Deu no Blog do Sidney Rezende:Aprenda a identificar o abuso sexual infantil



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O Disque 100 e a organização Childhood do Brasil, envolvida na defesa das causas infanto-juvenis, divulgaram uma estatística alarmante sobre o aumento de denúncias relatando abuso sexual na infância e na adolescência. De acordo com o relatório, mais de 30 mil registros de agressões foram comunicados nos quatro primeiros meses de 2012. Desse total, 3.300 casos apontaram violência sexual, representando um aumento de 71% em relação ao mesmo período do ano passado. Além disso, a violência sexual ocupa o segundo patamar no topo das notificações (10,5%), atrás apenas das agressões físicas (13,3%).
SRZD consultou a professora do curso de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida, Luciana Marques, também especialista em psicanálise com foco em sexualidade. Ela alertou que o índice de registros é real e preocupante, no entanto, muitas crianças tendem a fantasiar uma situação de abuso sem ter sofrido qualquer tipo de agressão. Na entrevista a seguir, a especialista explica como os pais podem diferenciar imaginação de realidade.
SRZD: Como os pais podem identificar que seus filhos sofrem algum tipo de abuso sexual?
Luciana Marques: Não existe uma cartilha que facilite o pai ou a mãe na verificação de que seu filho sofreu abuso, a não ser que o ato tenha deixado marcas corporais claras. Precisamos nos conscientizar que a sexualidade infantil é traumática mesmo. O primeiro encontro da criança com o sexual parte desde os cuidados maternos com a higienização desse corpo. Eu quero dizer com isso que a gente constrói representações inconscientes dessa relação e acontece muitas vezes de a pessoa se colocar fantasisticamente no lugar de abusada quando na verdade não é. É importante ressaltar que a categoria do abuso pode ser real ou fantasiada, o que dificulta que uma mãe escute seus filhos e identifique se ele foi violentado ou não.
SRZD: Que tipos de sinais as crianças vítimas de abuso costumam apresentar?
Luciana Marques: Eu acho que uma mãe cuidadosa sabe mais ou menos como esse filho se comporta, como ele interage. Normalmente há uma retração desse sujeito por conta do trauma. Mas isso é bastante relativo, porque existem pessoas que sofrem abuso e não produzem uma representação, ou seja, algum indício. Há também casos de pessoas que não sofrem abuso e se colocam na posição de abusada. Se formos pela fala de todas as crianças, todos os pais seriam denunciados. Ao relacionarmos isso que eu estou relatando com um dado histórico, Freud iniciou o estudo da psicanálise com o discurso das histéricas. Todas as mulheres que chegavam ao seu consultório diziam ter sido vítimas de abuso, mas 99% delas estavam fantasiando. Isso é complicado porque, daqui a pouco, a moral social vai colocar todo mundo preso. Vale ressaltar que eu não estou desvalorizando o ato do abuso em si, porque ele existe, sim. Mas não podemos esquecer que existem produções fantasísticas. Não existe um manual para descobrir se o filho foi violado, só mesmo escutando o que ele tem para dizer.
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SRZD: A partir de que idade os pais podem começar a conversar sobre esse assunto e de que forma devem conduzir o diálogo?
Luciana Marques: Os pais não devem pensar que a criança não sabe sobre o sexual porque ela é um ser sexuado. Esse conhecimento se amadurece à medida do seu desenvolvimento. Essa criança chega a criar teorias sexuais que não correspondem à realidade, mas que têm uma base alicerçada no desenvolvimento sexual dela. O sexual está muito além do sexo em si. Nós, adultos, também não entramos numa relação só com o componente sexual. Existem sensações, cheiros e impressões envolvidas e as crianças entram em contato com essas experiências desde novinhas, desde a mãe que higieniza esse corpo até a troca com irmãos e amiguinhos. O saber vai aparecer de acordo com as experiências e o amadurecimento erógeno e é ela mesma quem vai trazer isso aos pais. Eles não precisam antecipar nada. Não tem problema nenhum se quiserem escutar e tentar dialogar com essa criança a partir do que ela traz sobre o que já sabe sobre o tema. Os pais só não podem ficar alimentado que os bebês são trazidos pela cegonha quando perguntados sobre esse assunto.
SRZD: Como evitar que as crianças sofram esse tipo de abuso?
Luciana Marques: O principal é prevenir na base do diálogo e colocar alguns limites, porque a criança vai achar todas as maneiras para se satisfazer. Ela ainda não está inserida na cultura. É um erro achar que a criança não sente prazer, e aí, quanto mais os pais pensam desse jeito, é que as coisas acontecem.
SRZD: Quando a criança está fora de casa, fica mais difícil manter controle sobre ela. Como fazer para garantir que os filhos estão protegidos na escola?
Não é possível obter uma garantia total. Cabe aos responsáveis a escolha da escola e dos educadores que farão parte da rede de convivência, além de manter sempre um diálogo aberto.
SRZD: Você considera perigoso o acesso de crianças a sites de relacionamento e redes sociais? Os pais devem proibir que os pequenos mantenham perfis, com fotos e informações pessoais, na internet?
Nada dá certo na base da proibição, porque a curiosidade gerada é ainda maior. Mais uma vez, a estratégia deve seguir na base do diálogo e dos interditos combinados. Outra observação é que casos de violência sexual praticados por mulheres são menos noticiados, mas existem com frequência. A única diferença é que não tem um pênis nem uma violação nítida.

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