DEBATE HOJE SOBRE O FUNK ABRE OS TRABALHOS DA III CONFERÊNCIA
Hoje (dia 5), às 17h, acontece o primeiro debate da III
Conferência Funk, no Palácio Capanema. O evento marca a abertura da quarta
edição do “Rio Parada Funk", que agora faz parte do calendário oficial da
cidade. O Favela 247 entrevistou Mateus Aragão, idealizador da
Parada: "A economia do funk emprega milhares de pessoas, e é uma geradora
de mobilidade social do Rio de Janeiro, e hoje em dia do Brasil. Nas favelas
ela é um dos maiores agentes de mobilidade e de geração de renda, emprego
e lideranças."
Aconteceu hoje (dia 5), a partir das 17h, o primeiro
debate da III Conferência Funk, no Palácio Capanema, Centro do Rio de Janeiro.
A mesa de debate contou com a presença do governador do Estado do Rio de
Janeiro, da Secretaria de Cultura do Estado e do DJ Malboro, que mediou uma
conversa sobre editais de cultura e legalização dos bailes funk. Ao final se
apresentarão o DJ Géllo e Ricardinho DJ.
O evento marcou a abertura da quarta edição da "Rio Parada Funk", que agora faz parte do calendário oficial da cidade: em dezembro de 2013, o prefeito Eduardo Paes sancionou lei definindo o segundo domingo de setembro de cada ano como a data oficial da "Rio Parada Funk".
O “Rio Parado Funk" é um movimento para consagrar o funk como cultura popular carioca. Este ano ela ocupará, além da Praça da Apoteose, toda a Marquês de Sapucaí, com o objetivo celebrar a história do funk, mostrar sua potência e ajudar na internacionalização do estilo.
O Favela 247 conversou com o produtor
cultural Mateus Aragão, 33, um dos criadores da Parada. Mateus Conta que a
primeira edição da parada, em 2010, reuniu 120 mil pessoas no Largo da Carioca;
a segunda foi nos Arcos da Lapa, com 60 mil pessoas presentes; a terceira foi
na Praça da Apoteose, e reuniu 28 mil pessoas. Mateus diz que a Praça da Apoteose
sempre foi o objetivo da Parada, mas que só conseguiram o espaço no ano
passado. A diferença de público de cada edição varia de acordo com a
infraestrutura de cada lugar. Leia abaixo a entrevista com Mateus Aragão.
O Funk continua criminalizado?
Sim, mas temos avanços. Conseguimos aprovar a lei do funk, que afirma que o funk é cultura. Embora seja um absurdo precisarmos de uma lei para afirmar isso, ela é uma conquista, pois possibilitou o Edital do Funk, que já está na segunda edição, e que apoia os bailes diretamente. A Lei foi um marco fundamental e deu uma institucionalidade ao movimento funk.
A proibição dos bailes funks em algumas favelas com UPPs
abalou a economia do funk?
A economia do funk emprega milhares de pessoas, e é uma geradora de mobilidade social do Rio de Janeiro, e hoje em dia do Brasil. Nas favelas ela é um dos maiores agentes de mobilidade e de geração de renda, emprego e lideranças. É absurdo que até hoje equipes de som tenham seus equipamentos quebrados por policiais. O funk ainda hoje é perseguido, e uma das desculpas é uma suposta aliança com o tráfico de drogas. O MC Catra diz que não foi patrocinado pelo tráfico, foi protegido por ele. Ainda hoje o funk é perseguido, mesmo com a lei. Temos que botar a lei em prática.
O funk está saindo das favelas e voltando para os salões?
O funk já toca em todos os lugares. Não tem uma festa, uma boate que não toque funk. Ninguém vai acabar com funk. O problema é o mercado funk, as equipes de som, onde é que elas vão tocar? Elas não entram nas boates. O gênero está em todos os lugares, e os agentes tradicionais do movimento não podem ser esquecidos, apagados. Temos que preservar os territórios tradicionais do funk, como acontece com o samba e outros movimentos culturais das cidades.
Como o funk está sendo assimilado no exterior?
No exterior o funk é tratado como "música brasileira eletrônica". A "rasteirinha", por exemplo, é um elemento mais moderno do funk. Foi criado na favela Nova Holanda, na Maré, mas hoje já tem muitas mixagens de pessoas de outros circuitos. O funk é produzido hoje tanto por uma galera da Zona Sul, como o produtor Omolu; quanto por uma galera pesada lá de fora, como o Diplo, um dos principais produtores do mundo, e que trabalhou bastante com a Deize Tigrona, por exemplo.
Quais são os projetos futuros da "Rio Parada Funk"?
O objetivo da "Rio Parada Funk" é virar um festival mundial. Hoje temos gente do Brasil inteiro participando. Queremos levar a Parada pra fora do Brasil e internacionalizar o funk, transformá-lo num ritmo mundial.
Você é neto do grande poeta Ferreira Gullar. O que ele acha
do funk e de seu trabalho?
É uma boa pergunta. Ele não entende o funk, mas me apoia, é meu avô. Na época dele, eles criaram o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), e um dos grandes marcos do CPC foi a consagração do samba. Antes deles só se tocava musica estrangeira, e o samba era visto como música de segunda classe. Mesmo não sendo fankeiro, ele entende o que eu estou fazendo.
E como foi sua trajetória até chegar à "Rio Parada
funk"?
Eu fiz o segundo grau e sempre participei do movimento estudantil. Não fiz faculdade, já estava fazendo outras coisas. Participei de uma ocupação cultural no Teatro Casa grande, em 2001. Logo em seguida conseguimos um contrato para permanecer no local. Depois fizemos a ocupação do Circo Voador. Fui convidado a ocupar o canteiro de obras do Circo, para pressionar a prefeitura. Assim eu virei produtor cultural. Ainda no movimento estudantil, eu tinha uma relação com o MC Catra, que gostava das ideias socialistas. Nós fizemos um debate no Tetaro Casa Grande, e apareceu o interesse com o funk. Começamos a fazer shows de funk do Circo Voador, o "Eu Amo Baile Funk", que faz dez anos este ano.
Serviço "Rio Parada Funk":
Domingo, dia 14 de setembro de 2014
Horário: Das 10h às 21h
Local: Marquês de Sapucaí
Ingressos gratuitos: os tickets deverão ser impressos no site
da Rio Parada Funk
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