Polícia recupera mais carros roubados, mas peças são retiradas para venda em 'Robautos'

Rio -  A venda de peças sem nota fiscal nas "Robautos" — feiras de peças de carros roubados, denunciadas pelo DIA desde domingo — não é abastecida somente pelos ferros-velhos. Boa parte desse material é extraída de veículos abandonados nas ruas da cidade.

Estatística do Instituto de Segurança Pública mostra um aumento de 20,5% no número de veículos recuperados pela polícia de janeiro a maio deste ano. O saldo passou de 6.502 em 2011 para 7.837 em 2012. Os carros encontrados abandonados geralmente são ‘depenados’ por bandidos para a venda de peças nas feiras.

Carro abandonado na Rua Silva Mourão teve peças retiradas. Segundo moradores, situação é comum na área | Foto: João Laet / Agência O Dia

Algumas ruas na Zona Norte, por exemplo, funcionam como depósitos. É o caso da Rua Tenente França, no Cachambi, onde dois veículos estão abandonados há semanas. Segundo moradores do bairro, sempre há carros deixados no local.

O mesmo acontece, ainda de acordo com moradores, na Rua Silva Mourão, no bairro, que fica próximo ao Jacarezinho, área onde ocorrem muitos roubos de carro.

“Na verdade, a polícia não recupera, só recolhe os carros abandonados por bandidos”, afirma o ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel PM de São Paulo, José Vicente da Silva.

Para o especialista, cerca de 50% dos carros roubados são usados para cometer outros crimes ou para retirada de peças. Duas feiras de produtos vendidos sem nota fiscal funcionavam livremente aos domingos: a feira de Acari e a do bairro Areia Branca, em Belford Roxo, Baixada, onde O DIA flagrou até uma viatura circulando sem reprimir os criminosos. Após a denúncia, o 39º BPM (Belford Roxo) fez apreensões e decidiu pedir o fechamento da feira à prefeitura.

Bandido larga veículos perto de casa

Estudo coordenado pelo coronel José Vicente, em São Paulo, no início dos anos 2000, mostrou que a região onde o carro roubado é abandonado é a pista para encontrar os bandidos.

“Mapeamos os locais onde eram mais encontrados veículos roubados abandonados. Através de impressões digitais e cruzamento de dados, provamos que os bandidos, em geral, largam o carro em locais próximos das casas deles. Tão próximos que poderiam ir a pé”, detalhou o coronel.

Segundo o trabalho, são áreas de periferia, muitas delas favelas, com pouco policiamento ostensivo. “O bandido não vai pegar uma condução. No máximo, o comparsa vem buscá-lo de moto para levá-lo até em casa”. Veja abaixo o vídeo registrando as "Robautos":

FONTE: O DIA