PT CORTA NA PRÓPRIA CARNE POR ELEIÇÃO, AO AFASTAR ACUSADO DE ELO COM PCC

 afastamento do deputado Luiz Moura por 60 dias – o que na prática significa que ele não terá legenda para concorrer nas eleições deste ano – revela que o PT decidiu agir rápido, mesmo que tenha de cortar na própria carne, para evitar que graves suspeitas respinguem em seus candidatos nas eleições.
As duras medidas contra o deputado que participou de uma reunião em que, segundo a polícia, estavam integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), seguiram recomendação do comando nacional do partido, preocupado com as campanhas do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo paulista e da presidente Dilma Rousseff, pela reeleição.


Divulgação/Alesp
PT abre investigação para apurar elo de Luiz Moura com o PCC

“A acusação era tão grave que exigia uma pronta resposta. O PT não tem complacência com malfeitos. Essa era uma decisão que São Paulo esperava que o partido tomasse”, disse o presidente estadual do PT, Emidio de Souza.
Antes, ele conversou com dirigentes nacionais – entre eles o presidente do PT, Rui Falcão – que apoiaram a suspensão, a cassação da legenda para concorrer, a abertura de um processo disciplinar e, possivelmente, a rápida expulsão de Luiz Moura, que terá direito a ampla defesa num cenário amplamente desfavorável a ele.
“Foi uma decisão segura. O PT não tem tolerância com coisa mal feita. Queremos o melhor para a população e vamos dar o exemplo dentro de casa”, afirmou Emidio, sinalizando uma guinada na postura do partido diante de suspeitas de desvios morais e éticos. Até quarta-feira da semana passada o cenário era outro: a bancada inteira e vários líderes de outros partidos adversários do PT se solidarizaram com Moura, considerando que ele estava sendo acusado injustamente.
O PT é um partido escaldado e não quer repetir os erros que o levaram a retardar em 13 anos sua chegada ao poder. Em 1989, a direção só reagiu às suspeitas de relação de filiados com o grupo que sequestrou o empresário Abílio Diniz depois da derrota nas urnas, provocada, entre outros fatores, pelo episódio. Desde 2002, a cada eleição, o partido é surpreendido por denúncias. O afastamento de Moura e do deputado federal André Vargas (PR), ligado ao doleiro Alberto Youssef, sinalizam o fim da tolerância com suspeitas, especialmente em períodos próximos às eleições.
No caso do deputado paulista, as suspeitas respingariam de forma contundente na campanha de Padilha, que enxergava no crescimento do PCC o calcanhar de Aquiles do governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin, do PSDB. As duas décadas do tucanato no poder em São Paulo coincidem com a fase de crescimento da facção que comanda o sistema prisional e, das cadeias, semeia o caos na segurança e exerce a hegemonia sobre tráfico de drogas e os grandes roubos ao patrimônio.
Emidio disse que a punição é cirúrgica, ou seja, não se estenderá para outros membros do grupo, como o vereador Senival Moura, irmão de Luiz e chefe do clã. Senival não receberá veto e, em tese, pode se candidatar a deputado federal, como planejara. Também não alcançará o secretário de Transportes da Prefeitura, Jilmar Tatto, aliado que se serve do prestígio dos Moura para formar o arco de um reduto eleitoral alicerçado nas atividades de transporte alternativo em que estão incluídos os redutos eleitorais das zonas Leste e Sul, na periferia da capital e demais municípios da região metropolitana. Tatto investiu R$ 200 mil numa dobradinha com Moura em 2010.
Surpreso
A decisão da executiva petista pegou Luiz Moura de surpresa. Antes, ele havia se explicado na reunião da executiva e protocolado um ofício no Ministério Público Estadual em que pedia para ser investigado. Disse mais uma vez que não tem relação com o PCC e afirmou que, por causa da disputa eleitoral, seu nome foi incluído no segundo Boletim de Ocorrência por ordem superior ao delegado do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) encarregado do caso, conforme este teria dito aos operadores de transporte levados para a delegacia depois da reunião de 17 de março.
“Não acredito que meu partido vá me condenar por coisas que não devo”, disse ele, momentos antes do anúncio do presidente do partido. O deputado lembrou a postura histórica do partido na defesa da verdade, dos pobres e da dignidade de quem é acusado sem culpa e voltou a sustentar que não aceitaria qualquer punição (“eu estaria assumindo uma culpa que não tenho”). Afirmou que lutaria em todas as instâncias partidárias e legais para preservar a filiação e o mandato. “Quem fala a verdade sem gaguejar e olha nos olhos não teme”, afirmou.
Luiz Moura disse que se a decisão do partido fosse política, ainda assim “teria que ser fundamentada. E não há nada contra mim. Nem o PSDB me acusou”, lembrou. O deputado sustentou que estava na reunião para fazer a interlocução entre os profissionais de transporte e o poder público e que jamais discutiria a hipótese de queima de ônibus, a suspeita que levou a polícia à sede da Transcooper, na Zona Leste. Ele fez questão de frisar que os suspeitos que a polícia afirmou pertencerem ao PCC entraram e saíram pela porta da frente do Deic.
A reação de Moura agora é uma incógnita. Suspenso, não poderá disputar e, enquanto não for expulso – a medida mais grave que o partido ainda pode tomar –, exercerá o mandato nos próximos sete meses como um deputado avulso. Seus assessores informaram que ele ficou muito chateado e que, a partir de agora, vai reavaliar todo o cenário.
Nesta terça-feira ele deverá prestar esclarecimentos à Comissão de Ética da Assembleia Legislativa. Depois, ouvirá os conselhos do irmão vereador, Senival, e anunciará o caminho a tomar. Uma década após a reabilitação de um passado criminoso na juventude, esse é o segundo grande desafio de sua vida. Ferido de morte politicamente, o deputado está numa encruzilhada com duas alternativas: a resignação ou a reação.

 Vasconcelo Quadros - iG São Paulo

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