DEBATE DA GLOBO ENTRE NUNES E BOULOS TEM BRIGA POR ESPAÇO E TROCA DE ACUSAÇÕES




Postagem publicada à 00h20 deste sábado, 26 de outubro de 2024.

Podendo circular livremente pelo cenário, os candidatos ficaram próximos várias vezes ao longo do debate, e se provocaram sobre isso. Nunes questionava se Boulos queria “invadir” seu espaço e pedido de “licença para caminhar”, como aconteceu no quarto bloco. “Fique à vontade”, respondeu o candidato do PSOL, que questionou se o oponente estava nervoso pela proximidade.

Primeiro a falar, Nunes gastou quase um minuto de sua fala inicial para falar sobre propostas para um novo mandato, caso seja reeleito no domingo (27). Já Boulos disse que queria “começar conversando com você”, dialogando diretamente com o eleitorado. Ele também andou pelo estúdio e mostrou, em um mapa no chão do cenário, onde vive, na periferia da zona sul.

Encontro foi o último entre os candidatos a prefeito de São Paulo antes do segundo turno.

Candidato à reeleição, focou o início do debate em fazer questionamentos a Boulos sobre segurança - aumento de pena para criminosos e descriminalização das drogas –, tema que já havia utilizado no início do debate anterior, na TV Record, no último sábado (19). O candidato do PSOL também usou uma conduta parecida, falando que ele representaria a mudança, citou novamente o apagão e criticou a concessão dos cemitérios da capital paulista. No terceiro bloco, ele também retomou o tema da máfia das creches.

Nunes e Boulos, mais uma vez, voltaram a trocar provocações e trouxeram temas de fora do escopo da disputa municipal, como o questionamento de Boulos a Nunes sobre se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - aliado do atual prefeito - fez tudo certo na pandemia, e a pergunta do candidato do MDB sobre o PSOL, partido do oponente, ter ido ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a saidinha de presos.

Ao longo do debate, cada um dos candidatos tiveram um direito de resposta por conta de ataques do adversário.

Aumento de pena

Na primeira pergunta do primeiro bloco, Nunes questionou Boulos sobre por que ele não foi favorável ao projeto de aumento de pena para criminosos na Câmara — o candidato do PSOL é deputado federal.

Boulos disse que não votou porque não estava na sessão por ter ido a reunião com o governo federal. “Não foi só nesse que não votei, não votei em outros na mesma sessão. Nesse momento, eu estava numa reunião no Palácio do Planalto com o presidente Lula. O esclarecimento já foi dado”, disse o candidato do PSOL.

Posteriormente, Boulos mudou de assunto e citou que se mudou do centro, onde nasceu, para o Campo Limpo, na zona sul, “por uma escolha de vida” e para aprender mais com a população. Em sua opinião, as pessoas querem mudança e que está preparado para governar a cidade.

Nunes lamentou Boulos não ter respondido sua pergunta sobre o aumento de pena e disse “ser lamentável uma situação dessa”.

Privatizações

Na sequência, o candidato do PSOL questionou o prefeito sobre a privatização dos cemitérios e perguntou quanto custava para fazer uma oração numa capela dos locais. Ainda citou a Enel e a Sabesp, como exemplo — negativos, para ele — de serviços concedidos à iniciativa privada.

Sobre o serviço funerário, o prefeito afirmou ser um dos piores da cidade enquanto era estatal. Ainda declarou que a tabela de preços da concessão é de 2019 e que todos que estão no CadÚnico têm atendimento gratuito e que há desconto de 25% para outras pessoas de baixa renda. Já em relação à privatização da Sabesp, afirmou ser fundamental para universalizar o saneamento básico na cidade.

Boulos voltou a perguntar sobre a oração numa capela e disse custar R$ 580. “Teve um caso inclusive lá em São Miguel de uma família que teve que fazer a oração de corpo presente na calçada do cemitério”, disse. E questionou Nunes se ele tinha se arrependido por optar pela privatização.

Para o prefeito, a concessão “é importante” e tem “um contrato rígido”. Ele ainda citou a privatização do Anhembi, “que gera emprego e renda”, e também a do Parque do Ibirapuera, afirmando que a prefeitura “não gasta nada” e ainda continua público.

“É assim que precisa governar, enxugando a máquina”, disse Nunes.

