ADOLECENTES NÃO TEM APOIO PARA LÍDAR COM REDES SOCIAIS, DIZ PESQUISA
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| (crédito: arquivo ABC) |
Postagem publicada à 1h20 desta segunda-feira, 12 de maio de 2025.
Uma pesquisa realizada em abril mostrou que 90% dos brasileiros maiores de 18 anos que têm acesso à internet acreditam que adolescentes não recebem o apoio emocional e social necessário para lidar com o ambiente digital, em especial as redes sociais. Foram ouvidos no levantamento mil brasileiros conectados de todas as regiões e classes sociais, com 18 anos ou mais.
A margem de erro é de 3 pontos percentuais para o total da
amostra, considerando um intervalo de confiança de 95%.
Segundo a pesquisa, 9 em cada 10 brasileiros acreditam que os
jovens não têm apoio emocional e social suficiente, enquanto 70% defendem a
presença de psicólogos nas escolas como caminho essencial para mudar esse
cenário.
O levantamento foi realizado pelo Porto Digital, em parceria
com a Offerwise, empresa especializada em estudos de mercado na
América Latina e no universo hispânico, a partir da
repercussão de um seriado que abordou o lado sombrio da juventude imersa no
mundo digital e o abismo entre pais e filhos.
Para 57% dos entrevistados, o bullying (agressão intencional
e repetitiva, que pode ser verbal, física, psicológica ou social, para
intimidar uma pessoa) e violência escolar são um dos principais desafios de
saúde mental. Também estão entre os principais desafios atualmente enfrentados
pelos jovens a depressão e a ansiedade (48%) e a pressão estética (32%).
“O cuidado com a juventude deve ser um compromisso
compartilhado, que envolve escolas, famílias, empresas e governos. Essa
pesquisa evidencia que não basta discutir inovação tecnológica – é preciso
humanizá-la e colocá-la a serviço da sociedade”, disse. “O futuro da inovação
está diretamente ligado à forma como cuidamos dos nossos jovens. Não basta
impulsionar avanços tecnológicos — é fundamental criar pontes entre a
tecnologia e a transformação social real”, afirmou.
A pesquisa mostra que uma das ferramentas usadas pelos pais é
o controle do tempo de navegação na internet. Segundo o estudo, entre crianças
de até 12 anos, o controle tende a ser mais rígido e constante, inclusive com o
uso de mecanismos de monitoramento. No entanto, apenas 20% dos pais responderam
que pretendem usar futuramente alguma ferramenta de controle.
Para o diretor-geral da Offerwise, Julio Calil, o cenário
mostra a necessidade de desenvolvimento de espaços de acolhimento e orientação,
tanto para os pais quanto para os filhos, como alternativas para proteção no
ambiente digital.
“Os resultados da pesquisa nos mostram que a população
enxerga a necessidade de um esforço conjunto para criar espaços mais seguros e
de apoio nas escolas, especialmente diante do uso precoce e intenso das redes
sociais”, apontou.
Plataformas
Recentemente, as principais plataformas digitais modificaram
suas regras para restringir ou excluir a moderação de conteúdos publicados na
internet, dificultando a identificação de contas ou publicações com conteúdos
considerados criminosos.
“Essa decisão diminui a responsabilidade social das big
techs, das corporações, das organizações controladoras das plataformas. Isso
tem um impacto direto na proliferação de ódio, desinformação, conteúdos
prejudiciais em diversas camadas, especialmente, entre populações vulneráveis.
Muito jovens ficam mais expostos a conteúdos inadequados sem essa moderação e,
claro, quando se trata de desinformação, isso ataca instituições e a própria
democracia”, avaliou.
Na outra ponta, o Supremo Tribunal Federal (STF) está
julgando a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei
12.965/2014), segundo o qual, provedores, websites e redes sociais só podem ser
responsabilizados por conteúdo ofensivo ou danoso postado por usuários caso
descumpram uma ordem judicial de remoção.
Ph.D. em educação matemática pela Universidade da Califórnia
e mestre em psicologia cognitiva, Meira pontua que a ausência de uma decisão
sobre o tema pode levar a uma potencial sobrecarga judicial.
“Pode haver um aumento considerável de casos judiciais
justamente pela falta dessas ações preventivas. Então, é possível preservar a
liberdade de expressão com moderação responsável. A meu ver, o posicionamento é
uma rediscussão do Artigo 19 do Marco Civil da Internet para fortalecer o que
seria a proteção social, não só de crianças e jovens, mas de avaliar o que se
faz com o grupo de idosos hoje, vulnerabilizados por todo um conjunto de
ataques, de cooptação a determinados tipos de ideologia”, acrescentou.
