A 110 ANOS NASCE PORTINARI; O PINTOR, MILITAR E POLÍTICO



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Cândido Portinari já era um dos principais nomes da pintura mundial em 1952, quando recebeu um desafiante convite da Organização das Nações Unidas: elaborar dois painéis que seriam permanentemente expostos no gigantesco hall de entrada do edifício-sede, em Nova York. A ele caberia propor o tema da obra. Não teve dúvidas. O planeta saíra do mais terrível conflito bélico da História havia sete anos. Sugeriu “Guerra e paz”. Foi aceito sem restrições.
Na volta ao Brasil, sua faceta artística voltada para temas sociais se sobressai. Sua concepção de pintura e de usos das cores muda, por influência dos modernistas. Nos anos seguintes são produzidos quadros como Preto na enxada, O estivador, O sorveteiro, Mestiço e outros. Retratam a pobreza e as duras condições do mundo do trabalho. As telas não apenas ganham destaque entre círculos intelectuais, como incomodam pelo potencial de denúncia.
COMO MILITANTE COMUNISTA
Portinari teve intensa participação na vida política. Embora sua arte não fosse militante, ela deixava clara sua percepção sobre as abissais diferenças sociais no país. Optou por retratar o povo, suas festas, suas manifestações e sua miséria. E criou um estilo peculiar, pessoal e profundamente brasileiro.
Em 1945, disputa uma vaga ao Senado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).Mas é derrotado pelo industrial Roberto Simonsen, do PSD, que realiza uma campanha milionária. O resultado é cercado de polêmicas.
Em entrevista concedida em Roma, em 1979, aos jornalistas Iza Freaza e Albino Castro, o dirigente comunista Diógenes Arruda Câmara denuncia uma suposta fraude na contagem dos votos:
“Nós elegemos um senador, que foi o Cândido Portinari, o grande pintor. Ele foi eleito. Basta dizer o seguinte: o Roberto Simonsen, que havia sido apoiado pelo PSD, pelo Getúlio e por todo mundo, estava atrás da votação de Portinari cerca de 50 mil votos. Essa noite ia ser fechada a ata geral das eleições em São Paulo. Na noite seguinte, para surpresa, os quase 50 mil votos de diferença a favor do Portinari haviam passado milagrosamente… ou melhor dito: foram roubados e passados para Roberto Simonsen. Quer dizer: o Roberto Simonsen não foi eleito pelo eleitorado. Foi eleito pelo Tribunal Estadual Eleitoral de São Paulo. O verdadeiro senador eleito foi Cândido Portinari”.
Simonsen não se pronunciou, mas Portinari ficaria conhecido como “Senador furtado”.
Em 1947, com o crescente alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, vários direitos democráticos são restringidos. Há intensa perseguição nos meios sindicais e o registro do PCB é cassado. No final do ano, com o acúmulo de tensões políticas no horizonte, Portinari muda-se para o Uruguai, onde permanece até o ano seguinte.
Portinari recebe de Prestes carteira de membro do Partido Comunista do Brasil. Ao fundo, Aydano do Couto Ferraz, Dalcídio Jurandir, Pedro Motta Lima (diretor do jornal “Tribuna Popular”) e Álvaro Moreyra. 1946.
Sobre a militância de Cândido Portinari no Partido Comunista do Brasil, ele lembrou que os comunistas fizeram a frente antifascista, uma iniciativa que atraiu Cândido Portinari. “O Partido era a única opção humanista. Tentaram intrigar Portinari com o Partido, mas ele morreu comunista. Até o último suspiro ele era do Partido”, afirmou. João Cândido Portinari comentou que quando os Estados Unidos negaram o visto para o pai inaugurar Guerra e Paz na ONU, as autoridades ofereceram a possibilidade de conseguir reverter a situaçãocaso ele negasse a condição de comunista — proposta veementemente recusada.
O líder comunista Luiz Carlos Prestes, por Cândido Portinari
Segundo João Cândido Portinari, esse compromisso do pai o levou a ignorar a proibição médica de pintar por questão de saúde. “Em meados dos anos 1950 ocorreu a primeira hemorragia. Mas ele jamais poderia deixar de passar essa mensagem de paz em um lugar como a ONU. Pagou um alto preço e acabou falecendo em 1962”, afirmou. Para João Cândido Portinari, a temática da paz, tão cara para o pai, é atualíssima. “Por isso, estamos planejando levar a exposição para Noruega, na entrega do Prêmio Nobel da Paz, e para a China”, disse

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