Golpe irregular elimina judoca brasileira 'descoberta' brigando na rua


Rosicleia Campos e treinadora
A atleta, consolada pela treinadora Rosicleia Campos, precisou de uma hora para se recompo
A judoca Rafaela Silva, que era a grande esperança de medalha do Brasil nesta segunda-feira nos Jogos de Londres, foi eliminada das Olimpíadas na sua segunda luta após derrubar sua rival com um golpe irregular.
O erro, feito em uma fração de segundos – e admitido pela atleta –, pôs fim a uma jornada de quatro anos que começou na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

Rafaela Silva foi acolhida pelo Instituto Reação, do judoca brasileiro Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas 2004. A ONG usa o judô para dar oportunidades a crianças de comunidades carentes no Rio de Janeiro.Aos 12 anos, Rafaela Silva era considerada arruaceira e se metia em várias brigas de rua. Foi quando conheceu o técnico Geraldo Bernardes, que percebeu o talento da jovem para o judô.
No último ano, a carioca de 20 anos chamou atenção pelos bons resultados. Foi medalha de prata no Jogos Pan-Americanos e está em quarto lugar no ranking na categoria leve – de até 57 kg.

Lutas

Rafaela Silva começou o dia com uma vitória tranquila sobre a alemã Myrian Roper – após duas penalidades para a alemã e um yuko da brasileira.
Na luta seguinte, contra a judoca húngara Hedvig Karakas (16ª no ranking), Rafaela conseguiu aplicar um golpe e derrubar a adversária. Inicialmente, o árbitro marcou um wazari (a segunda melhor pontuação do judô) para a brasileira, mas logo a decisão foi objeto de consulta na mesa de juízes.
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Poucos minutos depois, o árbitro anunciou o hansoku-make – eliminação imediata da brasileira. Rafaela desequilibrou a adversária agarrando a sua perna – um golpe que não é mais permitido no judô.
A atleta ficou inconsolável e precisou de quase uma hora para se recompor e conseguir falar com os jornalistas sobre a desclassificação.
Rafaela admitiu que cometeu o erro, mas que acreditou que não seria punida. Ela achou que Karakas já estava desequilibrada e que – ao agarrar a perna da adversária – não estaria influenciando na queda da húngara.
"Eu senti ela descendo e botei a mão na perna. Achei que já tinha sido dado o golpe. Achei que podia", disse Rafaela, que disse esperar poder competir nas Olimpíadas na sua cidade natal daqui a quatro anos.
O técnico Ney Wilson disse que a decisão da arbitragem é incontestável.
"Foi justo. Ela fez o golpe da maneira clássica que fez com que isso fosse proibido no judô", disse Ney. "A dor dela é justamente porque ela sabe que foi culpa dela."

Dia sem medalhas

Após o início arrasador do Brasil no judô, com o ouro de Sarah Menezes e o bronze de Felipe Kitadai, o país ficou sem medalhas pelo segundo dia consecutivo no esporte considerado o "carro-chefe" pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
O judoca Bruno Mendonça, que venceu sua primeira luta aplicando o primeiro ippon brasileiro em Londres 2012, foi eliminado no confronto seguinte pelo holandês Dex Elmont.
Bruno tomou duas punições que, somadas, acumulam um yuko (pontuação mínima) para o adversário. O judoca brasileiro não criticou a arbitragem, e disse que precisa trabalhar melhor sua "hesitação" em começar os golpes contra seus adversários.
O técnico Ney Wilson disse que as quatro derrotas consecutivas dos judocas brasileiros não são "nada fora do previsto". Para ele, é normal que alguns atletas que estão entre os favoritos – como Leandro Cunha e Rafaela Silva – percam para rivais em colocações piores no ranking, da mesma forma que Sarah Menezes e Felipe Kitadai conseguiram superar adversários tidos como mais fortes.
"O Brasil ainda tem bastante munição para tentar conquistar medalhas nos próximos dias. Erros e acertos existem", disse Wilson. Ele afirmou que diante da eliminação dramática de Rafaela Silva, a Confederação Brasileira do Judô (CBJ) se preocupou em isolar os demais brasileiros que ainda disputarão os Jogos, para que eles não se deixem influenciar pelos maus resultados desta segunda-feira.
A meta do judô brasileiro é conquistar pelo menos mais duas medalhas nestas Olimpíadas, além das duas obtidas no domingo. Outra meta da CBJ – que era fazer uma final feminina – já foi cumprida por Sarah Menezes.

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