OU O PT DESCONSTRÓI MARINA, OU ELA VARRE O PT
Pesquisa
Datafolha mostra que tese da "desidratação" natural de candidata
Marina Silva é furada; cravada num empate de 34% com a presidente Dilma
Rousseff, depois de ascender 13 pontos percentuais em apenas 11 dias, candidata
do PSB já está mais para furacão em plena passagem do que para fenômeno
eleitoral furtivo; ou Dilma, o ex-presidente Lula e o marqueteiro João Santana
posicionam o PT para apontar todas as suas baterias sobre as fragilidades e
contradições da ex-ministra, ou o que está sendo escrito pelo partido é uma
história de alternância, e não de manutenção do poder; essa é a ideia?
Com 50 por cento de intenções
de voto na pesquisa Datafolha sobre as eleições para governador de São Paulo, o
candidato à reeleição Geraldo Alckmin, do PSDB, não tem dúvidas em continuar
dedicando largos espaços em seu programa no horário político à desconstrução do
adversário Paulo Skaf, do PMDB. E isso mesmo com Skaf estando 30 pontos atrás
de Alckmin. O sentido dos ataques pela tevê é claro: antes que o ex-presidente
da Fiesp cresça mais, a ponto de insinuar a realização de um segundo turno, o
governador já trata de fazer a desconstrução do adversário como estratégia de
antecipação para evitar uma surpresa.
No plano
nacional, nesta sexta-feira 29 o mesmo Datafolha apontou para novo crescimento
vertiginoso de Marina Silva, do PSB. Depois de despontar, no levantamento
divulgado em 18 de agosto, com 21%, a sucessora de Eduardo Campos deu um
estirão de 13 pontos, cravou agora um empate em 34% com a presidente Dilma
Rousseff na simulação de primeiro turno, e fez sobre ela uma ultrapassagem por
dez pontos na projeção para a segunda rodada. Para esta fase, Marina já exibe
50% de preferências, contra 40% para a presidente. Hoje, portanto, Marina
é a virtual presidente da República a partir de 2015.
É de se
perguntar, diante dessa constatação de derrota do governo que vai ganhando ares
de consenso entre os especialistas e observadores da cena eleitoral: o que leva
o PT de Dilma, do ex-presidente Lula e do marqueteiro João Santana a ser tão
complacente, até aqui, com o discurso e o crescimento de Marina?
Por que o PT
que Lula lidera, que elegeu Dilma em 2010 e que tem Santana no comando das
ilhas de edição não segue a fórmula clássica executada por Alckmin contra Skaf,
que receita para quem quer se reeleger falar bem de si mesmo e das próprias
realizações de governo, mas também guarda espaço para explorar rudemente os
pontos considerados vulneráveis no principal adversário?
DE
FENÕMENO A FURACÃO - Com
o botão do ataque desligado, o que a campanha do PT vai conseguindo até aqui é
transformar Marina de fenômeno a verdadeiro furacão que ganha mais força à
medida em que avança para o dia do voto, em 5 de outubro. O presidenciável
Aécio Neves, do PSDB, nesse contexto, vai sendo, literalmente, dizimado pelo
furacão Marina.
Ao mesmo
tempo em que precisou de apenas onze dias para tornar pó o favoritismo que, a
duras penas, Dilma exibia antes da morte de Campos, Marina está reduzindo Aécio
à condição de náufrago da eleição. Com queda livre do patamar de 21 pontos na
metade do mês para a faixa de 15% das intenções de voto agora, o senador
mineiro já vê os principais nomes do partido que preside guardarem distância
respeitável de qualquer crítica à Marina.
Toda a ala
paulista tucana está marinando, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique,
o candidato a senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, que tem no
parceiro de chapa Marcio França um legítimo representante do PSB.
Não será de
um PSDB outra vez dividido que sairá alguma ordem unida para combater o
crescimento de Marina. Se essa ordem não vier a ser dada pelo triunvirato que
dá o rumo à campanha do PT, a mensagem será a de que a ex-ministra do Meio
Ambiente já pode, como se diz, encomendar o vestido da posse. Não há sinal
tanto no Datafolha desta sexta 29, assim como nas pesquisas anteriores e em
todos os radares voltados para a cena, que Marina venha a perder seu
favoritismo no caso de não ser incomodada. Relatórios de bancos internacionais
já estabelecem em mais de 60% as chances de ela vencer a disputa.
IMBRÓGLIO
DE JATO NEM ARRANHOU - Sobre ela, protegida pela áurea de viúva política de Campos, a
crítica ética ou moral não parece colar. Mesmo com a discussão sobre o
imbróglio do jato do PSB ter se alongado desde a data da queda, no dia 13 deste
mês, Marina não sofreu um arranhão sequer nas aferições de preferências. Ao
contrário, decolou para novos céus, onde reluzem estrelas como os seus atuais
34% em primeiro turno e os 50% que pode chamar de seus para a segunda volta.
No PT, até
que o Datafolha demarcasse o que já se esperava, vigorou uma tese, com ares de
fantasia, de que Marina iria se "desitratar" sozinha. Na prática, o
que está ocorrendo é o contrário, com uma hidratação de votos se mostrando cada
vez maior e mais eficaz. Registre-se: em 11 dias entre a divulgação de duas
rodadas de pesquisas Datafolha, a candidata do PSB subiu 13 pontos.
Com um
quadro que já não admite análises condescendentes, às portas da entrada do mês
final de campanha eleitoral, o certo é que a estratégia política adotada pelo
PT está errada. Do contrário, Dilma não estaria em apuros. Com a economia
entrando em "recessão técnica", discutir questões ligadas ao
desenvolvimento será cada vez menos confortável para a presidente. Isso não
impede, porém, que a mesma Dilma chacoalhe a sua campanha, de preferência com a
força de Lula ao seu lado, para indicar ao marqueteiro Santana um novo caminho
de abordagem no mais poderoso instrumento eleitoral: o programa de tevê no
horário político.
Enquanto
Marina não for combatida de frente em suas fragilidades e contradições, o que
está sendo escrito pelo PT até agora é uma história de alternância, e não de
preservação de poder. Essa é a ideia?
Fonte: Jornal 247
Fonte: Jornal 247
Comentários