HISTÓRIA DA POLÍTICA BRASILEIRA - AUTÓPSIA DOS RESTOS MORTAIS DO EX-PRESIDENTE JOÃO GOULART FOI CONCLUÍDA
Fonte: Agencia Brasil
A autópsia dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
morto há 38 anos na Argentina, não identificou a presença de medicamentos
tóxicos ou veneno que pudessem ter causado a morte de Jango, como era
conhecido. O laudo final da perícia dos restos mortais concluiu que o
ex-presidente, deposto pela ditadura miliar, realmente pode ter sido vítima de
um enfarte, como foi informado à época por autoridades do regime militar,
devido a histórico de cardiopatias.
A negativa da presença de medicamentos tóxicos ou veneno, no
entanto, não significa que Jango não tenha sido assassinado. De acordo com
peritos que participaram das investigações, as análises foram prejudicadas pela
ação do tempo. “Do ponto de vista científico, as duas possibilidades [morte
natural e envenenamento] se mantêm”, disse o perito cubano Jorge Perez, indicado
pela família Goulart para participar das investigações. Foram investigadas 700
mil substâncias químicas, de um universo de mais de 5 milhões conhecidas.
“Os resultados podem concluir que as circunstâncias são
compatíveis com morte natural. O enfarte pode ser compatível, mas a morte pode
ter sido causada por outras cardiopatias”, diz trecho do relatório final das
análises. “A negativa [da presença de veneno] não permite negar que a morte
tenha sido causada por envenenamento” diz outro trecho.
O filho de Jango, João Vicente Goulart, disse que a família
já esperava que o resultado não fosse conclusivo. Ele reivindicou que o Estado
brasileiro faça o compartilhamento de documentos com outros países e que cobre
o depoimento de agentes americanos que contribuíram com o regime militar
brasileiro.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti,
ressaltou que o laudo pericial não concluiu as investigações da causa da morte
de Jango. “Um laudo pericial é parte de um processo de investigação e não uma
conclusão em si. Há uma investigação que está em curso pelo Ministério Público.
Já que a morte de Jango ocorreu na Argentina e como há a suspeita de que ela
esteja relacionada à Operação Condor, o Ministério Público da Argentina também
está analisando o caso”, disse.
Ideli ressaltou que, apesar de o laudo ser inconclusivo, o
processo de análise por si só é um resgate à memória do ex-presidente. “Apenas
em uma democracia poderemos realizar uma cerimônia como essa. E só com o
compromisso político de resgatar a memória podemos concluir essa etapa de
resgate da figura importante do presidente João Goulart para o país”,
acrescentou a ministra.
A análise dos restos mortais de Jango teve início no dia 13
de novembro do ano passado e foi feita por laboratórios do Brasil, da Espanha e
de Portugal. O trabalho também foi acompanhado por peritos da Argentina, do
Uruguai e de Cuba, representantes da Cruz Vermelha, do Ministério Público
Federal, além da família de Jango. O resultado será entregue à família do
ex-presidente e posteriormente à Comissão Nacional da Verdade.
Deposto pelo regime militar (1964-1985), Jango morreu no
exílio, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. O objetivo da exumação é
descobrir se ele foi assassinado. Por imposição do regime militar brasileiro, o
corpo de Goulart foi enterrado em sua cidade natal, São Borja, no Rio Grande do
Sul, sem passar por autópsia. Desde então, existe a suspeita de que a morte
tenha sido articulada por autoridades das ditaduras brasileira, argentina e
uruguaia, em meio à Operação Condor.
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