Tim Lopes é homenageado no Complexo do Alemão nos dez anos de sua morte Jornalista foi executado por traficantes quando fazia reportagem sobre prostituição infantil




Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, participa de homenagem ao pai no Complexo do Alemão Foto: Hudson Pontes / O Globo
Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, participa de homenagem ao pai no Complexo do AlemãoHUDSON PONTES / O GLOBO
RIO - Amigos e parentes do jornalista Tim Lopes amarraram 3.653 lenços brancos em varais instalados no Campo do Sargento, no Complexo do Alemão, na Zona Norte. A ação, coordenada pela irmã de Tim, Tânia Lopes, é uma homenagem para lembrar os dez anos da morte do jornalista, executado no dia 2 de junho de 2002, após traficantes descobrirem que ele estava na Vila Cruzeiro fazendo reportagem para denunciar um baile funk com prostituição infantil na favela. Amigos de Tim e jornalistas estão participando da homenagem. Cada pedaço de pano simboliza um dia que se passou nesses últimos 10 anos, desde a morte do jornalista.
Durante a homenagem, o também jornalista Miro Lopes, irmão de Tim, disse que a dor da perda e a saudade são recompensadas pela solidariedade que a família vem recebendo durante esses anos de todo o Brasil. Acompanhado da mãe dos dois, Maria do Carmo Lopes do Nascimento, de 90 anos, Miro afirmou que o grande legado deixado pelo jornalista é a intervenção social que vem sido feita no conjunto de favelas.
- Esse legado ficou para os moradores. O amor do Tim pelas ações sociais aos mais carentes fez com que os governantes promovessem aqui ações públicas e intervenções sociais - afirmou.
No ato realizado no palco no Campo do Sargento, na Fazendinha, o secretário de Segruança Pública, José Mariano Beltrame lembrou que Tim Lopes queria mostrar a ilha de exclusão a que eram submetidos moradores do Complexo do Alemão, onde moradores eram reféns de traficantes. Beltrame disse que a lição ficou e hoje existe uma integração entre comunidade e asfalto.
- Foi nesse lugar, no Complexo do Alemão, que tentaram calar a boca da imprensa e hoje os jornalistas podem circular normalmente. O Tim Lopes veio aqui para mostrar o que acontecia com esses moradores e deixou uma lição para tentarmos integrar moradores que eram excluídos e a cidadania - disse o secretário.
Nesta quinta-feira, o filho de Tim Lopes, o também jornalista Bruno Quintella, de 29 anos, foi pela primeira vez à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão. A visita, dez anos depois da morte de Tim, faz parte do filme que o próprio Bruno está produzindo: “História de Arcanjo — um documentário sobre Tim Lopes”.
Bruno ouviu histórias e conversou com o morador Edinaldo Lima Corrêa, que lembrava do episódio e das noites que o jornalista da TV Globo parou nesse bar até ser abordado e capturado por traficantes. Um dia antes, na quarta-feira, quando foi inaugurada a UPP que abrange a Pedra do Sapo, Bruno esteve pela primeira vez onde o corpo do pai foi encontrado. Sozinho, no local onde hoje há um campo de futebol, ele disse que parou, rezou e chorou.
A ideia de fazer um documentário sobre a vida de Tim Lopes começou em 2004 quando o cinegrafista e amigo pessoal de Tim, Guilherme Azevedo procurou Bruno Quintella nos corredores da TV Globo, onde ambos trabalhavam. O pensamento foi amadurecendo e em 2009 Bruno e Guilherme Azevedo registraram o argumento do documentário na Biblioteca Nacional. Os depoimentos começaram a ser gravados em 2010. Foram ouvidos amigos, colegas de profissão e pessoas que compartilharam da vida profissional de Tim. Bruno e Guilherme Azevedo também fizeram passagens nos blocos de carnaval Simpatia É Quase Amor e Imprensa Que eu Gamo, onde o jornalista desfilava todos os anos. A paixão pela Mangueira também será retratada no documentário.
Beltrame comenta tiroteio
Beltrame afirmou que não pode dizer que a troca de tiros ocorrida no Complexo do Alemão, na noite desta sexta-feira, seja normal. Para ele, era esperado que os traficantes, há mais de 30 anos estabelecidos no Alemão, não desistissem de uma hora para outra.
- Não podemos achar que a agência reguladora do crime, como era considerada o Complexo do Alemão, vá sair desse local de uma hora para outra. Mas a policia vai continuar aqui trocando informações de inteligência e prendendo os remanescente do tráfico.
Tiros disparados de estação do teleférico
Bandidos efetuaram disparos contra policiais de pelo menos quatro pontos, sendo um deles a estação Alemão, do teleférico que interliga as favelas. Um homem foi preso e estão sendo realizadas buscas na comunidade e nas matas da região. O conjunto de favelas ganhou a sua quarta Unidade de Polícia Pacificadora na última quarta-feira.
O enfrentamento começou às 20h15m, durante a troca de turno dos policiais. Quando uma viatura da PM se aproximou da estação do teleférico, começou a ser alvejada por traficantes que estavam na estação, no alto do morro, da comunidade Nova Brasília e da base da UPP, na Rua Canitá.
Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), assim que foram encurralados, os policiais solicitaram reforço para poder sair do morro. Duas viaturas foram até o local ajudar na retirada. No caminho da saída, o comboio ainda foi recebido a tiros disparados de outros pontos, até que um sinal de rádio transmissor foi identificado. Através do equipamento, um homem informava a outros bandidos a localização dos policiais. O homem foi preso e levado para a 22ª DP (Penha). Foram registrados confrontos isolados pela comunidade até as 22h.
Moradores do Complexo relataram uma intensa troca de tiros na região conhecida como Grota, pouco antes das 22h. Os bandidos teriam efetuado disparos com munição traçante nas regiões das UPPs Fazendinha e Adeus-Baiana, o que pode indicar a presença de armamento pesado, como fuzis e metralhadoras. O confronto da noite de ontem não é o único da semana.
— Foram muitos disparos e não somente nesta sexta. Ontem teve e em outro dia da semana também. Não sabemos o que está acontecendo por aqui. As ruas estão cheias, ninguém fala nada, ninguém tem coragem de comentar. Ainda há medo aqui — desabafa a moradora que preferiu não se identificar.
A CPP confirma que houve tiroteio também durante a madrugada do dia 1º de junho, por volta de 1h.
FONTE: O GLOBO

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