Em meio a ataques de Garotinho, Cabral se reúne com Lula


Como vem acontecendo desde que o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) iniciou uma série de ataques a Sérgio Cabral em seu site, o governador do Rio de Janeiro mais uma vez evitou o contato com a imprensa nesta sexta-feira. Esperado na cerimônia de inauguração de um museu em uma fábrica de cerveja da Ambev em Petrópolis, na região serrana, o governador se ausentou para participar de uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na capital fluminense.
De acordo com o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, que representou Cabral no evento, o governador fluminense passou boa parte do dia reunido com Lula, que recebeu no Rio o título de doutor honoris causa de cinco universidades nesta sexta-feira. Questionado sobre o ânimo de Cabral diante das denúncias de favorecimento da construtora Delta, envolvida no suposto esquema de jogos ilegais comandados pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, Pezão foi direto: "O ânimo não poderia estar melhor, até porque ele (Cabral) passou os últimos dois dias ao lado do Lula", afirmou.
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Apesar de o teor das conversas entre Lula e Cabral não ter sido divulgado, especula-se que o governador aproveitou a vinda do ex-presidente ao Rio de Janeiro para se aconselhar sobre a estratégia de enfrentamento das denúncias.
Ex-ministro das Relações Institucionais e da Pesca, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), também presente ao evento, comentou as suspeitas que pairam sobre a relação de Cabral e o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, que aparecem juntos em fotos e vídeos divulgados no site de Garotinho. "Cabral nunca negou ser amigo do Fernando, e CPI não é pra investigar nível de amizade. Vamos ver o que os inquéritos dizem", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de Cavendish prestar esclarecimentos à CPI do Cachoeira, Luiz Sérgio foi enfático: "Você tem dúvidas de que ele será convocado para depor?", questionou. O deputado, porém, disse preferir aguardar a leitura dos inquéritos a respeito do caso para apurar o envolvimento de Cavendish no esquema criminoso, em vez de se basear em dados considerados "extraoficiais", que vazaram recentemente. "Quero ver os dados oficiais. O que está circulando na internet até pode ser cópia dos oficiais, mas primeiro precisamos dos fatos", afirmou.
Segundo Luiz Sérgio, a CPI "tem o dever" de investigar a existência de uma "organização criminosa nas instituições públicas". "Nós temos uma sociedade cada vez mais consciente, cobrando e exigindo, e a CPI tem que dar uma resposta a isso", afirmou. O deputado negou que a base governista esteja fazendo qualquer tipo de "blindagem" aos governadores aliados citados no escândalo. "A CPI não pode proteger nem perseguir ninguém. O plano de trabalho do relator precisa ser seguido", disse.
Secretários defendem Cabral
Dois secretários do governo presentes ao evento saíram em defesa de Cabral. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Serviço, Julio Bueno, admitiu que aparece em uma das fotos divulgadas por Garotinho. "Eu também estava em uma das fotos divulgadas. Defendo o nosso governo até o fim", disse. "No Brasil é preciso pesar a ineficiência, e o governo Cabral é o mais eficiente do País", defendeu.
Já o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, que aparece em uma das fotos com um guardanapo amarrado à cabeça e "embriagado" durante uma viagem oficial a Paris, segundo Garotinho, preferiu não comentar as denúncias do ex-governador. "Eu estava fazendo uma viagem de grande relevância para o Estado. Sobre as denúncias do Garotinho, não tenho nada a responder", disse.
Ataques de Garotinho
Na semana passada, Anthony Garotinho divulgou em seu blog uma série de fotos e vídeos relatando o suposto envolvimento de Cabral com ex-presidente da construtora Delta, suspeita de ligações com o esquema de jogos ilegais comandados pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Na sexta-feira, Garotinho publicou fotos do governador em Paris com parte de seu secretariado e Cavendish, recentemente afastado da construtora. Segundo Garotinho, as fotos foram tiradas na porta do hotel Ritz. O governo fluminense respondeu que a viagem era para a participação do Guia Verde Michelin Rio de Janeiro e de encontros para tratar da campanha pelas Olimpíadas de 2016. As fotos, segundo o governo, foram tiradas no Clube Inglês. Garotinho alega que a viagem foi para o casamento de Cavendish e que as despesas foram bancadas pelo empresário.
No sábado, foram divulgados dois vídeos no site do deputado federal. No primeiro, supostamente gravado em 2009, Cabral aparece em um "suntuoso restaurante" na Europa, segundo Garotinho, marcando a data de casamento de Cavendish com Jordana Kfuri, que morreu em 2011 em um acidente de helicóptero, que também vitimou a namorada de um dos filhos do governador fluminense. O segundo vídeo teria sido gravado por Cavendish e mostra, ainda de acordo com Garotinho, o "parabéns a você" do aniversário da mulher de Cabral, Adriana Ancelmo. Garotinho acusa Cabral "e turma" de terem pagado cerca de US$ 400 mil para fechar o restaurante L'Espadon, do hotel Ritz, em Paris, para o evento.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Fonte: Jornal do Brasil.



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