Aos olhos dos grandes meios de comunicação brasileiros, definidos por parte da esquerda como o Partido da Imprensa Golpista, Carlos Ayres Britto deixa o Supremo Tribunal Federal coberto de glórias. Na quinta, dia da Proclamação da República, ele havia sido comparado, no jornal O Globo, ao marechal Deodoro da Fonseca (leia mais
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Em sua coluna dominical, publicada no Globo e na Folha, o colunista Elio Gaspari enaltece "Britto, um homem de bem com a vida". Segundo ele, o juiz "deu um exemplo aos costumes nacionais mostrando que na política brasileira há espaço para a suavidade". Gaspari afirmou ainda que Britto "ecoou a serenidade de Tancredo Neves e Fernando Henrique Cardoso, dois mágicos, capazes de fazer com que as crises entrassem grandes e barulhentas em seus gabinetes e saíssem menores". De bem com a própria vida, segundo Gaspari, Britto "melhorou a dos outros".
Também pródiga em elogios, Dora Kramer o definiu como um "algodão entre cristais", apto a julgar o caso mais complexo da história do Supremo Tribunal Federal. "A combinação de suavidade, persistência e firmeza faziam dele o perfil ideal para levar adiante o processo", diz a jornalista. Entrevistado por ela, Britto definiu situações do processo como um "sarapatel de coruja" – expressão típica de Sergipe – e diz que o caso foi "heterodoxo", diante da "gravidade dos crimes e da ousadia dos criminosos".
Coberto de elogios nos grandes meios de comunicação, Britto pode se ver tentado a aceitar o convite de Eduardo Campos para concorrer ao Senado em 2014 pelo PSB do Distrito Federal. Mas, numa longa entrevista à Folha, aos jornalistas Valdo Cruz e Felipe Seligman, ele garantiu que este não é seu plano.
Sobre o julgamento em si, Britto elogiou dois de seus personagens principais: o procurador Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa. "Foram médicos-legistas na autópsia dos fatos delituosos". E afirma que a condenação dos réus abre um novo tempo. "Eu diria que a impunidade sofreu um duro revés, um tranco, por efeito dessa decisão", disse ele.
Britto, que já foi "Carlim do PT", falou dos 18 anos que passou no PT e elogiou os "bons quadros" que restam no partido. Citou, nominalmente, o governador gaúcho Tarso Genro – coincidência ou não, Genro publicou artigos defendendo a legitimidade do processo e foi duramente criticado no PT.
Sobre o fato de ter sido indicado pelo ex-presidente Lula, disse que jamais recebeu qualquer cobrança por isso. "Você não pode ser grato a quem nomeia com a toga. O modo de você, pelo contrário, de honrar a indicação é sendo independente (…) Isso honra os nomeantes. A nossa postura técnica, independente, isenta, desassombrada, é uma postura que honra os nomeantes. Não só os nomeados."
Sobre seu papel no julgamento, Britto diz que foi fiel à sua essência. "O que faço questão é de me reconhecer. Fui eu mesmo nessas questões. Não perdi minha essência, minha mundividência."
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