Corpos dos seis jovens mortos em chacina são velados em ginásio

Corpos foram encontrados às margens da Dutra, em Mesquita | Foto: Marcos Antonio Oliveira / Jornal de Hoje


Rio -  Os corpos dos seis jovens mortos no último fim de semana, na Baixada Fluminense, são velados na manhã desta terça-feira no Ginásio Municipal de Nilópolis, no bairro Cabral, onde os rapazes moravam. Christian Vieira, 19, Douglas Ribeiro, Victor Hugo Costa e Glauber Siqueira, 17, e Josias Searles e Patrick Machado, 16, estavam desaparecidos desde sábado, quando saíram de um festival de pipas para se refrescar na cachoeira do Parque de Gericinó.
Cerca de 400 pessoas estão no ginásio, que conta com policiamento da guarda municipal e Polícia Militar. Os rapazes foram localizados nesta segunda-feira por funcionários de uma obra às margens da Rodovia Presidente Dutra, no bairro Jacutinga, em Mesquita. O enterro está marcado para as 13h, no Cemitério de Olinda, no município.
"Quero meu filho. Tem que matar esses assassinos", disse a mãe de Glauber, antes de desmaiar. Outra parente do jovem também passou mal e precisou receber atendimento médico. Alguns caixões estão cobertos com bandeira e camisa do Fluminense. 
A Favela da Chatuba, em Mesquita e Nilópolis, na Baixada Fluminense, foi ocupada na madrugada desta terça-feira por 250 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPchq), com o apoio de fuzileiros navais. Uma parte do efetivo foi levada para a região dentro de quatro blindados da Marinha, que logo deixaram a comunidade. O relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, informou que a ocupação da Chatuba é definitiva. Os PMs estão em busca dos responsáveis pela morte de seis jovens, cujos corpos foram encontrados nesta segunda.
Também foram mobilizados homens da Companhia de Cães, da Coordenadoria de Inteligência da PM e da 3ª Companhia de Policiamento Aéreo. A PM começou a instalar nesta terça uma companhia integrada com 118 policiais. A sede será na localidade do curral, na parte da favela que fica em Mesquita. O local é considerado um ponto estratégico por estar próximo da parte alta da comunidade e do acesso à mata.
Enquanto as obras da sede da companhia não são concluídas, a PM vai instalar contêineres provisoriamente. Por volta de meia-noite, as tropas se concentraram no quartel do Corpo de Bombeiros de Guadalupe, de onde uma hora depois, seguiu em comboio até a favela. Mais de 40 carros do Batalhão de Choque chamaram a atenção de quem passava pela Avenida Brasil.
De acordo com a polícia, que ocupou a comunidade, nas entradas da Chatuba, em Mesquita e Nilópolis, no bairro do Cabral (que dá acesso à Chatuba) até às 6h30, os bandidos não enfrentaram resistência. Não houve troca de tiros.
"Vão com Deus! Tem que invadir mesmo", gritou um morador da Chatuba, em Nilópolis, que mais parecia uma cidade fantasma por ter ficado bastante deserta.
Na comunidade, por volta de 4h, através de um disque-denúncia de que havia drogas numa casa da Travessa Paulo Jorge, 36, os policiais prenderam Luiz Alberto Ferreira de Oliveira, o "Beto Gordinho", de 29 anos. De acordo com a polícia, ele saiu da cadeia há cerca de uma semana, onde ficou preso por 27 dias.
Gordinho teria sido preso por policiais militares do 20º BPM (Mesquita) após ser encontrado com munição de uso restrito. Com o suposto traficante, os policiais do Bope encontraram R$ 15.099 escondidos em uma lancheira infantil, além de 20 gramas de cocaína. O acusado só permitiu a entrada dos militares após a chegada de seu advogado.
Luiz Alberto informou que a droga seria para o consumo próprio, porém a PM encontrou vários elásticos e sacos plásticos para a endolação. Ela também não tem informações se Beto Gordinho participou da chacina de seis jovens, mortos no fim de semana. Às 5h, uma retro escavadeira do Bope chegou na Chatuba para retirar barricadas do tráfico.
Por volta de 6h30, foram presos também Ricardo Sales da Silva, de 25 anos, e Mônica da Silva Francisco, de 20 anos. Com eles, os policiais encontraram 933 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. As embalagens de drogas eram ilustradas com fotografias do jogador holandês Seedorf, no caso do crack, e da cantora inglesa Amy Winehouse, nos papelotes de cocaína. 
Crime pode ter sido cometido por 20 traficantes
O clima era de medo no bairro Cabral, em Nilópolis, nesta segunda-feira, local onde Douglas Ribeiro, de 17 anos, Christian Vieira, 19, Victor Hugo Costa e Glauber Siqueira, 17, e Josias Searles e Patrick Machado, 16, foram assassinados na mata no bairro Jacutinga, às margens da Rodovia Presidente Dutra, em Mesquita.

A polícia investiga se as mortes teriam sido cometidas por ao menos 20 traficantes. PMs do 20º BPM (Mesquita) fizeram rondas pelas ruas. Duas escolas suspenderam as aulas à tarde, e viaturas da polícia fizeram plantão em frente aos colégios estaduais Bartlet James e Marechal Zenóbio da Costa.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Segundo moradores, alunos receberam mensagens pelo celular de que bandidos iam invadir as escolas.“Saímos assustados da escola. Mas não aconteceu nada. Parece que foi boato”, disse o estudante J.P., de 14 anos, da Bartlet James.
Na Marechal Zenóbio da Costa, professores preferiram deixar os estudantes na escola, no turno da tarde, por questões de segurança. Porém, os pais foram buscá-los, e as aulas acabaram suspensas.

“Achamos que era mais seguro deixá-los aqui. A polícia está patrulhando, mas os pais os buscaram”, disse uma professora que não quis se identificar.

“Precisamos de policiamento urgente. O bairro está tomado por medo”, disse um morador que não quis se identificar. Em estado de choque, uma tia e o pai de Glauber pouco falavam durante esta segunda-feira, no IML do Rio, para onde os corpos foram levados. “Neste momento não sei o que dizer e ou o que fazer”, disse a tia.
Mortes brutais

Desaparecidos desde sábado, quando saíram de um festival de pipas para se refrescar na cachoeira do Parque de Gericinó, os rapazes — entre 16 e 19 anos — foram localizados nesta segunda-feira por funcionários de uma obra.

Condenadas a sessão de tortura, as vítimas foram amarradas, baleadas na cabeça e, logo depois, abandonadas sem roupa. O mesmo grupo de bandidos pode ser responsável pela morte de um cadete e um pastor, que estaria com um amigo, que desapareceu.

Foi a segunda chacina em menos de 24 horas na Baixada. No domingo, quatro pessoas foram mortas em uma casa em Japeri. Os criminosos também fizeram terror psicológico com parentes dos garotos. Ao pai de uma das vítimas, um dos bandidos disse por telefone: “Melhor fazer outro filho porque esse aqui já era”.





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