TRABALHADORAS REIVINDICAM MAIS ESPAÇO NO COMANDO DOS SINDICATOS


Sucesso absoluto. Assim pode ser resumido o 2º Encontro Estadual das Trabalhadoras Rurais e Urbanas, realizado no auditório da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), por iniciativa da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS).



Diante da nova política econômica e social do país, a CTB-RS está amplamente envolvida na elaboração de propostas concretas na defesa de um projeto de desenvolvimento que tenha como centralidade a valorização das mulheres trabalhadoras.

“Certamente esse encontro ajuda a construir uma sociedade mais justa e igualitária, sempre com o olhar da mulher sobre esses temas. No futuro, teremos muitas oportunidades para conversar, discutir, encaminhar o que é preciso fazer em benefício das mulheres. É importante que nós nos aproximemos mais. Isso a CTB-RS tem oportunizado muito para as trabalhadoras rurais e urbanas”, saudou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG-RS), Elton Weber.

“Quando debatemos a construção da CTB, definimos por colocar ‘Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil’ para que as mulheres se sentissem de fato integradas nessa nova construção de uma central sindical que debata os problemas enfrentados pelas mulheres, pelos negros e por todos que sofrem qualquer discriminação, a fim de que a gente construa conjuntamente, entre homens e mulheres, políticas que possam suplantar essas diferenças que prejudicam a luta da classe trabalhadora pela construção de uma sociedade igualitária e justa, onde os direitos das minorias sejam respeitados. Essa tem sido uma das lutas prioritárias da CTB”, sintetizou o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), Guiomar Vidor.

“A nossa Central se distingue das outras por dar o mesmo espaço para as trabalhadoras rurais e urbanas. Nós queremos construir uma nova sociedade e isso será feito através da luta dos trabalhadores do campo e da cidade”, afirmou Sergio de Miranda, em nome da direção nacional da CTB, que completa cinco anos em dezembro.

“Que bom termos em nosso movimento sindical tanta gente com o propósito de lutar para avançar nos projetos que nos motivam. Nós já conseguimos dar muitos passos significativos e importantes na estruturação da CTB e temos a certeza de que a vitória peleada no dia a dia tem muito mais valor do que as palavras escritas no papel e registradas em fotos. Que nós possamos enraizar cada vez mais a CTB no fundo da terra a fim de ajudar nossos irmãos e irmãs que vivem do seu trabalho e se sacrificam com o suor da sua atividade profissional”, exortou o deputado estadual Heitor Schuch (PSB).

“Nós precisamos estar unidas cada vez mais para conseguirmos ter uma sociedade com menos injustiça e desigualdade, principalmente na questão de gênero”, resumiu a secretária da Mulher da CTB-RS, Lenir Fanton.

A secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CTB, Raimunda Gomes, a Doquinha, em sua palestra sobre “A Mulher Trabalhadora no espaço público”, apontou a necessidade da urgente inserção feminina, não só no mercado de trabalho, mas também na liderança dos sindicatos. “Em 2012, a CTB tem tido um papel fundamental junto ao movimento sindical em defesa do emprego e contra a desindustrialização que ocorre no Brasil. Se não fosse pelo envolvimento da CTB, não teriam tido sucesso os movimentos que ocorreram no país em defesa do emprego. E nós, mulheres, estivemos presentes em todas essas grandes lutas em defesa do emprego, da indústria nacional, da queda dos juros, pelo fim do fator previdenciário e na luta pela regulamentação do emprego doméstico, cuja PEC foi recentemente aprovada na Câmara dos Deputados.”

Na avaliação de Doquinha, “está na hora de parar de falar apenas para nós e, sim, para o conjunto do movimento sindical, que são os nossos companheiros homens integrados no processo de discussão de pautas específicas para as mulheres. Abrimos espaço em todos os setores, tanto que hoje as mulheres são 41,7% da população economicamente ativa. Infelizmente, a maioria ainda está na informalidade e não conseguirá se aposentar porque não possui contribuição previdenciária e aos 70 anos terão apenas o benefício da assistência social. Prova disso é que apenas 41,4% das mulheres economicamente ativas possuem carteira do trabalho assinada”, revelou.

Doquinha considera discriminatória a diferença salarial entre os trabalhadores e as trabalhadoras. “Apesar de constatado que as mulheres têm maior escolaridade do que os homens, elas usufruem um salário 28% inferior, mesmo quando assumem um cargo igual e com a mesma jornada de trabalho. É uma vergonha que o Brasil ainda conviva com essa discriminação, o que faz com que nós olhemos para os homens como adversários, sem que a culpa seja dos companheiros que trabalham; a culpa é do processo cultural que se arrasta há séculos”, denunciou.

