Cabo que atirou em bandido preso jogou trabalho da PM na lama, diz comandante

Perícia encontra balas de uso da PM em terreno onde cabo atirou em assaltante já imobilizado

PMs atiram contra bandido imobilizado na Barra da TijucaTV GLOBO / REPRODUÇÃO

RIO — Peritos encontraram cápsulas de calibre .40, de uso da Polícia Militar, no terreno baldio onde PMs simularam um confronto com assaltantes, nesta terça-feira. No local, o cabo Maurício Fabiano, do 31º BPM (Recreio), atirou no pé de um assaltante já preso e imobilizado, e outro PM do mesmo batalhão, o cabo Pessoa, disparou contra um muro para indicar que teria havido confronto. A Corregedoria da PM quer saber agora se as balas utilizadas partiram de uma arma da corporação ou dos bandidos. A corregedoria da PM abriu processo para investigar também o autor desses disparos, além de já estar apurando a acusação de lesão corporal contra o cabo Maurício Fabiano.

A perícia no terreno ocorreu na manhã desta quarta-feira. Segundo informações do RJ-TV, da TV Globo, todos os policiais envolvidos no caso - do mesmo batalhão a que pertencem os acusados do desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro, ocorrido há quatro anos - vão ser novamente ouvidos pelos investigadores. O bandido ferido prestou depoimento nesta terça-feira, no hospital. Maurício Fabiano, que está há 11 anos na corporação, já está preso no Batalhão Especial Prisional da PM (BEP).

Os assaltantes presos são acusados de sequestrar uma mulher na Barra da Tijuca, na tarde desta terça-feira. Segundo a Polícia Civil, o bando já vinha aterrorizando moradores da região. O bandido atingido no pé seria do Morro do Chaves, em Barros Filho, na Zona Norte.

Imagens de um cinegrafista amador levadas ao ar pelo “RJ-TV” da TV Globo, nesta terça-feira, revelam que os policiais militares do 31º BPM mentiram ao descrever como resolveram o sequestro-relâmpago sofrido por uma mulher de cerca de 50 anos e seu sobrinho, menor de idade. Eles foram rendidos por quatro assaltantes na manhã do mesmo dia, na Barra da Tijuca. Os bandidos, pelas imagens obtidas pela Rede Globo, já tinham sido presos e dominados, aparentemente num terreno baldio, quando os PMs simularam uma reação dos criminosos, alvejando um deles. (Veja as imagens do RJTV)

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Costa Filho, disse na manhã desta quarta-feira que um ato individual do cabo, que atirou no pé do assaltante preso e imobilizado, jogou na lama todo o trabalho excepcional feito pelos policiais militares que prenderam os sequestradores de uma mulher na Barra da Tijuca na tarde desta terça-feira.

— Ele jogou todo o trabalho da PM que foi perfeito na lama. É uma atitude que não condiz com o perfil da corporação, que é de uma polícia de pacificação — disse Costa Filho.

Nas imagens, feitas por um cinegrafista amador e veiculadas pela TV Globo, os PMs aparecem com os assaltantes dominados, caminhando por uma rua. Depois, os policiais, já no terreno baldio, vasculham o local como se procurassem alguma coisa. Um dos PMs usa um revólver para atirar contra um muro, como se estivesse simulando uma troca de tiros. Mas a imagem mais chocante fica para o fim: um dos policiais pega sua arma da cintura e atira contra a perna esquerda de um dos criminosos. O ladrão cai, aparentemente gritando de dor.

Em nota divulgada na noite desta terça-feira, a Secretaria estadual de Segurança afirmou que “ao ver as imagens exibidas pelo RJ-TV sobre a atuação de policiais numa tentativa de sequestro na Barra da Tijuca, o secretário José Mariano Beltrame ordenou à PM a apuração rápida e exemplar do ocorrido”. Ainda segundo a nota, o secretário “determinou que os responsáveis sejam submetidos ao processo de expulsão sumária da corporação”. O texto termina afirmando: “Para o secretário, é inadmissível que uma polícia que busca a pacificação tenha policiais com esse tipo de conduta em suas fileiras”.

Também em nota, o Comando da Polícia Militar informou que vai verificar também “o aspecto disciplinar e comportamental do policial que disparou tiros no muro”, como mostra a gravação, solicitada na íntegra à TV Globo para que sejam averiguadas. “Para o Comando da Corporação, ações como as que aparecem no vídeo não condizem com a Polícia Militar, que hoje participa de forma ativa do processo de pacificação das comunidades do Rio de Janeiro. Fatos como esse devem ser apurados e punidos com os rigores da lei”, finaliza a nota
O GLOBO