Ronaldinho rescinde contrato com o Flamengo e cobra R$ 40 milhões Jogador consegue liminar que o libera do vínculo com o clube, 17 meses após sua chegada





RIO - Esta quinta-feira marca o fim do relacionamento entre Ronaldinho Gaúcho e o Flamengo. O jogador ingressou pela manhã com ação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro para deixar o clube e cobrar R$ 40.177.140,00 de indenização por quebra de contrato, já que o clube não vem lhe pagando salários. A sentença favorável ao jogador foi dada pelo juiz substituto da 9ª Vara do Trabalho, segundo informou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois em seu site (saiba mais aqui).
— Ronaldinho teve o contrato rescindido judicialmente, tudo ocorreu tranquilo, em paz, como nós esperávamos — informou, em entrevista na TV, a advogada Gislaine Nunes, contratada pelo jogador.
Durante todo o dia a situação foi de tensão. O vice de futebol do Flamengo, Paulo César Coutinho, revelou, de madrugada, em conversa com torcedores em Teresina, que foi gravada por um deles e parou no You Tube (veja o vídeo acima), que o craque tinha sido afastado. Mais tarde chegou a ser noticiado que o Flamengo confirmava o afastamento. Mas, no Piauí,onde o time enfrenta uma seleção do Piauí na noite desta quinta, o diretor de futebol, Zinho, disse que Coutinho tinha se precipitado e que qualquer decisão só seria tomada quando a delegação voltase ao Rio de Janeiro.
— Vou ouvir as explicações e em cima disso tomar a decisão. No momento, o Ronaldo é jogador do Flamengo — disse Zinho em entrevista coletiva em Teresina, no fim da manhã.
Ronaldinho não se reapresentou na manhã de terça no Ninho do Urubu, após a folga de segunda, porque tinha sido liberado para acompanhar, em Porto Alegre (RS), o tratamento de saúde da mãe, dona Miguelina. Na quarta ele teve, segundo o clube, liberação para continuar no Sul e por isso não viajou com os companheiros para o Nordeste. Ele teria escutado de Zinho que ficasse à vontade e decidisse quando se sentiria bem para voltar ao trabalho. Na quarta, contudo, não apareceu no treino nem no embarque no Galeão. E tampouco entrou em contato com alguém no clube.
Na conversa com os torcedores, Paulo César Coutinho reclamou da postura do atacante, que não teria tido o cuidado de telefonar para os drigientes e avisar que precisaria ficar com a mãe.
— Se ele ligasse: “Coutinho, estou mal de cabeça pelo caso da minha mãe”. Eu iria falar: “Pode segurar a onda”. Agora, não aparecer e não dar nenhuma satisfação?! Acabei de falar com a presidente do Flamengo. Já está afastado. Patricia pediu para se desculpar com o povo do Piauí — afirmou o vice de futebol na conversa registrada em vídeo com um aparelho celular.
Durante o diálogo, Coutinho se referiu ao jogador com um palavrão.
— Quem você acha que vai ganhar? O Flamengo tem 100 anos. O Ronaldinho não joga p... nenhuma.
Depois da repercussão do vídeo, Coutinho voltou atrás. Aos jornalistas, em Teresina, confessou que não havia conversado com a presidente Patrícia Amorim, ao contrário do que dissera aos torcedores.
— Na verdade não tinha falado com ela. Exagerei, errei e peço desculpas à minha presidente. Vamos conversar a respeito e depois tomar uma decisão. Decisão que não cabe a mim, mas à presidente. Eu me sinto à vontade para continuar — disse.
Crise se arrasta há tempos
Desde janeiro deste ano o Flamengo arca sozinho com o pagamento do salário de Ronaldinho. No fim de 2011, insatisfeita com o clube e à espera de uma assinatura de contrato para formalizar a parceria, a Traffic, empresa que bancava mais da metade dos vencimentos do jogador, interrompeu o pagamento da sua parte. O Flamengo quitou o que ficou para trás e assumiu por sua conta dali para frente. Mas não teve recursos para manter o pagamento em dia. O clube diz que deve pouco mais de R$ 2 milhões, mas Assis, irmão e empresário do jogador, costuma afirmar que o valor chega aos R$ 5 milhões.
