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Amor e ódio nos estádios Violência em torno dos jogos faz até criador da torcida organizada Raça Rubro-Negra evitar os estádios de futebol: “Para que? Levar tiro?”, questiona Claudio Cruz


Rio -  A violência entre as torcidas, responsável  por mortos e feridos no Rio, preocupa famílias, a polícia e afasta torcedores tradicionais das arquibancadas. É o caso docomerciante Cláudio Cruz, de 55 anos, fundador da Raça Rubro-Negra — a maior organizada do estado —, que não vai a estádios há dez anos.

“Para quê? Levar tiro? Facada? Bomba? Paulada?”, justifica Cruz. A violência também afastou das arquibancadas o fundador da Força Jovem do Vasco, Manoel Cunha, o Manoelzinho Reco-Reco, 67. “Não tem mais clima. No passado, saíamos abraçados (torcedores rivais) após os jogos”, lembra. 
Claudio Cruz, fundador da Raça Rubro-Negra, diz que continua amando o Fla, pela TV | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Claudio Cruz, fundador da Raça Rubro-Negra, diz que continua amando o Fla, pela TV | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Hoje, juntar grupos de times rivais é impossível. “Praticamente todas as torcidas têm seus brigões. Gente que sai de casa já com a intenção de ‘matar’ o inimigo”, diz um dirigente, que não quis se identificar. Segundo ele, como atualmente o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) escolta os integrantes até os estádios, os confrontos passaram a ocorrer longe dos campos. “Fazem rotas diferentes da PM e forçam encontros com outras torcidas só para brigar. Muitos, armados”, disse. 
Autor do livro ‘Kamikazes, em nome da paixão”, um dos mais comentados entre os integrantes de organizadas, Fabio Pandora, 40 anos, revelou que a agressividade entre as torcidas se agravou em 2000, com o fim dos bailes funks de corredor, conhecidos como ‘baile de briga’. “Muitos foram para torcidas”, conta o ex-diretor da Young Flu, já atingido por dois tiros e uma facada. Ele já levou 46 pontos na cabeça, precisou de anel de titânio no fêmur direito, próteses de aço e parafusos pelo corpo, após brigas da torcida com a polícia.
Foto: Arquivo O Dia
Foto: Arquivo O Dia
DIVISÃO POR FACÇÕES
A relação da PM com os grupos de torcedores, que já foi marcada por conflitos, melhorou. “Depois que começamos a fazer a escolta dos grupos a caminho dos estádios, criamos uma relação mais amena. Até mesmo dentro dos estádios, onde conseguimos controlar os conflitos”, comemora o comandante do Gepe, tenente-coronel João Fiorentini.
Segundo ele, outra melhora foi a diminuição da influência do tráfico nas organizadas. “Tinha divisão por facções, mas o problema tem diminuído”, avalia o Fiorentini. Ele diz que os agressores geralmente são jovens de 16 a 22 anos, consumidores de álcool e de drogas.
Torcedores não andavam armados
Foto: Arte O Dia
Foto: Arte O Dia
Cláudio Cruz pondera que as brigas antes não envolviam armas. “Confrontos existiam. Mas, após os jogos no Maracanã, as torcidas rivais se juntavam e iam para as quadras da Mangueira e Vila Isabel. Eram apenas agressões físicas. Mortes, hoje provocadas por psicopatas que se transvestem de torcedores, eram raras”, argumenta Cruz, que prefere continuar demonstrando a sua paixão pelo Flamengo em casa, pela TV. O empresárioteve papel de destaque nos tempos áureos em que torcedores, segundo ele, iam aos estádios por amor aos seus clubes.
Para o psicólogo Raphael Zaremba, professor de Psicologia do Esporte da PUC-RJ, a maioria dos torcedores é pacífica, mas alguns jovens com inclinação para violência se sentem potentes quando estão em grupos. “Essas pessoas, quando aglomeradas, acabam provocando confusões em qualquer lugar, disseminando a violência”, diz.
CHARANGA, A PRIMEIRONA
Foto: Arte O Dia
Foto: Arte O Dia
A primeira torcida organizada e uniformizada do Rio foi a Charanga do Flamengo. Fundada por Jayme de Carvalho — um dos torcedores mais fanáticos pelo clube , morto em 1976 — , sua primeira aparição foi durante um Fla-Flu, no ano de 1942. 
No livro “Acima de Tudo Rubro-Negro/o Álbum de Jayme de Carvalho”, escrito por por Cláudio Cruz e o jornalista Wilson Aquino, os autores contam a história da famosa charanga, que hoje se apresenta somente em eventos sociais e festivos do rubro-negro.
Nos primeiros anos, a charanga chegou a sofrer restrições de adversários do Flamengo, que se queixavam do barulho. Num jogo em que o time ganhava de 4 a 0 do São Cristóvão, o juiz suspendeu a partida, depois que o goleiro reclamou que não conseguia se concentrar com aquela “bandinha” o infernizando atrás do gol. 
“Depois, a presença da irreverente charanga, a primeira a levar marchinhas de carnaval para os estádios, passou a agradar até os adversários”, relembra Cláudio Cruz.
Foto: Arte O Dia
Foto: Arte O Dia

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