“Nós ainda somos expropriadas pelo trabalho excessivo porque a jornada dupla está muito mais presente na vida da mulher. Muitas ainda trabalham mais de 18 horas diárias. O trabalho doméstico não é só cozinhar, lavar a louça e limpar a casa, mas inclui ir ao supermercado, levar o filho ao médico, à escola e todos os afazeres e cuidados com a família. E nós ainda estamos muito longe de fazer essa divisão equitativa do trabalho doméstico entre homens e mulheres.”

Outra crítica à discriminação feminina no mercado de trabalho é o baixo percentual da presença das mulheres nos setores considerados de ponta. “Temos 16% na área de tecnologia e 17,7% na indústria e engenharia. Isso demonstra a discriminação quanto à participação da mulher no mercado de trabalho. Os cargos de maior destaque, maior remuneração e mais expressivos são sempre assumidos pelos homens.”

Ao avaliar a participação das mulheres no movimento sindical, Doquinha foi incisiva. “Esse ainda é um espaço bastante masculinizado. Apesar de todos os avanços, temos o movimento sindical dirigido majoritariamente pelos homens, numa reprodução do que ocorre no mundo do trabalho. Todas as questões abordadas pelas mulheres que atuam no movimento sindical são encaradas como ‘coisas de mulheres’. Esse é um termo que a gente abomina, é um tratamento pejorativo. Como sabemos que tudo pode ser dividido, estamos avançando e rompendo essas barreiras ao trazer os homens para o debate. Nós precisamos convencê-los de que as nossas lutas não são ‘coisas de mulheres’. Elas são em benefício do conjunto da sociedade e da classe trabalhadora.”

“As mulheres têm lutado por benefícios previdenciários que não trazem melhorias apenas para elas. Quando as mulheres lutam contra a fome, a pobreza, nós estamos beneficiando o conjunto da sociedade. São menos crianças que morrerão até atingir a idade de sete anos, menos idosos que morrerão porque não têm como se sustentar, menos pessoas que vão para as ruas porque não têm uma casa para morar, são menos pedintes porque não têm um emprego. Portanto, não é uma luta de mulheres, é uma luta pela melhoria da nossa sociedade, pela democratização dos espaços.”

A respeito das cotas, que estão na ordem do dia e pautam todos os segmentos, Doquinha lembrou que o sistema de cota foi uma das estratégias criadas pelo movimento feminista no mundo inteiro na década de 1970 e se ampliou na década de 1990 para dar mais visibilidade à discriminação que existe entre homens e mulheres na sociedade. “Aqui no Brasil ela iniciou pelo movimento sindical. Todas as centrais estabelecem em seus estatutos a cota de 30% para as mulheres. Pena que ela não é cumprida. Então, nós somos precursoras em estabelecer cotas nos espaços de diálogos, de discussão, de debate, de participação política. Depois é que os partidos políticos, por pressão do movimento feminista que atuava no movimento sindical, adotaram a cota de 30% para as mulheres concorrerem.”

Doquinha recorreu aos números para comprovar a escassa representatividade feminina em cargos de liderança sindical. “No último dado do IBGE, as mulheres eram 40% do total de sindicalizados. Só que nos cargos de direção, temos somente 15% das direções dos sindicatos. Se formos aprofundar mais ainda, as mulheres que assumem cargos de presidência nos sindicatos são, em média, 3% a 4% no Brasil. É preciso avançar mais. O nosso poder no movimento sindical passa necessariamente por assumirmos os cargos de comando nos nossos sindicatos porque é lá que acontece a luta mais efetiva e mais ferrenha.”

Segundo Doquinha, é necessário mudar esse padrão, fortalecer a luta, mas trazer o conjunto do movimento sindical para discutir. “Nós defendemos a paridade de 50% na direção dos sindicatos. Temos que construir esse espaço a partir da cota dos 30%. Nela tem que constar todos os novos sindicatos. Temos que estar na mesa de negociação, nos cursos de formação, em todas as plenárias, para podermos avançar e encontrar um terreno favorável para defendermos a paridade. E quando vamos chegar aos 50%? Ainda não se pode prever, mas será no menor tempo possível, não vamos esperar mais 30 anos para chegarmos à paridade sindical.”

Para ampliar a participação feminina o mais breve possível, Doquinha aponta para a união dos trabalhadores e trabalhadoras pela causa. “É preciso que homens e mulheres encampem essa luta, que é coletiva. Se nós não combinarmos com os homens, não teremos como implementar a paridade. Não será na força bruta que vamos conseguir, mas no convencimento. Nós, mulheres, sabemos convencer. Então, temos que fazer com que os homens abram espaços de poder iguais para nós”, finalizou a secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CTB.

Fonte: CTB  

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