Entre risos e café, Cachoeira reservou-se "ao direito de ficar calado"



Mesmo depois do Superior Tribunal de Justiça decidir que o bicheiro-empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, deveria depor nesta terça-feira (22) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito - que investiga o elo entre o bicheiro, parlamentares e entidades públicas e empresas privadas numa grande teia de corrupção - o convocado se reservou ao direito de permanecer calado.
O comportamento já era esperado e já vinha sendo divulgado pela defesa de Cachoeira. "Não falarei nada aqui", disse, repetidas vezes o acusado, orientado por seu advogado Márcio Thomaz Bastos.
Aparentemente abatido e com cabelos grisalhos, o bicheiro falou rapidamente no início da sessão:
- Boa tarde para os senhores e senhoras. Estou aqui como manda a lei. Fui advertido pelos meus advogados para não dizer nada. Eu não vou falar nada aqui. Somente depois da audiência que vamos ter no juiz, se por ventura achar que eu deva contribuir, pode chamar que eu virei para falar disse. Tenho muito a dizer depois da audiência - limitou-se.

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Escoltada por advogados e seguranças a atual mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, também está no Congresso, em uma cadeira aos fundos do plenário. Ela não deu nenhuma declaração.
Perguntas sem resposta
O primeiro a falar foi o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Diante da negativa de Cachoeira em responder, ele desistiu de continuar as perguntas. Em seguida, o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) exigiu a convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Mais cedo, diante do silêncio de Cachoeira, Francischini se exaltou: "aqui não tem um monte de palhaços". Depois, o deputado Filipe de Almeida Pereira (PSC-RJ), questionou se Cachoeira cogitava a delação premiada, o que o bicheiro se recusou a responder.
Em seguida, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) disse à Cachoeira: "parodiando o que aconteceu aqui esta semana, nós não somos teu", em referência à mensagem de celular enviada do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) ao governador do Rio, Sérgio Cabral, flagrada pela câmera do SBT.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) se absteve de fazer perguntas diante da postura de Cachoeira em não se pronunciar, e partiu para o ataque, classificando o contraventor de "marginal que sai da (penitenciária da) Papuda e mantém-se com a arrogância dos livres". Em seguida, o senador Randolfo Rodrigues (Psol-AP) fez diversas perguntas a respeito das relações de Cachoeira com a empreiteira Delta. Depois, questionou o contraventor a respeito de sua relação "muito próxima" com sua ex-mulher, citando uma série de grandes depósitos para ela e perguntando se as transferências de dinheiro eram uma "gentileza de ex-marido". "(Fico) calado, senhor", se limitou a responder o bicheiro.
A senadora Kátia Abreu (PSD-GO) propôs o encerramento da sessão de depoimento, afirmando que ela se tornava "ridícula". "Se estamos perguntando para uma múmia, o que as pessoas em casa vão pensar de nós?", afirmou, acrescentando que todos faziam "papel de bobo para um chefe de quadrilha com cara cínica". A sugestão foi apoiada pelo deputado Sílvio Costa (PTB-PE), que criticou a comissão por chamar primeiro Cachoeira a depor, e não o "baixo clero" da organização criminosa. Na avaliação do parlamentar, a audiência se tornava um "espetáculo ridículo e penoso, embora constitucional".
O deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ) discordou dos colegas que afirmaram a inutilidade da sessão e afirmou que o silêncio "cínico e desrespeitoso" de Cachoeira era uma "confissão de culpa".

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