SAMBISTAS DENUNCIAM DISCRIMINAÇÃO NO RÉVEILLON DO PARQUE MADUREIRA POR PARTE DOS ORGANIZAÇÃO DO EVENTO, SAIBA MAIS

Em época eleitoral, sambista é orgulho e tem o respeito da classe política. Mas bastaram o Parque Madureira e as reformas nas quadras de Portela e Império Serrano angariarem os votos pretendidos e a carruagem virou abóbora. Convidados para a apresentação da noite de reveillón no Parque Madureira, a capital do samba prestigiada pelas duas grandes escolas de samba do bairro, sambistas de Portela e Império Serrano foram discriminados e tratados com desdém pela organização do evento, promovido e divulgado como uma das programações oficiais da cidade na festa de passagem de ano.

Em franco desabafo nas redes sociais, o premiado coordenador de passistas da Majestade do Samba, Valci Pelé, publicou uma vergonhosa foto em que integrantes da escola posaram com pacotes de biscoito na mão, batatas fritas e refrigerante comprados por eles mesmos, exibindo o que lhes restou por "ceia" no "reveillón-programa-de-índio" da prefeitura do Rio. Os demais artistas do evento tiveram camarim e tratamento vip, enquanto os integrantes das escolas de samba foram tratados à margem do evento, esperando mais de três horas para se apresentarem, sem sequer terem onde colocar seu material de apresentação.

Desprezados pelos produtores do evento, os artistas sentiram-se discriminados ao ponto de ficarem espremidos num espaço chamado de "canto dos sambistas". As passistas femininas, por exemplo, foram "convidadas" a trocarem de roupa nos banheiros químicos disponíveis para uso público. A falta de estrutura e o tratamento discriminatório e preconceituoso acenderam a ira dos sambistas que prestigiariam o espetáculo.

Gabriel Castro, passista do Império Serrano, postou sua indignação nas redes sociais: "Nós, do Império Serrano, tivemos que fazer as coisas na marra, senão a apresentação não aconteceria! E pensar que fizemos o batismo do parque e do palco...! Enquanto não exigirmos sermos tratados como os artistas que somos, ninguém nos tratará com o respeito que merecemos".

As denúncias foram dignas de vexame. Em contraponto com a ceia e o tratamento vip dados aos outros artistas envolvidos no evento, o cast de Portela e Império precisava "implorar" por água e, segundo informações, dispôs apenas de seis cadeiras para mais de 40 componentes convidados.

"Demorei algum tempo para acreditar que nós, quase anfitriões, estávamos vivendo aquele destrato! Nós sambistas temos que gritar, reivindicar, e foi o que fizemos, apesar de ter faltado muita coisa! Como diz o ditado: maltratados em casa!" - protestou Nilce Fran, que também dirige os passistas e mulatas da Portela.

Valci comentou que a situação foi muito constrangedora, sobretudo porque alguns dos artistas não podiam abrir mão do cachê por necessidades pessoais e, além disso, os bambas respeitaram o público presente, que não merecia ser punido por conta da irresponsabilidade da produção.

O diretor de carnaval da Portela, Júnior Escafura, também manifestou seu pesar com o ocorrido: "Foi muita falta de respeito com a Portela e também com o Império Serrano. Eu como diretor da Portela me senti envergonhado com o descaso com que fomos tratados" - publicou nas redes sociais, acreditando que a falha foi mais dos organizadores do que propriamente da prefeitura ou da Riotur. "Ontem mesmo já fiz reclamações a quem é de direito, que são pessoas competentes, mas que não estavam lá. Tenho certeza que isso não vai acontecer mais, até porque a Prefeitura do Rio, a cada ano que passa, vem fazendo melhor os eventos. O problema foi que as pessoas não souberam organizar" - concluiu.

Indignada com o desrespeito, a classe pretende divulgar o ocorrido na mídia e reivindicar algum tipo de retratação dos organizadores do evento.

O SRZD entrou em contato com a Riotur, responsável pela organização do evento, que pediu desculpas pelos acontecimento.

"Era o primeiro réveillon do Parque e temos que fazer adaptações. Pedimos desculpas e podemos dizer que isso não se repetirá"

SIDNEY REZENDE.