Documentos mostram como os passos de Niemeyer eram seguidos pela Ditadura


Correio Braziliense
O artista das formas ousadas e dos monumentos repletos de curvas nunca escondeu suas posições políticas. Oscar Niemeyer dedicou a vida a duas de suas grandes paixões: a arquitetura e o comunismo. De suas mãos, saíram os traçados de projetos inovadores, como os prédios monumentais de Brasília, mas também manifestos em defesa da democracia, cartas a amigos do antigo partidão e inúmeros artigos em que ele não hesitava declarar: “Eu sou mesmo um comunista”. A sua ideologia sem disfarces era um incômodo e um motivo de constrangimento para os militares durante a ditadura. Mas o enorme prestígio internacional de Niemeyer livrou-o de prisões e de interrogatórios mais duros.
Documentos sigilosos do governo militar guardados no Arquivo Nacional comprovam que todas as atividades do arquiteto eram monitoradas e que as declarações, os projetos e as entrevistas de Oscar causavam enorme desconforto entre os integrantes da alta cúpula. O Correio teve acesso a arquivos liberados graças à Lei de Acesso à Informação que revelam a visão dos militares a respeito do arquiteto: Niemeyer era considerado um inimigo, com contato próximo aos “escalões avançados da subversão estudantil” e dono de um perigoso discurso antiamericanista. Além das posições políticas, nem mesmo o trabalho de Oscar escapou de questionamentos e acusações. Os documentos revelam uma grave acusação que teve repercussão entre os militares da época: um coronel se empenhou em divulgar o boato de que trabalhos de Niemeyer seriam um plágio dos projetos do arquiteto suíço Le Corbusier.
Niemeyer prestou depoimentos ao regime, mas nunca foi agredido
Niemeyer prestou depoimentos à polícia durante a ditadura, mas jamais sofreu violência. Nos anos 1960, ele já era um profissional de grande renome internacional, o que garantia certa liberdade. Mas as suas posições políticas também lhe privaram de alguns trabalhos. “Não vou dizer que a minha permanência no partido comunista só me deu alegrias. Foram muitos os obstáculos que enfrentei na minha vida profissional”, relembra. Convidado para ser professor da FAU (Faculdade de Arquitetura), em São Paulo, seu nome foi recusado.
O arquiteto Carlos Magalhães relembra outro episódio de rusga de Niemeyer com o regime militar. A dupla elaborou o projeto do anexo do Palácio do Itamaraty, mais conhecido como Bolo de Noiva. “Nosso contrato era para fazer o edifício inteiro. Mas, quando a construção da estrutura acabou, o governo nos chamou para dizer que cancelaria o contrato porque se tratava de uma obra de segurança nacional”, relembra Magalhães. “Mexeram no projeto de arquitetura, mas usaram nossos desenhos e detalhes”, acrescenta.

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