ADVOGADO QUE DEFENDE O BANQUEIRO DIZ “NÃO FAZ MAIS SENTIDO MANTER ANDRÉ ESTEVES PRESO”

                         "Foto: Walter Campanato/ABr"


Segundo o advogado que defende o banqueiro André Esteves, Antonio Carlos de Almeida, o Kakay, "o pedido de prisão foi baseado no pedido do Ministério Público sobre a necessidade de se fazer uma busca e apreensão e para que ele pudesse ser ouvido. A busca e apreensão já foi feita e ele já foi ouvido. Então, não vejo nenhum sentido em manter a prisão"; o advogado assegurou que "André não não participou da reunião" e "não conhece ninguém ali", além de "nunca" ter tido acesso "a essa tal delação", em referência ao documento que continha a delação de Nestor Cerveró; "Não pode haver dois pesos e duas medidas".




Fonte: Agência Brasil.



O InfoMoney entrevistou, na tarde desta quinta-feira (26), Antonio Carlos de Almeida - o Kakay -, advogado que está cuidando da defesa de André Esteves, sócio do BTG Pactual, preso preventivamente na manhã da véspera pela alegação de atrapalhar as investigações da operação Lava Jato. Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró narra que o banqueiro teria pago propina ao senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL).

O que teria motivado sua prisão preventiva, no entanto, seria o registro de uma conversa entre o então líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) - também preso ontem - e o filho do delator para negociar o silêncio de Cerveró em troca de esforços para tirá-lo da prisão, do pagamento de uma mesada de R$ 50 mil e até de um plano de fuga para o exterior.

Confira os melhores momentos da entrevista com Kakay:

InfoMoney - Como foi a argumentação do pedido de liberdade provisória enviado ao ministro relator, Teori Zavascki?

Kakay - O pedido de prisão foi baseado no pedido do Ministério Público sobre a necessidade de se fazer uma busca e apreensão e para que ele pudesse ser ouvido. A busca e apreensão já foi feita e ele já foi ouvido. Então, não vejo nenhum sentido em manter a prisão. Ademais, acho que o pedido e o decreto de prisão se deram sem nenhum tipo de fundamentação idônea. Toda a fundamentação da prisão é exatamente aquela gravação que o filho do Cerveró fez naquela reunião, na qual o Delcídio fala o nome do André três ou quatro vezes. Mas ele também fala o nome dos ministros do Supremo, da presidenta Dilma, do Romário. E todos eles entenderam – e eu faço correto esse entendimento – de que era uma bazófia, uma tentativa de ele se gabar de alguma forma. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. Quando cita ministros do Supremo, com toda a razão, ele estava querendo demonstrar uma relação que não tinha. Agora, quando cita André Esteves, é motivo de pedido de prisão?

IM - A citação de ministros do Supremo na gravação foi o agravante para que houvesse uma decisão mais rígida da corte?

Kakay - É natural. O próprio ministro disse isso. Estava querendo colocar em xeque a própria admissão do Supremo. Infelizmente, sabemos que existe gente que mantém relações com ministros - o que é lastimável e que acontece nos tribunais. Agora, não pode haver dois pesos e duas medidas. André não conhece ninguém ali, não participou da reunião, nunca teve acesso a essa tal delação. Que sentido teria fazer uma prisão dele por causa dele? Eu acho completamente desproposital.

IM - Ele não teve acesso ao conteúdo da delação?

Kakay - Não. Nunca teve nenhum acesso.

IM - Qual é a avaliação do senhor sobre a prisão de Delcídio?

Kakay - O Supremo Tribunal Federal é que diz o que é a Constituição. Ele é o último a fazer a interpretação. Sinceramente, acho que abriu um precedente perigoso. [Foi] uma interpretação elástica sobre o crime continuado (questão da organização criminosa) para poder fazer a flagrância. O Senado tinha a opção de não mantê-lo preso, e soberanamente entendeu que deveria manter. A nós, advogados, não cabe comentar, salvo sob o prisma acadêmico. Como sou o advogado do André, prefiro não fazê-lo.

IM - Os senhores enxergam uma dificuldade maior com eventuais pressões externas sobre decisões que envolvam o caso?

Kakay - Eu trabalho em muitos processos midiáticos e sei que eles são piores. Os juízes são humanos, como qualquer um de nós. Trabalhar com processos na mídia é sempre ruim.

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