Segunda edição da ArtRio já é cotada como maior da América Latina Evento, que segue no Píer Mauá até domingo, chama a atenção com 60 galerias internacionais em estandes grandiosos repletos de nomes do primeiro time da arte contemporânea




Espaço de exposição da americana Gagosian, com esculturas de Alexander Calder, Henry Moore e Yayoi Kusama Foto: Leo Martins
Espaço de exposição da americana Gagosian, com esculturas de Alexander Calder, Henry Moore e Yayoi KusamaLEO MARTINS
Às 11h desta quarta-feira, quando a ArtRio abria as portas para os chamados “preferential VIP’s”, os mais importantes colecionadores e convidados, era longa a fila de carros de luxo na entrada da feira, no Píer Mauá. Minutos antes, uma funcionária da produção passava as últimas instruções para a equipe de seguranças:
— Hoje só entra convidado com credencial ou pulseira. Se Jesus chegar aqui sem credencial, não entra!

O comentário entre colecionadores e curadores internacionais é de que já se trata da maior feira da América Latina.Do lado de dentro, o staff ainda circulava com carrinhos de mão entre os quatro armazéns e um anexo que abrigam as 120 galerias da feira neste ano, com obras que custam de R$ 400 a dezenas de milhões de dólares. Na contramão da Bienal de São Paulo, que se define como uma “constelação sem estrelas”, na segunda edição da ArtRio tudo é superlativo: do número de participantes aos startists (algo como “artistas estrelas”), a feira caminha em direção ao espetáculo. Em 13 mil metros quadrados, há espaço para imensas esculturas de Alexander Calder, Yayoi Kusama e Henry Moore, reunidas numa exposição da Gagosian, digna de mostra institucional. Chamam a atenção ainda os amplos estandes da White Cube, da David Zwirner e da própria Gagosian, que, além do anexo, tem seu espaço de vendas.
— É uma das melhores a que já fui — contava, no lounge VIP, Vivian Pfeiffer, vice-presidente da Christie’s, uma das maiores casas de leilões do mundo. — É claro que a Basel (a feira Art Basel, na Suíça) sempre será a Basel, mas a ArtRio caminha para ficar logo atrás. Estou impressionada com a qualidade das obras das galerias internacionais.
A Gagosian, por exemplo, veio munida de quatro Andy Warhol, três Picasso, além de Lucio Fontana, Damien Hirst, Alberto Giacometti, Takashi Murakami e, é claro, fez jus à fama de maior galeria do mundo ao trazer a peça mais cara de toda a feira: “Femme étendue lisant” (1952), de Picasso, à venda por US$ 15 milhões (até o fechamento desta edição, ainda sem comprador). No início da noite, quando os carrinhos de mão dos funcionários já haviam dado lugar ao desfile de telas embrulhadas em plástico-bolha rumo à saída, a Gagosian computava vendas de mais de US$ 5 milhões, com obras de Cecily Brown, Fontana, Murakami e Kusama.
— Só participamos das melhores feiras do mundo. Estar aqui é dar um voto de confiança — diz Victoria Gelfand, diretora da Gagosian de Nova York.
‘Trouxemos o que temos de melhor’
Nesta sexta-feira, o segundo dia da feira aberta ao público, muitas galerias já terão trocado as obras da parede — em especial, as brasileiras, mais entusiasmadas com os negócios. No sofisticado estande da David Zwirner, pela primeira vez no país, o diretor Greg Lulay soava desanimado ao dizer que “ainda é preciso algum tempo para o público brasileiro se acostumar com arte internacional”. Só no fim da noite, ele apertava os olhos claros com um largo sorriso: a galeria havia vendido 50% das obras que levou. Na Stephen Friedman, de Londres, que estreou na ArtRio, a avaliação era semelhante.
— Ainda é muito lenta, no Brasil, a compra de arte internacional. Tenho certeza de que Fortes Vilaça e Luisa Strina (ambas de São Paulo) venderam muito bem — especulava Friedman.
De fato, na Fortes Vilaça, o clima era de comemoração. Segundo a galerista Marcia Fortes, 90% do estande foi arrematado na abertura. A Vermelho, também de São Paulo, informava que 80% dos trabalhos tinham sido comprados anteontem. Na carioca Silvia Cintra + Box 4, segundo a marchande Juliana Cintra, foi vendida uma obra de cada artista que a galeria levou à feira.
Contrariando expectativas — imaginava-se que as gigantes internacionais trariam ao Rio as obras que não decolaram em feiras europeias —, Gagosian, David Zwiner, White Cube, Hauser & Wirth, Sonnabend e Stephen Friedman se armaram com grandes estrelas da arte contemporânea e criaram espécies de miniexposições em seus estandes.
— Trouxemos o que temos de melhor, para mostrar quem somos e a que viemos. Fizemos uma combinação de “blue chip” (termo que se refere às obras mais valiosas) com nomes mais jovens — afirmava a diretora da Gagosian.
Não foi apenas o número de galerias internacionais que cresceu (de 30 no ano passado para 60 neste ano), mas também o de visitantes internacionais, talvez embalados pelo circuito formado pela tríade Bienal de São Paulo, Inhotim e ArtRio.
Dona de uma das mais importantes coleções da América Latina e há dez dias no país, a poderosa Ella Cisneros pedia ao galerista Márcio Botner, da A Gentil Carioca, para, num iPad, mostrar a produção de Thiago Rocha Pitta. No fim de semana, ela deve ligar para fechar o negócio. Antes, porém, já tinha enchido o “carrinho”: comprou trabalhos das brasileiras Renata Lucas, Sara Ramo e Rivane Neuenschwander, do cubano Roberto Diago, da colombiana Johanna Calle “y muchíssimos otros”.
— Vou a todas as feiras e há muito tempo. Zona Maco (no México), SP-Arte (São Paulo), arteBA (Buenos Aires)... Na América Latina, tenho certeza de que a ArtRio é a maior — diz Ella, que, em seguida, pondera: — Os preços da arte brasileira são altos, até para os artistas emergentes. Para um estrangeiro, comprar arte internacional no Brasil não é atrativo, por causa dos impostos, que são altíssimos. Mas, aqui, me fizeram bons preços hoje e decidi levar.
Caravana do MoMA no píer
Um bom termômetro para os contornos internacionais da feira, que segue até domingo, foi a presença da comitiva do MoMA, liderada por Jay Levenson, diretor de programação internacional do museu. Ele, que nunca foi à SP-Arte, conta que o MoMA tem 600 obras de arte brasileira. Segundo Levenson, “o momento que o Brasil vive na arte vai certamente se refletir na coleção do MoMA”. Sobre a ArtRio, ele apontava para o Píer e dizia:
— É fantástico que seja apenas a segunda edição. A feira é enorme. E um grande benefício é ser no Rio, cidade onde todos querem estar agora. Ir a uma feira é uma ótima maneira de ver arte em pouco tempo. Mas não podemos nos limitar a elas.
O GLOBO

 

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