Além de dólar, Argentina também restringe compra de reais

Nota de R$ 10 | Foto: BBC

Governo argentino diz que proibição de compra de moedas estrangeiras é medida contra crise


As medidas do governo argentino para restringir a compra de moedas estrangeiras incluem o real, segundo informam à BBC Brasil as assessorias de imprensa do Banco Central e da Administração Federal de Ingressos Públicos (AFIP, equivalente à Receita Federal).
"As medidas não são apenas para a compra de dólares, mas para reais e qualquer outra moeda estrangeira", esclareceram.
Na quinta-feira, o governo formalizou a "suspensão" de compra de moeda estrangeira para a poupança, segundo comunicado do Banco Central.
As medidas de restrição ao câmbio começaram a ser aplicadas em outubro do ano passado, após a reeleição da presidente Cristina Kirchner.
Em junho as medidas foram ampliadas aumentando as queixas dos argentinos acostumados, pelo menos desde a década de 1970, segundo economistas, a comprar e vender imóveis em dólares e a poupar, principalmente, na moeda americana.

Aprovação e exceções

Na prática, atualmente toda operação realizada pelas casas de câmbio argentinas deve ser aprovada pela AFIP.
Uma pessoa que queira viajar ao exterior deve informar o destino e quantos dias de viagem tem programados para justificar a compra de moeda estrangeira.
Caso a viagem seja cancelada, o governo dá um prazo de "cinco dias úteis" para "devolver" a moeda adquirida no mesmo local onde realizou o câmbio, segundo informação da imprensa local.
Oficialmente, as medidas não afetariam o turismo, mas as agências de viagens reclamam que as restrições atingem o setor, segundo as associações do setor.
Também passou a ser comum compradores de imóveis apelando à Justiça para conseguir autorização para adquirir dólares para a compra destas propriedades.
"A Câmara Federal da localidade de General Roca ratificou a restrição, impedindo que um petroleiro, que justificou sua renda, comprasse US$ 125 mil para a compra de um apartamento", informou o jornal El Cronista nesta sexta.
Também passaram a ser freqüentes entrevistas nas rádios locais com palestrantes convidados para conferências no exterior ou familiares de pessoas que precisam de dinheiro em outro país e que dizem não receber a autorização dos fiscais para a compra de moedas estrangeiras.

Reais

As restrições têm levado turistas argentinos a perguntarem informalmente aos residentes brasileiros em Buenos Aires onde podem comprar reais longe do controle da AFIP.
"Existe algum lugar onde os brasileiros compram reais aqui sem o controle da AFIP? Viajo de férias no fim de semana para Foz do Iguaçu e queria levar alguns reais. Vou de pacote e já está tudo pago, mas queria uns reais pelo menos para a cerveja", disse um argentino que trabalha em um banco no bairro da Recoleta.
Com a forte presença de turistas brasileiros no país, algumas lojas, restaurantes e vendedores ambulantes passaram a aceitar reais, nos últimos tempos. "Porque é uma forma de poupar para minha viagem de férias", disse, no ano passado, um vendedor do calçadão da rua Florida, na capital argentina.

Crise e tradição

O economista Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, entende que as iniciativas de controle cambial e de controle de importações estão "diretamente ligadas às necessidades fiscais" do governo.
"O governo precisa de dólares em caixa", disse. O governo argumenta que as restrições fazem parte da bateria de medidas para evitar o contágio pela crise internacional.
Tradicionalmente, os argentinos das classes média e alta poupam na moeda americana "como forma de se proteger do histórico inflacionário do país", de acordo com o economista Carlos Melconian.
"O dólar sempre foi um refúgio, uma forma de proteger a perda do nosso dinheiro com a inflação", disse.
Recentemente, a presidente Cristina Kirchner anunciou que passaria para pesos, a moeda local, sua poupança em dólares.

Críticas

Críticos do governo, como o colunista de economia do jornal La Nación, Jorge Oviedo, acreditam que as restrições cambiais e de importações estariam contribuindo para "desacelerar a economia". No caso das importações, o setor produtivo reclama que precisa de insumos para sua cadeia de fabricação.
"Vim a Mendoza porque estou pensando em mudar minha fábrica de perfumes para cá e assim tentar trazer de carro do outro lado da fronteira, no Chile, as embalagens de vidro que preciso para meus produtos e que hoje não posso importar legalmente estando em Buenos Aires", disse um pequeno fabricante de perfumes, pedindo o anonimato.
FONTE: BBC

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