APÓS VITÓRIA, DIREÇÃO DO PSOL PLANEJA GESTÃO DE ESQUERDA EM MACAPÁ


Após vitória, direção do PSOL planeja gestão de esquerda em Macapá
Senador Randolfe Rodrigues comemora resultado com o prefeito eleito Clécio Luís, um marco para o partido (Foto: Erich Macias/ Folhapress)
Rio de Janeiro – Primeiro triunfo eleitoral do partido em uma capital brasileira, a vitória do PSOL na disputa pela prefeitura de Macapá é encarada internamente como um grande desafio. A intolerância com a qual parte do partido reagiu aos apoios recebidos pelo candidato Clécio Luís durante o segundo turno – negociados com legendas como DEM e PSDB, entre outras – faz com que a direção nacional do PSOL afirme a necessidade de um maior debate interno com a militância sobre esse tema e reforce o discurso sobre a montagem de um governo de esquerda na capital do Amapá.
Alguns dirigentes ressaltam ainda que os apoios costurados por Clécio e pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), principal incentivador da candidatura vitoriosa, foram necessários para a obtenção da vitória contra um forte adversário, que detinha o controle da máquina da prefeitura: “A vitória em Macapá foi muito importante. Foi uma competição muito acirrada contra um governo que é considerado responsável por problemas graves de irregularidades, ilegalidades e corrupção. É um marco para o PSOL”, diz o deputado federal Ivan Valente (SP), presidente nacional do partido.
Valente diz esperar que as dificuldades internas vividas por conta dos apoios recebidos em Macapá sirvam para um processo de amadurecimento do partido: “O PSOL tem de aprender ainda a saber o que é um segundo turno, né? O segundo turno é uma coisa difícil, porque você não conta só com os seus aliados mais incondicionais. Você é obrigado a fazer política. Certamente, se não houvesse um apoio geral ao Clécio, ele não teria chegado à vitória eleitoral. Nós temos de enfrentar esse debate no PSOL, que é um debate muito puro, em relação a receber apoios”, diz.
O presidente do PSOL afirma que a montagem da equipe de governo de Clécio obedecerá a critérios políticos claros: “Acho que a montagem do secretariado deverá se dar da maneira como foi prometida pelo próprio candidato, que é não haver nenhum rebaixamento programático. A administração terá de ser transparente, limpa e com competência política. Acho que o Clécio vai chamar para o seu secretariado aqueles que tenham afinidade política e ideológica com o nosso programa. Claro que [fará a montagem] com uma amplitude maior do que só o PSOL porque tem vários partidos. Esse é um debate que começa agora, e a tendência é o partido convencer o candidato eleito e o PSOL de Macapá de que é preciso montar um secretariado mais afinado com a política e a ideologia do partido”.
Logo após a vitória de Clécio, o senador Randolfe Rodrigues garantiu, em conversas com jornalistas, que os apoios recebidos pelo PSOL no segundo turno não significarão um recuo na aplicação do programa do partido em Macapá: “É a primeira experiência de um partido recente, um partido que nasceu para ser alternativa política de esquerda, democrática e socialista. Não tenham dúvidas: o primeiro governo de capital do PSOL será um governo de esquerda. Será um governo para os mais pobres, para aqueles que mais sofrem na cidade”, disse.
Controle social
Para o ex-deputado Milton Temer, também dirigente nacional do PSOL, a gestão em Macapá terá de ser encarada como tarefa prioritária pela direção do partido: “Ela deverá estar sob um forte controle social. Eu tenho uma trágica memória da chamada disputa de poder local no PT que, no meu modo de ver, teve responsabilidade fundamental na guinada ideológica do partido. É muito importante estar atento a essa coisa no PSOL. Vai ser fundamental mobilizar a sociedade para que a gestão na prefeitura de Macapá não fique dependente de acordos espúrios para poder governar”.
Temer acredita que Clécio “certamente não terá nenhuma colher de chá do governo federal”, já que o PT apoiou seu adversário, o atual prefeito Roberto Góes (PDT): “Hoje, as prefeituras dependem muito dos repasses federais. Além disso, temos em vista que o Clécio já vai pegar a prefeitura com compromissos assumidos de maneira espúria pelo seu antecessor ao longo da elaboração do orçamento para o ano que vem. É evidente que [a gestão de Macapá] vai ser uma parada dura que vai depender muito da capacidade de mobilização social na sustentação do governo”, aposta.
Derrota em Belém
A derrota de Edmilson Rodrigues em Belém, onde também ocorreu uma crise interna ao PSOL causada pelos apoios recebidos no segundo turno – desta vez, vindos do PT – é minimizada pelos dirigentes do partido: “A derrota em Belém foi, de uma certa forma, o resultado de uma operação muito complexa. Havia toda a força da direita do Pará em cima do outro candidato e não era mesmo para o PSOL ganhar. É lamentável, mas o fato é que nós temos força relativa, temos poucos recursos”, diz Temer.
A vitória política, apesar da derrota eleitoral, é ressaltada pelo próprio Edmilson: “Consideramos nosso resultado aqui em Belém bastante vitorioso. O PSOL teve um minuto de televisão contra um candidato que tinha o apoio de dez partidos. Chegamos em primeiro lugar no primeiro turno e ainda fizemos quase 44% dos votos sem recursos. O resultado é uma vitória política, embora não tenha sido possível conquistar a vitória eleitoral propriamente dita”, disse o candidato.
Itaocara
Milton Temer celebra também a primeira vitória da história do PSOL na disputa por uma prefeitura – capital e interior confundidos – obtida com Gilcimar Sampaio no pequeno município fluminense de Itaocara: “Estou otimista, pois o Gilcimar tem uma tradição de luta antiga. É um sujeito firme e acostumado a ralar no áspero porque é um camponês que veio da terra, é alguém que trabalhou sempre em condições adversas. E, de repente, ele tem uma energia que nós urbanos não temos para enfrentar as grandes dificuldades. O PSOL tem muitas esperanças no trabalho dele”.

Comentários

VEJA AS DEZ POSTAGENS MAIS VISITADAS NOS ÚLTIMOS 7 (SETE), DIAS