Pular para o conteúdo principal

IRMÃ DE FAMOSO ADVOGADO ENCONTRA FILHO VICIADO MORTO NO IML


Rio -  Depois de esperar oito dias em casa pelo filho — o técnico em informática Rafael Soares Ribeiro, de 28 anos, viciado em crack —, a bacharel em Direito Olga Maria Soares de Andrade, 60, irmã do renomado advogado Nélio Andrade, teve que tomar a decisão mais difícil de sua vida domingo: ir procurá-lo no Instituto Médico-Legal. A medida tem virado rotina para pais de dependentes, desde que a droga virou epidemia no Rio. E foi no IML que ela o encontrou.

Depois de dez anos de vício, ela perdeu o filho para o crack, que atinge também as famílias de classe média.
Olga, abraçada a Rafael, diz ter feito de tudo para salvar o filho: 'Nunca o abandonei, mas o crack venceu' | Foto: Álbum de família
Olga, abraçada a Rafael, diz ter feito de tudo para salvar o filho: 'Nunca o abandonei, mas o crack venceu' | Foto: Álbum de família
“Além de destruir minha família, o crack me impôs a forma mais cruel de encontrar um filho: numa geladeira de IML, com uma bala cravada na cabeça. Seu corpo, de 1,75 m de altura, pesando 52 kg, sugado pela droga maldita, tinha sido encontrado dentro de um bueiro, em Madureira, no dia 24. Se não tivéssemos ido ao IML, ele teria sido enterrado no dia seguinte como indigente. Foi o fim da agonia da espera”, lamenta Olga.

Drogas na escola

Rafael começou a usar maconha aos 14 anos. A família o alertou, mas, na própria escola particular onde estudava, partiu para o uso de drogas mais pesadas, como cocaína, até chegar ao crack, aos 18 anos. “Ele passava dias fora de casa. Voltava sujo, sem roupa, com fome e sede, sempre irreconhecível”, conta Olga.

Ela acrescenta que objetos da casa e dinheiro sumiam e Rafael regressava às ruas. Ele chegou a se casar e ter um filho, mas sua mulher não aguentou o tormento e foi embora. “Meu marido se separou de mim, mas entendi. Não podia abandonar meu filho”, ressalta.

Na esperança de que o filho se curasse, Olga o acompanhou em três internações, ineficazes. “Ele dizia: ‘mãe, quando eu morrer, será um alívio para a senhora. Eu sei que te faço sofrer muito. Ele não está mais comigo, também não está com os traficantes”, desabafa Olga, com a voz embargada. Agora, ela quer saber quem matou o filho. “Não sabemos quem atirou nele. Nem as circunstâncias em que o crime ocorreu”.

Tio de vítima da droga apela às autoridades

Irmão de Olga Maria, o advogado Nélio Andrade — famoso por defender causas criminais de grande repercussão — fez um desabafo ontem. “As autoridades policiais e de saúde precisam agir mais rápido. O crack está dizimando famílias de todas as classes. O País está ganhando uma legião de zumbis”, alertou Nélio.

Olga apela: “A internação involuntária (como quer o prefeito Eduardo Paes) tem que ser realidade, mas é preciso tratamento mais digno e prolongado para os doentes”. Segundo ela, não é possível recuperar um viciado em 60 dias, tempo máximo em clínicas conveniadas com o estado. Ela diz que via sempre leitos vazios nos hospitais e ambulatórios onde levava o filho para se tratar.

Cracolândias

O DIA tem mostrado como novas cracolândias vêm se instalando na cidade, depois que a polícia ocupou o Complexo de Manguinhos e a Favela do Jacarezinho. Especialistas estimam em seis mil o número de usuários de crack que perambulam principalmente pelas ruas da Zona Norte e Centro.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Nova cracolândia criada recentemente na entrada da Ilha do Governador, próximo à Avenida Brasil | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
“Em várias cracolândias, notamos a presença de pessoas de classe média, bem vestidas”, detalhou o sociólogo da Uerj, Dario Sousa, que coordenou pesquisa sobre o perfil dos usuários para a Igreja Católica.
 O DIA

Comentários

VEJA AS DEZ POSTAGENS MAIS VISITADAS NOS ÚLTIMOS 7 (SETE), DIAS