Paralelo à questão financeira, o baixo nível técnico apresentado pelo jogador em campo foi aumentando a crise e tornando a relação com o clube e a torcida mais difícil. Sem conseguir boas atuações e bastante contestado, Ronaldinho falou em abril pela primeira vez, ainda que veladamente, na possibilidade de deixar o clube. Na ocasião, disse, após a vitória por 2 a 1 sobre o Vasco que garantiu o time na semifinal da Taça Rio, que esperava sair pela porta da frente (relembre aqui). As eliminações na Libertadores e no Campeonato Carioca geraram mais desgaste.
Há dez dias o Flamengo viveu uma situação constrangedora e inusitada com Assis, o irmão e empresário de Ronaldinho. Ele entrou na loja da sede da Gávea e levou 25 camisas oficiais e outros artigos licenciados, num incidente que precisou da interferência do vice-presidente de Finanças do clube, Michel Levy, que intermediou com o fornecedor de material esportivo a liberação do material (relembre aqui). Na ocasião, o colunista do GLOBO Renato Maurício Prado chamou a atitude de Assis de "cafajestada vergonhosa" e comentou no blog RMP que o Flamengo tinha virado "casa da mãe Joana".
No sábado passado, no empate em 3 a 3 com o Internacional, no Engenhão (veja fotogaleria), Ronaldinho, ao ser substituído pela primeira vez desde que o técnico Joel Santana assumiu o comando do time, em fevereiro, siu de campo debaixo de muitas vaias. Não se manifestou e também não retornou mais ao Flamengo.
Dezessete meses de relacionamento
Ronaldinho Gaúcho chegou à Gávea no início de 2011, após o Flamengo vencer uma disputa com Grêmio e Palmeiras por sua contratação junto ao Milan.
— Agora eu sou Mengão! — bradou Ronaldinho ao microfone na festa para recebê-lo, diante de uma multidão de 20 mil pessoas, com direito a bateria da escola de samba Mangueira e várias celebridades, em 12 de janeiro daquele ano.
No primeiro semestre de 2011, embora sem o destaque esperado, conquistou o título invicto do Estadual e teve um bom início de Campeonato Brasileiro, com destaque para os três gols na vitória marcante de virada sobre o Santos por 5 a 4, na Vila Belmiro.
A partir do segundo semestre, no entanto, caiu de rendimento, ao mesmo tempo em que começava a novela nos bastidores sobre o seu pagamento. A conhecida inclinação pela noite gerou situações constrangedoras para o clube, que se eforçava em disfarçar notícias de que o craque se apresentava ao Ninho do Urubu sem condições de treinar.
No início de 2012, Ronaldinho entrou em atrito com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que pedia à direção do clube providências para punir a falta de disciplina do jogador. A essa altura Ronaldinho já vivia uma rotina de dispensas de treinamento, especialmente na parte da manhã. O jogador venceu a queda-de-braço com Luxemburgo, que foi demitido no início de fevereiro.
Joel Santana assumiu o time com discurso conciliador. Mas nem "Papai Joel", conhecido por seu estilo boleiro, amigo-de-jogador, suportou. O técnico dava sinais visíveis de insatisfação com seu camisa 10. Depois de pronunciar que "craque é craque" e que Ronaldinho era intocável por sua condição de extra-série, o treinador parece ter mudado de ideia ao sacá-lo do jogo contra o Internacional. Naquele momento, mesmo que ninguém ainda soubesse, o gesto de Ronaldinho de camihar para fora das quatro linhas, para dar lugar a Deivid, acabaria se tornando a imagem derradeira de uma relação que começou apoiada num lindo sonho de verão e se transformou em pesadelo.
FONTE: O GLOBO



Comentários

VEJA AS DEZ POSTAGENS MAIS VISITADAS NOS ÚLTIMOS 7 (SETE), DIAS