COM A PALAVRA MARCO DAMIANI: 7.080 ANOS DE CADEIA PARA SPOHR, 7.080 PARA HOFFMANN, DONOS DA RATOEIRA KISS
Sofia tem 19 anos. Estuda Gastronomia. A carreira existe nas renomadas escolas superiores de Santa Maria, no Grande do Sul, reconhecida cidade universitária. Se estivesse estudando lá, Sofia certamente estaria com suas amigas e amigos na Kiss, na madrugada de sábado para domingo. Como os jovens que morreram, Sofia também teria chances mínimas de escapar das chamas e da fumaça pela portinhola arremedo de saída de emergência ali existente. Ainda teria de ultrapassar os seguranças que exigiam o pagamento da comandas em meio ao horror que se iniciava. Não, acho sinceramente que Sofia não teria chance.
Minha filha está aqui, mas as outras meninas e meninos que ingenuamente entraram naquela ratoeira, com o intuito de se divertir, se foram para sempre. Sinto forte dor por eles, por seus pais, suas turmas, pelos futuros ceifados. Uma dor incomparavelmente menor, é claro, da que sentem os pais, avós, irmãos e amigos que vejo pela televisão. A todos, meus sentimentos e orações.
O que se pode desejar, porém, aos donos da boate Kiss? A esse moloque Alessandro (Kiko) Spohr e ao covarde sócio Maurício Hoffmann que ainda nem apareceu para depor à polícia? Spohr está preso. Hoffmann deverá ir para o mesmo caminho. Por homício doloso – sim, doloso, porque fazer funcionar uma boate naquele estado é jogar com a sorte, é arriscar a vida de quem vai, é fazer o lucro sem dar a menor contrapartida em segurança. O dolo está lá.
Mas por quanto tempo ficarão eles presos? A meu ver, numa conta rasa, o certo é que peguem
7.080 anos de cadeia cada um. Trinta anos para cada homicídio cometido. A vontade é de ir lá e matá-los, mas então seria a barbárie. Porém, tudo o que vier abaixo de 7.080 anos de cadeia para cada um deles será injusto, pelo que posso enxergar dos parâmetros legais.
Um músico soltou um sinalizador. A tragédia se deu. Dessa tal banda Gurizada Fandangueira só um integrante morreu, o que aponta para um privilégio na escapada para quem estava no palco. Os que restaram dessa banda terão de conviver para o resto da vida com suas próprias consciências infernizadas. E que isso aconteça dentro da cadeia pelo máximo tempo possível. Apenas inocentes morreram, e estes já pagaram a maior pena de todas, com as próprias vidas.
Na MTV, nas vésperas da tragédia, se ensinava a beber álcool em demasia na tal Casa da Praia, acho que é isso. Cerveja engolida por uma mangueira, e garotas expostas como carne de vaca em açougues. Horário vespertino. O mesmo acontece diariament mais à noite no Big Brother Brasil, onde a regra impede que se discuta política e incentiva sexo eventual sem a mínima segurança. Com muito álcool, sempre. A juventude brasileira está sendo empurrada para o beco da tragédia materializada na Kiss.
Conheci o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, quando ele foi secretário de Fazenda dp governo Pedro Simon, nos anos 1980. Está em seu segundo mandato na cidade. É do PMDB. Sofre processo por improbidade administrativa, em razão da prorrogação de contratos no setor de transportes. É o tipo do cara que tem aquele silêncio que quer ressoar inteligente, mas é apenas arrogante, sabem como é? Fico ciente agora, quando escrevo, que ele prometeu ir, mas não compareceu a audiência pública realizada na Câmara Municipal, que ficou lotada, para discutir a questão dos ônibus. Silêncio e omissão. Covardia.
Suspeita de ladroagem. Ele também é culpado pela tragédia da Kiss, porque deixou aquela casa abrir as portas sem alvará. Até agora, não se conhece nenhuma declaração dele sobre o caso. Quem está falando é o vice.
Cezar Schirmer, só a renuncia é uma atitude minimamente digna para você. Mas duvido que você supere a tua covardia para fazer o que é decente. O inferno da consciência para você também.
Marco Damiani
Marco Damiani é jornalista e diretor de Redação do Jornal Eletrônico Brasil 247
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