Nos últimos dez anos, o número de cariocas que escolheram Búzios para morar cresceu 70%:Três décadas após a chegada dos argentinos e franceses, município vive uma nova invasão






O designer e DJ Ricardo Amaral com a mulher, que está grávida, a arquiteta Karina Kerr
Foto: Mônica Imbuzeiro / O Globo
O designer e DJ Ricardo Amaral com a mulher, que está grávida, a arquiteta Karina KerrMÔNICA IMBUZEIRO / O GLOBO
BÚZIOS - A arquiteta Karina Kerr e o designer Ricardo Amaral se conheceram no réveillon do ano 2000, na Rua das Pedras. Engataram um namoro e, seis anos depois, casaram-se no Iate Clube de Búzios. Em 2010, decidiram trocar o apartamento no Horto carioca por uma casa na Ferradura. Eduardo, primeiro filho do casal, está previsto para nascer na maternidade municipal do balneário.
— Visitei o hospital e me senti segura. Mais um buziano — festeja a mãe.
Três décadas após a chegada de argentinos e franceses, Búzios vive uma nova invasão. Agora são os brasileiros, principalmente cariocas como Karina e Ricardo, que estão escolhendo a cidade para morar. Segundo dados do IBGE, nos últimos dez anos cresceu 70% o número de habitantes naturais do Rio em Búzios.
O perfil do novo morador de Armação dos Búzios nada tem a ver com o riponga que vende tatuagem de henna ou sanduíche natural na praia — sim, ele ainda resiste por lá. Em geral, é gente bem de vida (e de bem com ela), que planejou a aposentadoria (da carreira ou dos centros urbanos) e escolheu viver na antiga aldeia de pescadores, que tem hoje 27.560 moradores — quase a metade do bairro do Leblon, com 46.044. Atuantes nas respectivas profissões, Karina Kerr, de 35 anos, e Ricardo Amaral, de 42, mudaram-se em busca de sossego para aumentar a família.
— Contou na decisão o fato de Búzios não ter elevador, escada rolante, sinal de trânsito — brinca ele.
Até entrar no nono mês de gestação, Karina coordenou obras em Búzios, Cabo Frio e Macaé. Ricardo desenvolve sites para restaurantes e pousadas e, um sábado por mês, discoteca no Insólito, hotel-butique na Ferradura. O trabalho segue o ritmo da cidade durante a semana, um tanto pacato.
— O que deixamos de ganhar em grana, compensamos com qualidade de vida — pondera o designer, que tem um buggy e um carro de passeio com placas de Armação dos Búzios, o que o faz economizar até 30% no seguro: o índice de roubo de automóveis no balneário é baixíssimo.
Semana passada, o delegado Mário Lamblet, titular da 127ª DP (Armação dos Búzios), estava às voltas com o furto de um bujão de gás de uma residência na Praia de Manguinhos:
— Pequenos furtos são os crimes mais comuns. Infelizmente, esse tipo de delito está quase sempre vinculado ao consumo e ao tráfico de drogas, o que ainda é um problema por aqui.
Por mês, em média, 150 ocorrências são registradas na delegacia. Na alta temporada — verão e feriados — o número salta para 400. Para efeito de comparação, em fevereiro, a 14ª DP (Leblon) teve 1.967 ocorrências.
No terceiro mandato (e candidato à reeleição), o prefeito Mirinho Braga (PDT) acompanha a migração:
— Os novos moradores se integram com a comunidade e contagiam os nativos. Há uma troca interessante na cidade, que nunca perdeu a essência de aldeia de pescadores.
Há 12 meses instalado em Búzios, o chef ítalo-carioca Danio Braga, de 58 anos, conhece os pescadores pelo nome. Do terraço da casa que divide com a namorada, a advogada Laura de Castro, nos Ossos, controla a chegada dos barcos para conferir se há carga boa para abastecer a cozinha do Sollar, restaurante que abriu no início do mês passado, na Orla Bardot. Na manhã de uma quinta-feira de abril, ao perceber que apenas anchovas e corvinas tinham caído na rede, passou a mão no celular para acionar mergulhadores.
— Só badejo e cherne me interessam — explica o chef, inquieto. — Cheguei querendo imprimir meu ritmo carioca, mas não dá. O horário aqui é outro.
Além de entrar no fuso local, Danio aprendeu alguns costumes. Descobriu, por exemplo, que moradores têm 20% de desconto nos melhores restaurantes. Não há carteirinha de identificação, a promoção é conquistada pela simpatia. Pensando nisso, criou o Almoço Buziano: de quarta a sexta-feira, ele escreve as opções de entrada, prato principal e sobremesa, a R$ 42, no quadro instalado na porta do Sollar.
— Resolvo peixes e produtos hortigranjeiros em Búzios, mas quando quero ir ao supermercado ou ao médico, sigo para o Rio — conta Danio.
Desde 1995, ano da emancipação, a área de saúde deu sinais de melhora na cidade. Na década de 1990, havia um médico residente e um pronto-socorro. Hoje, são mais de 30 doutores, além de um hospital bem equipado para emergências.
O geriatra capixaba Caio Seródio, de 37 anos, montou consultório em João Fernandes há um ano. Entre uma consulta e outra, acompanha as alegrias e tristezas de se viver no balneário:
— Existe uma piada interna que precisa ser levada a sério: sabe como você faz para sair de Búzios com R$ 1 milhão? Entra na cidade com R$ 2 milhões. A vida aqui é muito cara.
Morador de Búzios há cinco anos (e paciente de Caio), o analista de sistemas Eugênio Braga, de 53, reforçou o pé-de-meia antes de liberar a partida do caminhão de mudança de Botafogo para Geribá. Para se manter, virou sócio do Bar Anexo, na Orla Bardot (com filial em Manguinhos). Trabalha mais à noite (e no verão). Quando a maré está boa, pode passear de lancha com a mulher, a brasiliense Miriam Saturnino, de 48, durante a semana.
— Antes de me aposentar, trabalhava de 12 a 14 horas por dia numa multinacional e perdia quatro horas no trânsito. Às vezes tenho a mesma carga horária em Búzios, mas troquei as quatro horas de engarrafamento por um passeio de barco — diz ele, enquanto embarca o cooler abastecido com champanhe e queijo coalho para consumo a bordo. — Morar em Búzios é meu projeto de vida desde quando visitei a cidade pela primeira vez, em 1979, e acampei em Tucuns.
A curto ou longo prazo, o planejamento é essencial para quem deseja viver do comércio na cidade. A jornalista Silvia Cosenza, de 53 anos, aguarda o resultado de vendas da Sapatilha Fashion, loja de calçados femininos que abriu há seis meses em parceria com o namorado, o francês Robert Sab, 57, para marcar a mudança de Niterói para Geribá.
— No início de 2010, decidi que esse é meu lugar. Passei três meses pesquisando o mercado e descobri que não havia uma loja de sapatilhas legais para a moradora de Búzios — conta Silvia.
FONTE: EXTRA


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