Judoca e corredora serão primeiras mulheres a competir pela Arábia Saudita em Jogos Olímpicos Jogos de Londres serão os primeiros a terem delegações femininas de todos os países participantes




Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani chega a Londres com o pai Foto: Marwan Naamani / AFP Photo
Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani chega a Londres com o paiMARWAN NAAMANI / AFP PHOTO
LONDRES — As duas mulheres que se tornarão as primeiras atletas femininas a competir pela Arábia Saudita em Jogos Olímpicos trilharam caminhos muito diferentes para chegar a Londres. Uma delas é uma corredora criada na Califórnia, que passou pouco tempo na Arábia Saudita e espera se tornar uma "grande inspiração" em seu país, onde há severas restrições para a vida pública das mulheres, efetivamente banindo-as do esporte. A outra pratica judô, mas raramente deixou a Arábia Saudita e nunca competiu.

Enquanto Sarah Attar corria no cross-country por seu colégio nos EUA, Wojdan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani assistia judô na televisão e ouvia os irmãos conversando sobre o esporte. Um dia ela disse a seu pai, técnico e juiz internacional do esporte, que gostaria de treinar.
"Ela disse, 'quero ser como você, quero ser muito boa'", disse o pai, Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani, "Respondi que se ela queria isso, eu a treinaria em casa."
A Arábia Saudita permitiu a participação da duas depois que o Comitê Olímpico Internacional e grupos de diretos humanos fizeram forte pressão para que o reino parasse de enviar equipes exclusivamente masculinas para os Jogos. Depois que Catar e Brunei anunciaram que enviariam mulheres, a Arábia Saudita passou a ser o único país sem equipes femininas. Agora, os Jogos de Londres serão os primeiros da história com mulheres em todas as delegações.
As mulheres na Arábia Saudita não podem se registrar em clubes ou ligas de competição. Elas são proibidas de participar de qualificações nacionais, com isso não podem ir a competições internacionais, como os Jogos Olimpicos. Attar e Shahrkhani foram inscritas no início do mês pelo Comitê Olímpico da Arábia Saudita. Nenhuma das duas se classificou tecnicamente, mas receberam convites especiais "baseados na qualidade das atletas", segundo Jacques Rogge, dirigente do COI.
Attar é uma jovem estudante de arte de 19 anos com cidadania americana e saudita. O esporte fez parte de sua vida enquanto ela crescia em Escondido, na Califórnia, mas ela não compete desde que entrou na universidade, no início do ano. Sem técnico, ela correu 1.500 metros em 5:30.51 e 3 mil metros em 11:37.41. Nos Jogos de Londres, vai competir nos 800 metros, nos dias 8 e 11 de agosto.
Criada nos EUA, Attar não foi submetida às restrições que se aplicam às mulheres na Arábia Saudita. Numa foto no site de sua escola, ela aparece vestindo short e uma camisa sem manga. No país arábe, as mulheres podem ser punidas pela polícia religiosa por mostrar o cabelo em público. Elas podem ser presas sob a lei islãmica se saírem na rua com calça e camisa para uma corrida matinal.
Após a inclusão na equipe olímpica, Attar deu uma entrervista ao COI usando camisa de mangas longas e calça, com o cabelo coberto. Mas ela não ignorou as profundas diferenças culturais entre seus dois países.
"É uma grande honra", disse ela, "Espero que eu possa incentivar as mulheres de lá a se interessarem mais pelo esporte", falando diretamente para as sauditas, acrescentou, "A qualquer mulher que queira participar, eu digo que vá, não deixe ninguém te impedir".
Shahrkhani, de 18 anos, vai competir na categoria acima de 78 kg, no dia 3 de agosto. Além de algumas sessões ocasionais com uma técnica em Abu Dhabi e no Egito, ela treinou em casa na cidade sagrada de Meca.
"Minha filha se tornou muito boa rápido", diz o pai e treinador, "Ela treina há apenas dois anos e nos Jogos Olímpicos vai competir com campeãs".
As mulheres em países islâmicos vem se interessando cada vez mais por competições esportivas. O box feminino vem crescendo no Afeganistão, assim como o críquete no Paquistão, o futebol e levantamento de peso nos Emirados Árabes e o rugby no Irã.
Treinar um esporte individual como o judô demonstra a coragem de Shahrkhani, disse a técnica Dilyara Safina, que vem treinando a atleta há três meses em Abu Dhabi.
"Ela pode ficar preocupada por ser faixa azul e lutar contra faixas pretas", avalia, "Espero que ela tenha sucesso em Londres, pois tenho certeza que poderá conquistar uma medalha nos próximos Jogos".
Os pais e irmãos de Shahrkhani estarão lá para torcer por ela. Para seu pai, ela já é uma campeã.
"Tenho muito orgulho de ir com minha filha para Londres, com a bandeira de meu país", disse ele, "Eu e minha filha faremos história"
O GLOBO

 

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