Câmeras

O tema abordado por Nunes na sequência foi o SmartSampa, e disse que o PSOL foi contrário ao sistema de câmeras na cidade. “Eu fiz o Smart Sampa, que é essa colocação das câmeras para combater a criminalidade. O PSOL entrou com ação judicial contra. Se você ganhar a eleição, você vai acabar com o Smart Sampa?”.

O candidato do PSOL disse que não apenas seu partido foi contrário, mas também o Ministério Público pelo programa ter problemas. “O Ministério Público barrou isso, e depois quando você corrigiu, fez as coisas direitinho como deveria ter feito desde o começo, foi liberado”. Boulos disse que, se eleito, pretende ampliar o programa.

Liberação de drogas

Questionado por Nunes se era favorável à liberação de drogas, Boulos disse que diferencia traficante de usuário. “Os traficantes são caso de polícia e os usuários não deveriam ser presos, mas, sim, tratados”, defendeu o candidato do PSOL.

O prefeito disse querer defender “o que está previsto na lei” e que Boulos sempre defendeu o aborto, a descriminalização de drogas e o fim da Polícia Militar. “Eu fico impressionado” e “quem tem duas caras é você”, disse Boulos, após ser questionado por Nunes por mudar seus posicionamentos no período eleitoral.

Pandemia

A Covid-19 e a vacinação também foram tema do debate. Boulos trouxe uma fala de Nunes, em que ele teria dito que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria feito tudo certo na pandemia.

O prefeito, por sua vez, afirmou que a cidade de São Paulo se tornou a “capital mundial da vacinação”. E, que, neste ano, faltou a vacina contra a dengue, “que esse governo não mandou”, em referência à gestão Lula, aliada de Boulos.

Boulos insistiu no tema e disse que subiria em sua rede social um vídeo em que Nunes falava sobre Bolsonaro na pandemia. Já o prefeito, afirmou que a vacina que ambos tomaram foi comprada pelo ex-presidente.

Saúde

No segundo o bloco, os candidatos deveriam escolher o tema para questionar o adversário. Boulos optou por saúde e perguntou a Nunes qual era o dinheiro disponível para a área nas contas da prefeitura.

“Não existe essa conta da forma que você coloca hoje”, respondeu o atual prefeito. “Nós temos hoje a Prefeitura de São Paulo com caixa saudável. Tudo que a gente tem está empenhado ou comprometido para os pagamentos. O saldo hoje deve estar em torno de R$ 22 bilhões. Não quer dizer que está com dinheiro livre”.

Trabalho

Ainda no segundo bloco, Nunes optou pelo tema trabalho para dialogar com Boulos, mas os candidatos acabaram falando sobre educação, focando na construção de unidades de Centro de Educação Unificado (CEU).

Boulos disse que o atual prefeito não fez nenhum. Nunes respondeu falando que “há 12 em obras”. “E, anteontem, soltei a licitação de mais seis CEUs, inclusive ali na Pedreira (bairro da zona sul). Não são só os 12 que a gente falou: serão 16, contando os que já estão em obras, já concluindo ou com obras contratadas”, disse.

Na sequência, Boulos relembrou o apoio que recebeu da candidata derrotada Tabata Amaral (PSB) e falou sobre a proposta incorporada de criar o “Jovem Empreendedor”.

Direito de resposta de Nunes

Boulos, fechando o segundo bloco, indagou diretamente a Nunes – ainda que ele não tivesse mais tempo para administrar – sobre suspeitas de corrupção em sua gestão.

“Por que a sua gestão superfaturou até garrafinha d’água no Carnaval? Você vir aqui falar que é contra a corrupção? Pelo amor de Deus”, disse.

A fala final de Boulos gerou direito de resposta a Nunes. “Guilherme Boulos foi condenado 32 vezes só agora no segundo turno da eleição”, disse, se referindo a direitos de resposta.

“Máfia das creches”

Na abertura do terceiro bloco, Boulos questionou o prefeito sobre o inquérito da “máfia das creches” e sobre ele ter supostamente recebido dois cheques por serviços prestados por sua empresa de dedetização. Mas os valores teriam ido para sua conta pessoal, e não a da companhia.

