NO ENCONTRO DE CARNAVAL REALIZADO PELO BLOG DO SIDNEI REZENDE E A PUC-RIO: COMPOSITORES DISCUTIRAM RUMO DA ARTE DE VERSAR.



Letra, melodia e polêmica foram os ingredientes que temperaram o último dia do seminário "Encontros de Carnaval", realizado na PUC-Rio. Na mesa, Gusttavo Clarão, compositor e presidente da Viradouro e os também compositores Sérgio Procópio e Claudio Russo, blogueiro do SRZD-Carnaval, argumentaram sobre os rumos da arte de compor versos em tempos em que competir numa disputa de sambas-enredo se tornou um processo caro e refém de restrições das sinopses de enredo elaboradas pelos carnavalescos. O debate foi guiado por Hélio Ricardo Rainho, pesquisador e mentor da iniciativa.

Na plateia, Nilcemar Nogueira, também blogueira do SRZD-Carnaval e Luciana Yegros, coreógrafa da comissão de frente da Viradouro, prestigiavam o evento. Como representante da Supervia, Thiago Neri abriu o evento promovido pelo site mencionando Paulo Bejnamim de Oliveira, popular Paulo da Portela, como o pioneiro na tradição de tocar samba nos trens.
Segundo o dirigente, Marquinhos de Oswaldo Cruz procurou a empresa em 1998, ano em que o grupo privado assumiu a administração das ferrovias da região metropolitana do Rio de Janeiro, para resgatar o evento "Trem do Samba", idealizado pelo sambista. A edição 2012 desta iniciativa será realizada no dia 3 de dezembro, um dia após o Dia Nacional do Samba, devido a grande procura da população por esta oportunidade de entretenimento e legitimação cultural.
Foto: Ary Delgado
Em seguida, o idealizador do seminário, Hélio Ricardo Rainho, fez uma viagem ao tempo para citar a origem dos sambas-enredo que, segundo ele, não surgiram simultaneamente com as escolas de samba. "O primeiro samba-enredo oficial, como consta no livro escrito por Candeia e Isnard Araújo, foi "Teste ao Samba", da Portela, apresentado em 1939. Porém, nas pesquisas realizadas pelo jornalista Ségio Cabral em veículos de comunicação antigos, há um samba da Unidos da Tijuca de 1933 que, segundo a narrativa da imprensa, descrevia elementos referentes ao tema que a escola apresentava", relembrou.
Com uma indagação a Sérgio Procópio, compositor e integrante da Velha-Guarda da Portela, Hélio incitou resgates saudosistas em relação ao ato de criar inerente aos poetas do samba. O veterano portelense comentou que os baluartes da azul e branca sempre foram sua fonte de consciência para compor sambas memoráveis. "Sempre escrevo priorizando o melhor para a escola. Hoje em dia não é assim. É muito triste o fato de os sambas-enredo não permanecerem na memória das pessoas por não terem uma boa letra", lamentou.

Foto: Ary DelgadoQuestionado por Nilcemar Nogueira sobre a limitação que a sinopse de enredo supostamente impunhara sobre a criação dos sambas, Sérgio concordou que o intenso apego dos compositores aos trechos da narrativa do enredo "matou" a poesia. Para o compositor, algumas parcerias cometem o equívoco de copiar palavras da sinopse sem restrições e encarar o carnavalesco como um parceiro na composição.

Logo após, Claudio Russo, finalista na Renascer de Jacarepaguá e tricampeão de sambas na Beija-Flor, destacou a polêmica dos chamados "sambas de condomínio" e as fusões de samba-enredo, fato que muitas prejudica o quesito quando a ação não é feita com base em critérios musicais. "Cito a Beija-Flor como um exemplo de escola a ser seguida, pois é referência na valorização da comunidade. Na escola existe uma disputa de sambas das mais agitadas do Carnaval porque que a escolha dos classificados é feita por pessoas que entendem de música. Em Nilópolis, a junção de sambas tem dado certo devido a este fator", exaltou.
Já o presidente da Viradouro e vitorioso compositor em muitos Carnavais, afirmou que não é favorável às fusões de sambas, porém, em determinados casos, é obrigado a priorizar o melhor para a escola. Thiago Neri, superintendente da Supervia, direcionou uma pergunta ao dirigente a respeito da verificação da viabilidade comercial de um enredo sem que haja uma descaracterização da escola e, consequentemente, na composição dos sambas. De forma divertida, Clarão disse: "Se você quer me oferecer um enredo patrocinado, vamos sentar lá fora em particular e conversar. Não precisa explanar aqui para o público".

Ainda sobre finanças, Claudio Russo frisou o custo de uma parceria para promover um samba-enredo na disputa. "Com o tempo, o samba foi perdendo espaço. Ninguém entra numa disputa de sambas com menos de R$ 50 mil. É por isso que segmentos que as parcerias são grandes, pois precisam ratear os custos. A solução que indico é que as escolas abram suas quadras para a competição sem cobrar ingressos, vetem o uso de elementos cênicos pelas torcidas e garantam espaço para todos os segmentos da agremiação participarem", ressaltou. Em seguida, Nilcemar Nogueira ironizou o tamanho das parcerias citando o "compositor bom de letra, aquele que assina o cheque e não escreve nada".

A ilustre convidada também brincou com os compositores após o superintendente da Supervia, Thiago Neri, ter revelado, após uma pergunta da plateia, o interesse da empresa em expandir o calendário de eventos ligados ao samba nas estações de trem, muitas delas ligadas às agremiações, como Mangueira e Imperatriz Leopoldinense. "Gusttavo, o enredo de 2014 já está garantido. Estou te ajudando. O Claudio e o Seginho vão fazer o samba", disse, conquistando risadas do público.

Com o encerramento luxuoso de Sérgio Procópio, que acaba de lançar seu primeiro CD, os convidados se empolgaram ao cantar "Eu sou o samba" junto com o portelense. O coro afinado acompanhou os acordes de cavaquinho. Esta foi a prova de que falta muito para o samba-enredo cair por terra.
Fonte: Sidnei Rezende.

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