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Em ação histórica, Dom Eugenio ajudou a salvar Favela do Vidigal


  Reunião na residência oficial do então arcebispo do Rio, Dom Eugenio Sales, salvou pequena favela que nascia com vista privilegiada para o mar.

Diante da remoção iminente do Vidigal, ele convidou para um fim de semana no imóvelmoradores do morro e juízes que iriam decidir sobre as ações de despejo. O sucesso do encontro foi o marco inicial da Pastoral de Favelas, uma das ações sociais que marcaram a vida do cardeal.

Luto na Igreja Católica: morre dom Eugenio Sales

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Aos 91 anos, dom Engenio Sales era o cardeal mais antigo do mundo
Com a possibilidade de serem transferidos para Santa Cruz, a 30 km de distância,moradores do Vidigal recorreram ao cardeal. D. Eugenio buscou advogados e promoveu encontro em 1978 que solucionaria o problema. A intervenção mudou a política fundiária na cidade, dificultando remoções de favelas.
“Testemunhei uma senhora que se dirigia respeitosamente a um juiz, dizendo: ‘Doutor, sou viúva e mãe de cinco filhos. Passei minha vida toda construindo minha casa e agora o senhor quer assinar minha sentença de despejo’.
No fim do encontro, não só esse juiz, mas todos os outros, passaram a questionar que tipo de direito era esse que não olhava a parte social. A lei estava correta, mas não para quem perde o lar”, lembra o coordenador da Pastoral, monsenhor Luiz Antônio Lopes.
Natural de Acari, Rio Grande do Norte, D. Eugenio se destacou pelo pioneirismo nas ações sociais. Bispo auxiliar de Natal aos 34 anos, ele criou a primeira Comunidade Eclesial de Base. Também participou da fundação do sindicato de trabalhadores rurais e desenvolveu a Campanha da Fraternidade, adotada pela CNBB.
No Rio, aonde chegou em 1971, D. Eugenio desenvolveu série de pastorais, como a do Menor e das Favelas.
D. Eugenio, morto aos 91 anos, será o segundo cardeal enterrado na Catedral Metropolitana. O primeiro foi Dom Jaime Câmara, em 1971. “Quero manifestar meus pêsames aos bispos, seus auxiliares, ao clero, às comunidades religiosas e aos fiéis da Arquidiocese, que tiveram por três décadas um intrépido pastor”, escreveu o Papa Bento 16 em telegrama.
Comoção entre fiéis
Era meio-dia quando o caixão com o corpo de Dom Eugenio Araújo Sales, mais antigo cardeal do Brasil e arcebispo emérito do Rio, chegou à Catedral Metropolitana. Sinos ecoaram; não só pela Avenida Chile, mas pela cidade toda.
As 262 paróquias cariocas prestaram homenagem ao “intrépido pastor”, nas palavras do Papa Bento 16. No caixão rente ao solo da nave, num gesto que resumiu a humildade com que conduziu a Arquidiocese do Rio de 1971 a 2001, uma pomba branca velava, tranquila, o velório do religioso, que prossegue nesta quarta-feira.
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Num gesto de humildade, caixão de Dom Eugenio Sales ficou rente ao chão da Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Ele será enterrado na cripta às 15h. O Rio ficará de luto até amanhã. O cardeal faleceu na noite de segunda-feira, de enfarte, dormindo.
Em meio a 500 comovidos fiéis que aguardavam a chegada do corpo de D. Eugenio, que seguia em cortejo, Gilberto Almeida, voluntário da Cruz Vermelha, tinha razão a mais para se emocionar. Foi de suas mãos que partiu a pomba que pousou no caixão do arcebispo, logo após deixar o carro dos bombeiros. A ave só se afastou uma hora depois, mas não saiu da nave.
“Não imaginava que ela ficaria tão perto de Dom Eugenio. Me sinto abençoado porque tenho certeza de que ele estava entre nós”, conta Gilberto, que deve sua fé ao arcebispo emérito.
“Ele abriu as portas da igreja para a minha família quando ficamos desabrigados após uma enchente na Praça da Bandeira, em 1964. Virei católico por ele”.
Assim como Gilberto, outros admiradores de D. Eugenio estiveram ontem na catedral para prestar a última homenagem ao religioso. O paraibano Wilson Faria, de 81 anos, lembra do dia em que pediu um autógrafo ao cardeal.