Nunes afirmou que Boulos estava mentindo e que ele já havia sido condenado pela Justiça Eleitoral por falar sobre o tema. Ainda afirmou que nunca teve nenhum indiciamento ou condenação.

O candidato do PSOL afirmou que o prefeito não respondeu ao seu questionamento e que quando falava que ele não trabalhava, “estava ofendendo aos professores”.  Boulos atuava como professor da rede pública.

Abertura de sigilo bancário

Boulos voltou a pedir para que Nunes abrisse seu sigilo bancário “para o povo de São Paulo”, assim como havia acontecido no primeiro debate entre os dois na TV Bandeirantes.

O prefeito voltou a afirmar que tem sua vida “absolutamente limpa”, citou que houve uma investigação do Ministério Público e que nada foi encontrado no processo sobre a empresa de dedetização.

O candidato do PSOL provocou Nunes por ele ter sido advertido por usar o celular e afirmou que ele é “uma criança que não sabe andar de bicicleta sem rodinhas”. Uma das rodinhas seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e a outra, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Atuação de Boulos no MTST

Nunes leu um processo de Boulos, enquanto ele atuava no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), quando foi levado para a delegacia por ter participado de um ataque contra a Polícia Militar.

Boulos afirmou que no dia, ele estava defendendo uma família durante uma desapropriação de terras em São Mateus, na zona leste.

“Esse caso aqui que ele citou que eu fui levado para a delegacia, sabe por que foi? Porque eu estava defendendo famílias sem teto em São Mateus, na zona leste, que estavam sendo despejadas e perdendo tudo. O Ricardo talvez não saiba o que é isso”, declarou Boulos. 

Ainda foi citado pelo prefeito um caso em que o candidato do PSOL teria depredado a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista.

Boulos, por sua vez, negou que tenha feito a depredação. E ainda afirmou que extremista seria Nunes, por andar com Bolsonaro e por ter dado tiro em “porta de boate”, um caso que aconteceu nos anos 1990.

Já o prefeito, disse que na ocasião da boate, apenas foi separar a briga de um amigo.

“Sobre esse negócio que ele falou aí de Embu, isso aí negócio de 20 anos atrás que não teve nem inquérito. Isso aí foi um problema que teve lá que eu fui separar, não existe nada, está lá o meu depoimento, não dei tiro em ninguém, não existe, o que eu fiz foi uma confusão que teve lá entre um amigo meu chamado Márcio que eu fui lá separar, foi só isso e mais nada”, disse Nunes. 


Cunhado de Marcola do PCC

O candidato do PSOL afirmou que Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da Secretaria de Obras da prefeitura, cresceu durante a gestão de Nunes. A irmã de Olivatto, morta em 2002, foi casada com Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC.

Já Nunes, disse que Boulos foi condenado por ter falado sobre o caso em seu programa eleitoral. Ainda afirmou que Olivatto entrou concursado na prefeitura em 1988 e que a irmã dele morreu há 22 anos.


Arcabouço fiscal

O prefeito questionou porque Boulos, enquanto deputado federal, votou contra o arcabouço fiscal — o teto de gastos do governo federal. E também mencionou a renegociação da dívida da cidade com a União.

“Eu recuperei a saúde financeira, resolvi a questão da dívida. E eu quero perguntar para o deputado Guilherme. Nós tínhamos uma dívida de R$ 25 bilhões, a cidade de São Paulo pagava R$ 280 milhões por mês. Eu fiz um acordo com o governo federal, assinamos em dezembro de 2021 com presidente Jair Bolsonaro e resolvemos essa dívida “, disse Nunes.

Já Boulos, afirmou que o prefeito “fez uma venda de patrimônio, do Campo de Marte para a União” e que quem resolveu a dívida foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de quem Nunes “fala tão mal”.

“Renegociou com a União e reduziu a dívida de R$ 79 bilhões para R$ 32 bilhões”, prosseguiu Boulos, falando sobre Haddad.

Direito de resposta de Boulos

Boulos conseguiu um direito de resposta após ter sido chamado de “criminoso” pelo prefeito.

Durante sua fala, voltou a acusar o prefeito de envolvimento com o “cunhado do Marcola” do PCC. E também falou sobre responsabilidade fiscal, afirmando que seu secretário da Fazenda seria uma pessoa que teria compromisso com as contas públicas.

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