Além disso, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei
2.630 de 2020, conhecido como PL das Fake News, principal proposta de regulação
das plataformas digitais. O texto já foi aprovado pelo Senado e está travado na
Câmara dos Deputados. A proposta trata da responsabilidade civil das
plataformas e tem elementos de prevenção à disseminação de conteúdos ilegais e
danosos a indivíduos ou a coletividades.
“Regular essas plataformas é vital para que tenhamos a
manutenção de um espaço social online, produtivo e saudável para todas as
pessoas - principalmente jovens e crianças que têm menos mecanismos individuais
de proteção”, afirmou. “Aqueles que defendem a desregulamentação total das
redes certamente têm uma ideia frágil e inconsistente do que é liberdade. Uma
liberdade restrita sem controle social destrói, degenera as bases da nossa
capacidade de construir e de fazer evoluir uma civilização. Então, claramente,
a autorregulação é insuficiente, especialmente em se tratando de empresas que
buscam lucro através, por exemplo, da publicidade, do comércio, enfim, as
grandes plataformas, as big techs”, alertou.
Enquanto não há uma decisão sobre o tema, o professor
considera necessário construir um ambiente de confiança, na escola, na família
e nos demais espaços onde crianças e jovens são acolhidos para evitar que
crianças e adolescentes acabem sendo submetidos a situações de disseminação de
ódio e bullying, entre outras.
“O principal é a construção da confiança entre as pessoas.
Sem a construção desses laços, desse relacionamento baseado na confiança,
qualquer dessas estratégias não terá os efeitos desejados. A primeira
orientação é estabelecer um diálogo aberto. Então, pais, mães, filhos e filhas,
eles têm que, de alguma forma, estabelecer, manter, ou evoluir essa
interlocução confiante.
De acordo com Meira, esse ambiente propicia a realização de
conversas sobre os riscos online e também sobre a forma como se dão os
relacionamentos com e nas redes sociais. "Eu entendo que essas são
conversas íntimas que, baseadas na confiança, podem progredir de forma
saudável”, afirmou.
Outro ponto defendido pelo professor é o estabelecimento de
limites claros sobre o uso da internet e de redes sociais como, por exemplo, de
tempo e de tipos de relacionamento.
“Isso não vai ser realizado, não vai ser cumprido se não
existir um diálogo aberto em que crianças e adolescentes entendam que existem
conteúdos inadequados e que precisam ter senso crítico, ter seu pensamento e
formas de raciocínio. No entanto, nessa faixa etária, eles simplesmente ainda
não conseguem capturar os riscos. Por isso, precisam de um adulto que tenha
pelo menos uma intuição mais apurada para identificar formas de cyberbullying,
de exposição excessiva, de conteúdos inadequados, de contato com estranhos
entre outros tipos de relacionamentos”, disse.
Luciano Meira ressalta que pais e responsáveis tendem a
simplesmente restringir ou proibir o uso de redes sociais, sem um diálogo
consistente sobre o porquê da decisão.
“Sinto dizer que os responsáveis o proíbem de uma forma muito
autocrática e que talvez não surta efeito, porque não se tem controle absoluto
sobre o que acontece na vida de absolutamente ninguém. Você pode estabelecer
uma forma de monitoramento participativo, em que busca conhecer, e esse
monitoramento pode ser apoiado, do ponto de vista técnico, inclusive por
softwares, com aplicações computacionais que você instala no notebook, no
computador de mesa ou no dispositivo móvel dessa criança ou jovem para ter acesso
ao que está acontecendo nesses dispositivos”, sugeriu.
Por fim, o professor afirma
defende que não se deve deixar de lado o mundo real e exemplifica com a
legislação que proíbe o uso de celulares nas escolas.
“Mais recentemente, as escolas têm visto alguma movimentação
em torno das crianças voltarem a construir relações no mundo físico. Por
exemplo, ao proibir o uso de dispositivos nas escolas, convidam as crianças
para uma existência que é também offline. No final das contas, um equilíbrio é
necessário entre esses mundos para que no final a gente tenha a construção de
relacionamentos sociais mais duradouros e que ganhe sustentação na confiança
entre as pessoas e não apenas em algoritmos”, concluiu.
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Com informações da Agência Brasil.






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