que o tornou réu pelo crime
de calúnia contra o próprio Gilmar.
O placar da Primeira Turma estava em 4 a 0 contra Moro. Fux
pediu mais tempo para analisar o processo. De acordo com relatos da conversa,
Gilmar disse a Fux: "Vê se consegue fazer um tratamento de terapia para se
livrar da Lava Jato".
Em seguida, ele afirmou que o colega deveria
"enterrar" o assunto "do Salvador", referindo-se a um
ex-funcionário do gabinete de Fux, José Nicolao Salvador, citado numa proposta
de delação premiada na década passada, e demitido pelo magistrado em 2016.
De acordo ainda com relatos, Fux reagiu. Respondeu que tinha
pedido vista do caso de Moro para examiná-lo melhor e que também estava
contrariado com Gilmar, que falaria mal dele em diversos lugares e ocasiões.
Gilmar afirmou que isso era verdade, mas que falava mal de
Fux publicamente, e não pelas costas, por considerá-lo uma figura lamentável. E
deu como exemplo o julgamento de Jair Bolsonaro, dizendo que Fux "impôs
aos colegas [da Primeira Turma] um voto de 12 horas que não fazia o menor
sentido", finalizando por absolver o ex-presidente e "condenar o
mordomo [o tenente-coronel Mauro Cid, por tentativa de abolição do Estado
democrático de Direito]", o que teria deixado "todo mundo"
chateado.
Fux, segundo ainda relatos, defendeu seu voto, afirmando que
era o que tinha que fazer diante do que entendia ser um massacre sofrido pelos
réus da trama golpista.
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Com informações Folhapress.
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