CARIOCAS PASSAM A USAR SKATE COMO MEIO DE TRANSPORTE, ESPORTE CONQUISTA MORADORES DO RIO, QUE USAM AS PRANCHAS ATÉ PARA IR AO TRABALHO E À ESCOLA, SAIBA MAIS




O advogado Último de Carvalho anda de skate em Ipanema Foto: Pedro Kirilos / O Globo

O advogado Último de Carvalho anda de skate em Ipanema Pedro Kirilos / O Globo
RIO — No ônibus, no metrô, enterrado na areia da praia, nas mochilas dos estudantes e no caminho para o trabalho. Por todo lado, só dá skate neste verão. Num giro rápido pela orla, pela Lagoa e pelo Aterro do Flamengo, percebe-se que a prancha sobre quatro rodinhas é mais do que um modismo da estação mais charmosa no Rio: virou uma maneira de curtir o visual da cidade, de manter a forma e, mais do que nunca, um meio de transporte para ir ao trabalho e à escola, por exemplo. A atividade de andar de skate cativou gente de todas as gerações e conquistou de vez as meninas, que adotaram as remadas no asfalto também como forma de se locomover sem o estresse do trânsito diário.
A mesma destreza demonstrada quase que exclusivamente por skatistas homens no passado agora é vista em garotas de biquíni, shortinho jeans e camiseta. Neste verão, os skates definitivamente saíram do gueto das pistas dedicadas à modalidade para invadir as ciclovias e as pistas de rolamento, da Zona Sul à Zona Norte. O estilo grunge por muito tempo associado ao esporte agora convive com outro, mais solar.
— Venho percebendo esse movimento de adesão das meninas ao skate nos últimos dois, três anos. Mas ele era restrito à turma mais inovadora. Agora a massa aderiu. O ano de 2012 já foi um retrato disso. E neste verão já está todo mundo treinado e fazendo bonito sobre o skate — afirma Renata Abranches, do blog RIOetc e autora, junto com o marido, Tiago Petrik, do livro “A carioca — guia de estilo para viver a Cidade Maravilhosa”.
Os preferidos dos cariocas que usam o equipamento fora das rampas são os longboards. Os “skatões” são voltados para quem quer esporte + passeio + meio de transporte. Mas hoje, nas vitrines das lojas especializadas, em especial na Galeria River, em Copacabana, os miniskates coloridos são o destaque. Levinhos, podem ser carregados na mochila. Julina Cury, de 26 anos, tentava se adaptar ao skatinho retrô — ele era sucesso nos anos 70 — na ciclovia de Ipanema na última quinta.
A estudante de administração pegou o skatinho emprestado do namorado, o francês Florian Savin, de 23 anos. De biquíni, sainha e descalça, ela se equilibrava sobre a novidade de plástico:
— Este skatinho parece mais fácil. Estou tentando perder o medo — contou Julina, mostrando as marcas do seu lado radical: cicatrizes nos braços e nas pernas, frutos de uma queda. — Caí de um long numa ladeira.
Florian já está acostumado com o miniskate. No Rio para um intercâmbio na UFRJ na área de engenharia civil, o parisiense agora roda no brinquedinho diariamente pela cidade:
— É muito melhor andar de skate no Rio, por causa do sol, do calor e das pistas na beira da praia.
“Para o bumbum é excelente”
A corretora Vanessa Araújo, de 30 anos, deixou para atrás a malhação entre paredes e agora mantém a forma sobre um long.
— O skate trabalha perna e bunda. Ainda mais na pedalada (ou remada): para o bumbum é excelente! — diz Vanessa, que na quinta-feira foi do Leme ao Leblon cheia de estilo: óculos escuros da moda, macacão de lycra e All Star preto de cano longo.
As filhas de Vanessa — Bettina, de 4 anos, e Ana Lívia, de 10 — acompanham a mãe de vez em quando.
— O melhor do skate é a serotonina, a sensação de prazer e liberdade. Sabe quando você acha que vai cair e não cai? Fora que você não está preso dentro de uma academia — completa a corretora, que circula por aí com o namorado, o advogado Último de Carvalho, de 55 anos.
