IDEIAS E PALAVRAS DE ORDEM DE EX GOVERNADOR BRIZOLA INSPIRAM GRIFE DE JOVENS DA BAIXADA
Rio - Guilherme Guaraciaba, 18, começa neste ano a
cursar História na universidade. Seu sonho é ser professor para voltar ao Ciep
Laís Martins,onde estudou, e mostrar aos alunos quem foi o ex -governador do
Rio Leonel Brizola. Até lá, ao lado de outros jovens, incumbiu-se da tarefa de
divulgar as ideias do ex-governador do Rio e o trabalhismo: em Duque de Caxias,
a garotada ressignificou o slogan “Brizola na cabeça”, bordão da campanha
eleitoral de 1982, e transformou o líder do PDT em estampa de camisa. Todos
eram crianças quando o político faleceu, em 2004, mas, para eles, Brizola
jamais saiu de moda.
A ideia da “grife” surgiu em 2013, durante as
manifestações iniciadas em junho por conta do aumento do preço das passagens de
ônibus. “Incomodava ver todo mundo com aquela máscara do Guy Fawkes (personagem
eternizado pelo filme ‘V de Vingança’)”, conta Natália Barbosa, 22. Em 2014,
ela e outros membros da Juventude Socialista do PDT de Caxias começaram a
produzir as estampas. Algumas trazem o rosto de Brizola, outras fazem
referência à educação, uma de suas principais bandeiras em vida, e há as que
lembram a luta contra a ditadura militar e da turbulenta relação do
ex-governador com a Rede Globo.
“Até agora, vendemos cerca de 100 camisas em congressos
de juventude e pela internet, para estados como Rio Grande do Sul, Minas e
Bahia”, conta Luis Vieira, 23, o mais velho do grupo. Cada camisa é vendida por
R$ 15, e o lucro, que não é muito, é revertido para pagar despesas com lanches
e almoços nas reuniões partidárias Brasil afora.
No desfile da ‘grife’ por Duque de Caxias, até o famoso
lenço vermelho que marcou o visual de Leonel Brizola ao longo da vida
reapareceu em meio ao calorão da cidade
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Brizolistas de berço por conta dos pais, ou engajados por
conta própria nos movimentos estudantis, eles mantêm a fé na construção do
“socialismo moreno” proposto pelo gaúcho. Eles relatam já terem visto até
relacionamentos amorosos acabarem, mas mantêm-se firmes na luta contra o senso
comum que diz serem todos os políticos corruptos e que o Brasil não tem mais
jeito. Garantem que são, porém, um grupo de jovens amigos que gosta muito de se
reunir para bater papo e tomar cerveja. “Mas não tem jeito, o assunto roda,
roda e sempre cai no Brizola”, ri Luis ao ser lembrado de gritos como “Se Cuba
tem Fidel, o Brasil tem Leonel”, puxados nas reuniões políticas e nos bares caxienses.
Numa quarta-feira típica de janeiro, de sensação térmica
de 50º à sombra, os seis jovens brizolistas trocaram a praia por uma reunião em
Caxias. Vindos de bairros como Jardim Primavera e Figueira, nem perceberam que
seu guia político se faz presente não só nas camisas, mas é elemento
indissociável da paisagem: o encontro foi na avenida Leonel Brizola, na
biblioteca de mesmo nome. Por que tantas homenagens ao ex-governador? “Brizola
é muito forte na Baixada inteira, fez muito por aqui. Veja a quantidade de Cieps”,
argumenta Natália, que hoje é professora da educação básica do Ciep Simone de
Beauvoir, em Belfort Roxo. “Só o nome que é pomposo”, lamenta.
A maioria dos seis jovens estudou em Cieps,
materialização do sonho de Brizola e Darcy Ribeiro em ver crianças e
adolescentes estudando em tempo integral com qualidade. “Cheguei a pegar o
tempo em que tinha dentista e médico para atender os alunos. Hoje não tem
mais”, lembra Josiane Gomes, 22.
Disputa pelo legado do brizolismo
Pelo menos na retórica, o legado do brizolismo é eterna
disputa dos políticos fluminenses, provando que a redescoberta de Brizola não é
exclusivo dos jovens caxienses. Na campanha para o Palácio Guanabara em 2014,
os programas de governo dos então candidatos Anthony Garotinho (PR), Marcelo
Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT) mencionavam a retomada dos Cieps como
principal proposta para educação, mas o apoio do PDT ficou com o governador
reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Ex-governador tem legado disputado
Foto: Arquivo
Os criadores da “grife” em homenagem à Brizola dizem que
não há nenhum político capaz de preencher o vazio deixado pelo ex-governador.
Nas eleições do ano passado, eles se dividiram entre Pezão e Lindbergh. A união
veio no segundo turno, quando todos se engajaram pela reeleição da presidenta
Dilma Rousseff (PT).
Uma das razões para o sucesso das camisas é porque,
segundo eles, o PDT é o partido de esquerda mais forte entre os jovens na
Baixada Fluminense, superando o PC do B e o Psol. “Ser de esquerda aqui é
diferente da Zona Sul. Não é voto de pobreza, é querer as coisas para todo
mundo, de forma realista”, explica Natália.
O maior problema da “grife” está na família de Brizola:
neta do político, Layla entrou em contato com a rede social onde as blusas foram
comercializadas e ameaçou processar os jovens por uso indevido da imagem. Seu
primo, o vereador Leonel Brizola Neto, discorda. “Quanto mais usarem a imagem
do meu avô, melhor. É bonito ver a juventude querendo conhecer o meu avô, mesmo
depois de tantos anos dele morto”.
LEANDRO RESENDE
FONTE : O DIA ON LINE
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