Foto: Jorge Marinho / Agência O Dia
Em 92, inaugurando o Conjunto Marcílio Dias, na Penha | Foto: Jorge Marinho / Agência O Dia
“Estava no mesmo voo que ele, indo para Lisboa. Tinha um folheto de oração na bolsa e pedi para ele assinar. Ele não só assinou como fez uma oração para mim”, conta Wilson, que usa o folheto como amuleto há 30 anos.
Prece na candelária
Do alto do caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão de Dom Eugenio percorreu 15 quilômetros de Inhaúma, onde o corpo foi embalsamado, até a catedral. O cortejo foi acompanhado pelo reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo, e representantes do estado.
Ao chegar à Igreja da Candelária, padre Omar celebrou uma prece em frente ao corpo do cardeal. Mais de 50 pessoas se reuniram para escutar o religioso. “A Candelária é um marco na trajetória de Dom Eugenio no Rio e merece uma oração especial”, explicou
Em silêncio, bispo lutava para ajudar perseguidos pelo regime militar
De forma silenciosa, Dom Eugenio Sales também ajudou pessoas perseguidas pelos regimes militares da América do Sul, entre 1976 e 1982. Ele chegou a alugar 80 imóveis em 14 bairros da cidade para abrigar os refugiados, apesar de ser rotulado como líder conservador.
“Essas coisas dependem mais da posição de quem quer nos rotular”, ponderou em certa ocasião. Cultivando relações com os generais, ele estabeleceu importantes ligações para ajudar presos políticos.
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
D. Eugenio teve de pedir autorização ao Vaticano para ser ordenado. Tinha 23, um ano a menos queo mínimo exigido | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
“Embora tenha tido relação amena com a ditadura, ele praticou a solidariedade cristã. Dom Eugenio tentou evitar atrocidades do regime, amparando exilados e ajudando a procurar desaparecidos, sempre utilizando contatos com a alta hierarquia militar.
Embora não concordasse com nossa visão, várias vezes tentou nos tirar do sufoco”, relembra o deputado federal Chico Alencar.
O homem de Deus - Francisco Ivern, S.J, vice-reitor da PUC-Rio
D. Eugenio não era um grande teólogo, nem um grande pensador, nem um homem que ficasse conhecido pelos seus escritos ou pelas brilhantes homilias. Mesmo assim, a julgar pelo tempo e espaço que lhe dedicaram os meios de comunicação ao saber do seu decesso, o impacto que a sua morte causou foi profundo.
Por quê? Esse impacto não se deveu simplesmente ao fato de que ele esteve à frente da Diocese do Rio durante várias décadas e tornou-se parte da cidade. Não. Sua morte teve grande repercussão no Brasil e fora do Brasil.
Eugenio Sales era um homem entregue à tarefa que a Igreja lhe confiou: primeiro em Natal, depois em Salvador e finalmente no Rio. E, segundo ele, essa tarefa significava não apenas ser fiel à Igreja e ao Papa, mas, sobretudo, ao espírito de amor que constitui a alma do cristianismo.
Dom Eugenio ficou conhecido não apenas por ser um homem prudente, reto, sempre atento e educado, mas por ser um homem que, silenciosa e espontaneamente, saía ao encontro dos pobres e dos mais necessitados. Quando estava ainda em Natal, foi um promotor no Brasil das ‘Rádios Populares’ que tinham surgido na Colômbia.
Já naquele tempo promoveu o diaconato permanente de pessoas casadas, porque desse modo se poderia prestar um melhor serviço ao povo de Deus.
Foi também um dos promotores das Comunidades Eclesiais de Base, consideradas hoje a ‘vanguarda’ da Igreja.
Ficou também conhecido por ter sempre uma porta aberta para acolher a refugiados e perseguidos por motivos políticos. Detrás da aparente timidez, do seu semblante um tanto severo, da sua conhecida fidelidade à doutrina, escondia-se um homem bom, um homem sensível, inspirado sempre pelo espírito de amor e de serviço que constitui a essência do cristianismo.
FONTE; O DIA

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