ENGRENAGEM DA FARSA:LEIA DE COMO O CICLISTA LANCE ARMSTRONG PASSOU DE HERÓI DO ESPORTE A LADRÃO DE BICICLETA
Reportagem de Alexandre Salvador, publicada em edição impressa deVEJA
A ENGRENAGEM DA FARSA
O ciclista americano Lance Armstrong, sobrevivente de um câncer, era um herói – hoje não passa de um ladrão de bicicleta
Sete vezes campeão da mítica Volta da França, o ciclista norte-americano Lance Armstrong, de 41 anos, tem hoje um único título, o de maior enganador da história do esporte. Na semana passada, a União Ciclística Internacional acatou a decisão da Agência Americana Antidoping (Usada) e, além de subtrair as conquistas de Armstrong, tratou de bani-lo de qualquer atividade esportiva profissional.
Há duas semanas ele tinha perdido o patrocínio da Nike. Deixou também o comando de sua fundação, a Livestrong (aquela das pulseirinhas amarelas), a fachada pela qual ele exibia a tenacidade de um sobrevivente de câncer nos testículos com metástase no cérebro, pulmões e abdômen.
Estima-se em 16 milhões de euros o tamanho das perdas do ex-campeão, que ficará eternizado como um mentiroso que fazia do cinismo a âncora de uma arrogância inigualável.
Sabe-se hoje, depois da leitura das 200 páginas da investigação da Usada, que tudo na vida adulta de Armstrong foi lorota, à exceção do câncer.
Seus pódios foram alcançados “por meio de um esquema maciço de doping em equipe”. Ele era o chefe de uma máfia tenebrosa, uma engrenagem de contrafação azeitada por conhecimentos detalhados do funcionamento do doping no organismo (veja o quadro).
O homem firme como uma rocha, atleta de compleição física privilegiada – que certamente venceria seus adversários se todos competissem, utopicamente, de modo limpo -, não passa, a partir de agora, de um ladrão de bicicleta.
A MÁFIA DAS DROGAS QUE AJUDOU ARMSTRONG
Um quem-é-quem dos especialistas que ajudaram Armstrong nas trapaças
Michele Ferrari
O médico italiano foi o criador do extenso programa de doping que beneficiou dezenas de ciclistas entre os anos 1990 e 2000. Começou a trabalhar com Armstrong em 1995. Forçava os membros da equipe do heptacampeão da Volta da França a participar da trapaça
Equipe médica
Os profissionais aplicavam injeções de hormônios nos ciclistas e monitoravam a transfusão de sangue. Mascaravam o doping antes que os atletas fossem submetidos a testes
Equipe técnica
Ao lado dos médicos, controlava a intensidade da enganação química, para mantê-la abaixo do limite detectável
Ciclistas
Aceitaram receber diariamente doses de substâncias dopantes. Eram os responsáveis pela manutenção do esquema, alertando sobre a chegada de oficiais das agências de controle de doping. Uma das estrelas era Tyler Hamilton, que depois se arrependeria da tramoia
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