Orlando Silva agora vai cantar em outra freguesia Ministro do Esporte, acusado de participar de suposto esquema de fraudes com ONGs, não resiste a pressões e cai




FONTE; O DIA ON LINE
Brasília - Orlando Silva (PCdoB) deixou ontem o ministério do Esporte depois de doze dias de crise, aumentando a lista dos que deixam o primeiro escalão do governo Dilma Rousseff por envolvimento em escândalos de corrupção — esta é a sexta demissão desde junho, quinta por desvio de dinheiro público. “Decidi sair do governo para que possa defender minha honra e meu partido”, declarou Silva. “Minha honra foi ferida.”

Silva foi acusado pelo policial militar do Distrito Federal João Dias Ferreira, dono de duas ONGs e ex-militante do PCdoB, de participação direta nos convênios fraudulentos entre ONGs e o Programa Segundo Tempo, promovido pela pasta para incentivar o esporte entre jovens. Para o ex-ministro, ele foi injustiçado. “Saio com o sentimento do dever cumprido. A injustiça está em calúnias ganharem ar de veracidade.”

O ex-ministro avalia ter sofrido “ataque baixo e agressão vil” e voltou a dizer que nenhuma prova foi apresentada contra ele. “Examinamos essa crise criada nos últimos dias, os ataques que sofri. Eu reafirmei para a presidenta que não há, não houve nem haverá quaisquer provas que me incriminem, diferentemente do que foi publicado em uma revista semanal (‘Veja’). Fato nenhum houve que possa comprometer a minha honra, fato nenhum houve que possa comprometer a minha conduta ética", afirmou Silva.

“Falei com a presidenta da minha revolta com esse linchamento público que eu vivi, mas a tranquilizei afirmando que em poucas semanas a verdade virá à tona e ficará claro para a sociedade brasileira que não há nada que possa me incriminar”, relatou sobre o encontro que teve com Dilma.

Orlando Silva chegou ao ministério em 2003 e ocupou diversas secretarias. Três anos depois, assumiu o comando da pasta. Entre os desafios superados pelo ex-ministro estão a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, e as conquistas do País como sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Passo a passo da crise no Esporte

DENÚNCIA
Baiano, Orlando Silva ocupava o Ministério do Esporte desde 2006. Participava da abertura dos jogos Pan-Americanos no México, dia 10, quando denúncias do PM delator João Dias Ferreira publicadas pela revista ‘Veja’ o obrigaram a retornar rapidamente ao País.

ESCÂNDALO
De acordo com a publicação, Orlando Silva comandaria esquema de desvio de verbas do Programa Segundo Tempo que irrigou os caixas do PCdoB em R$ 40 milhões.

DEFESA
Na tentativa de defender-se e negando as acusações, Orlando compareceu por duas vezes a comissões na Câmara e no Senado. Mas as explicações não convenceram e a oposição começou a pressionar por sua saída.

SOBREVIDA
Após reunir-se no dia 21 com a presidenta Dilma Rousseff, que retornara de viagem à África, Orlando conseguiu se manter no cargo apesar das pressões.

GRAVAÇÕES
Dia 23, novas denúncias de ‘Veja’ complicaram ainda mais o ministro. Funcionários do Esporte Fábio Hansen e Charles Rocha apareceram em trechos de diálogo com o PM delator ensinado-lhe a burlar cobrança por fraudes. As gravações foram entregues à Polícia Federal na segunda-feira e, no dia seguinte, o STF aceitou pedido de investigação ao ministro.

Nº 2 assume interinamente. PCdoB quer Aldo Rebelo 

O Ministério do Esporte vai ser ocupado interinamente por Waldemar Manoel da Silva de Souza, até então secretário executivo e nº 2 da Pasta. De acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Dilma Rousseff ainda não se definiu pelo nome do substituto de Orlando Silva.

O pedido de demissão de Silva será publicado hoje no “Diário Oficial da União”. A gota d’água para a sua queda foi a abertura de inquérito contra ele ordenada pelo Supremo Tribunal Federal. O PCdoB, porém, deve continuar no ministério e tenta emplacar o ex-ministro e deputado federal Aldo Rebelo (SP) para o lugar de Silva.

Rebelo é um nome que agrada tanto à bancada quanto ao Planalto, mas ainda não foi apresentado oficialmente e não era cotado pela presidenta Dilma, que quer jogar duro no combate a irregularidades e não deseja se submeter às vontades da Fifa e CBF.

A ex-prefeita de Olinda e deputada federal Luciana Santos, que era cotada para assumir o Esporte no começo do governo Dilma, pode ser a escolha da presidenta. Luciana foi preterida porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a permanência de Orlando Silva na função para facilitar a continuidade dos projetos envolvendo a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Sucesso do homônimo bem que poderia servir de trilha sonora da queda de Orlando

Orlando Silva, do Esporte, ao contrário do cantor Orlando Silva das Multidões, não faz mais sucesso. Como consolo, dado o desfecho da crise que culmina com a sua queda, apesar de negar veementemente todas as acusações, inspirado no seu homônimo, poderia Orlando sair do governo cantarolando um dos grandes sucessos de seu homônimo, ‘Eu chorarei amanhã’.

Como sugeriu o Informe do DIA na semana passada, outros sucessos do seu homônimo, como ‘Atire a primeira pedra’, bem que poderiam embalar os momentos de aflição vividos pelo ex-ministro. Afinal, desde que as denúncias do PM-bomba João Dias Ferreira vieram à tona, acusando Orlando de comandar suposto esquema de desvio de dinheiro para o seu partido, o PCdoB, ele tentou em vão defender-se no Congresso.

‘Juramento falso’ (ou não) — outro hit do Orlando das Multidões — acontece é que as explicações de Orlando não conveceram os parlamentares da oposição nem os próprios aliados. Sobretudo, depois que gravações de conversas do PM delator com assessores do Esporte foram divulgadas. Para complicar ainda mais o seu infortúnio, veio a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de investigá-lo. Foi a gota d’água para que a presidenta Dilma encerrasse seu ciclo na pasta.

Agora, fora do governo, resta a Orlando Silva persistir nas negativas de irregularidades ou, como na canção do homônimo, admitir: Errei, erramos — “Venho ao tribunal da minha consciência/Como réu confesso pedir clemência/O meu erro é bem humano/É um crime que não evitamos/Este princípio alguém jamais destrói/Errei, erramos".

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