O primeiro passo de quem aprende a andar de skate é se equilibrar sobre o shape, que é a prancha na linguagem do esporte. Há um ano, Último adotou o esporte por recomendações médicas, por ter diabetes. Seu longboard veio da capital da modalidade — a Califórnia — e ganhou uma espécie de malinha, que ele próprio adaptou. É uma caixinha de plástico grudada na prancha, dentro da qual o advogado carrega chaves, carteira, água para lavar os pés depois da praia e camiseta. O skate para Último funciona como um meio de transporte: quando está disposto, vai de Ipanema ao Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro, e lá pega um táxi até o escritório, no Centro.
— O skate é uma delícia, dá um “surf feeling”. É como pegar onda direto por uma, duas horas — diz.
“De skate, você cruza a cidade”
Para Renata, do blog Rio RIOetc, o skate caiu como uma luva no estilo de vida do carioca, que hoje sente mais segurança para circular pela cidade:
— Você sai da praia e vai de skate para o chopinho, pode carregá-lo na garupa de uma bicicleta ou debaixo do braço na integração do metrô. De skate, você cruza a cidade. Tem muito a ver com a cidade do Rio.
Um dos pontos positivos do skate é o preço, mais acessível que o do stand up paddle, por exemplo. Na Galeria River, o valor do miniskate está em torno de R$ 250. Já o street, usado para manobras nas rampas, custa cerca de R$ 150. Os longboards californianos podem ultrapassar os R$ 800.
Rogério Ferri, vendedor da loja Arpex Homey, na Galeria River, constatou uma procura maior do ano passado para cá:
— As meninas chegavam aqui, e eu perguntava: Quer ver patins? E elas: “Não, quero skate mesmo”.
Na hora de comprar o seu, Gabriel Mello, de 16 anos, não economizou: adquiriu pela internet um skate elétrico que custou R$ 1.400. O equipamento chama a atenção por ser bem maior e mais alto do que os modelos tradicionais. Com um controle remoto, o skatista regula a velocidade e aciona o freio. A máquina de Gabriel atinge até 40km/h.
— Moro no subúrbio (na Vila da Penha) e vim tirar uma onda em Copa — dizia, na quinta.
Eudo Júnior, de 34 anos, usa seu long para ir à praia. Mas, para não desgastar o skate, há dias em que pega emprestado um com uma operadora de telefonia, que oferece de graça nas praias o equipamento a clientes cadastrados.
— Ando desde moleque e, ultimamente, com mais frequência — diz Eudo, que é vendedor da Armani e usa muito a prancha com rodinhas para ir do Flamengo, onde mora, até o futevôlei em Copacabana e Ipanema. — O skate é superdemocrático, há pessoas de todas as idades praticando. Vejo famílias inteiras andando na orla.
O esporte bombou tanto no Rio que a Farm captou o gosto das clientes e criou skates de menina, com estampas exclusivas. A marca também já lançou um editorial de moda de roupas para skatistas e produziu uma websérie com as Longboard Girls Crew. São quatro episódios, sempre às quintas-feiras, sendo que o primeiro foi ao ar esta semana no Facebook da Farm.
Bruno Funil, da União Skate Rio (USR), aponta o bom desempenho de brasileiros no esporte como um dos responsáveis por esse boom. O Rio é um parque de diversões para os apaixonados das manobras radicais: nas contas de Renê Nunes, presidente da USR, são entre 40 e 50 pistas na cidade.
Presidente da Federação de Skateboard do Estado do Rio, André Viana ressalta que a cidade tem a melhor pista do Brasil, a do Parque Madureira, com 3.850 metros quadrados e padrão para eventos internacionais. E há outras pistas por vir: o Parque Radical da Lagoa, projeto da prefeitura que ocupará o espaço da antiga Estação do Corpo, contará com duas áreas para o esporte.
O GLOBO

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