Demóstenes Torres nega colocar mandato a serviço de Cachoeira

Senador responde a processo por quebra de decoro parlamentar por ligação com contraventor


BRASÍLIA - O senador Demóstenes Torres sustentou sua defesa e foi interpelado por parlamentares por cerca de cinco horas, na manhã desta terça-feira, no Conselho de Ética do Senado, onde responde a processo por quebra de decoro parlamentar. Em seu depoimento, Demóstenes confirmou a amizadade com Cachoeira, mas negou as acusações de envolvimento com os negócios ilícitos do bicheiro e que tenha atuado no Senado em seu benefício. O senador chegou a ler trechos de gravações da Polícia Federal, para mostrar que estão sendo usadas fora de contexto. E explicou que não viajou de avião com o ministro do STF Gilmar Mendes.
Confira abaixo os principais trechos do depoimento:
Depressão e fé
- Vivo o pior momento da minha vida desde fevereiro: depressão, remédio para dormir que não faz efeito, fuga de amigos. Passei a enfrentar talvez a campanha mais orquestrada do Brasil - foram as primeiras palavras do senador na comissão..
Demóstenes também falou sobre sua fé:
- Só pude chegar aqui hoje porque redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas acho que minha atuação era pautada mais pelos homens do que por Deus. E, se eu cheguei até aqui, é porque readquiri a fé.
Indagado pelo senador Anibal Diniz (PT-AC) sobre ter citado “reencontrado Deus”, Demóstenes negou que fosse uma estratégia.
- Eu sou homem que tem vergonha na cara. Fiquei sem entrar no Senado durante um mês – declarou, afirmando que apenas quis relatar o que estava acontecendo, completando:
- Os meus juiízes são meus colegas senadores. Quem cassa senador é senador, ou o Supremo Tribunal Federal. Confio nos meus colegas – disse, ressaltando que saberá perdoar “com certeza” os colegas senadores caso tivesse seu mandato cassado.
"Jogava verde"
Demóstenes contou que falou muito mais por celular com Cachoeira do que até agora foi veiculado pela imprensa. Ele alegou que nas conversas com o contraventor "jogava verde". Ou seja: dizia, mas não fazia. E fez um pedido.
- Eu peço à Vossa Execelência que eu seja julgado pelo o que eu fiz, e não pelo que falei.
Jogos ilegais
O senador negou saber do envolvimento de Cachoeira com jogos ilegais.
- Eu não tinha lanterna na popa, o que eu sabia é que me relacionava com um empresário que se relacionava com outros cinco governadores, tinha vida social. Naquela ocasião, quem poderia saber o que sabemos hoje? Reafirmo que tinha amizade com ele, sim.
Madato a serviço da contravenção
Sobre a conversa entre Cachoeira e ele, na qual o contraventor pedia para que o senador pautasse a votação de um projeto, Demóstenes negou que tenha atendido ao pedido feito bicheiro.
- Antes dessa conversa, o projeto, onde ele se encontrava? E depois, onde ele se encontra? Exatamente no mesmo lugar. O que podemos dizer é que ele me ligou para ver o andamento de um projeto de lei acerca dos bingos. E esse projeto de lei, ele ainda pergunta: mas qual a importância disso? (Eu disse) 'Inclusive te pega, porque você quer legalizar o jogo'. Ele estava bem mais informado que eu. É o que disse antes: Nem tudo o que se diz se faz. Eu não fiz nada, e repito, a prova maior são os senhores senadores que aqui se encontram, e que foram meus colegas. Qual Senado procurei aqui, para legalizar jogo? Nenhum. E conversar com alguém que atua na área e tenha interesse, não quer dizer absolutamente nada – disse Demóstenes que respondeu ao relator da CPI, ao ser questionado se ficou decepcionado ao saber que Cachoeira estava envolvido em atividades ilegais.
- Acho que todo mundo que se relacionou com ele (se sentiu traído).
Demóstenes entregou ainda cópia de suas contas bancárias e negou que tenha recebido R$ 1 milhão de Carlinhos Cachoeira, conforme cita o inquérito da Polícia Federal, ou R$ 3 milhões, como sustenta a Procuradoria-Geral da República.
- Em nenhum momento foi depositado R$ 1 milhão em minha conta. Nem R$ 1 milhão, nem R$ 1 mil, nem R$ 3 milhões, em nenhum momento isso entrou na minha conta ou me foi dado de qualquer outra maneira.
Clube Nextel
Demóstenes negou que tenha recebido o telefone Nextel porque era sigiloso. Segundo a PF, os telefones foram comprados por Cachoeira e entregue a amigos para evitar o grampo.
- Nunca achei que o aparelho fosse anti-grampos. Recebi o rádio para a minha comodidade, pois falava no Brasil, nos EUA e na Argentina. Se era sigiloso, como foi grampeado? Hoje é fácil verificar que foi um erro, mas na época eu não tinha lanterna na popa e nem sabia que isso era utilizado para outras finalidades.
Em seguida, citou entrevista ao jornal o "Estado de S. Paulo" da suprocuradora Cláudia Sampaio que diz que não é crime receber Nextel.
- Eu não poderia imaginar jamais que 40 ou mais pessoas tinham esses mesmos rádios - ressaltou.
Ao ser questionado por Humberto Costa, ele confirmou que Cachoeira pagava a conta do telefone Nextel. Segundo o senador, a conta era de R$ 40, R$ 50 por mês. O aparelho foi devolvido após o escandâlo.
Escutas telefônicas
Ao ler os trechos das gravações telefônicas do inquérito da PF, o senador ressaltou que o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria ter sido acionado, por ele ter foro privilegiado. O senador frisou que todos foram unânimes em dizer que ele não está envolvido com Cachoeira.
- Fiz questão de ler todos os documentos para dizer que os procuradores, delegados, subprocuradores, podem até brigar, mas num ponto eles convergem: eu jamais tive participação em jogos ilegais.
Demóstenes afirmou que o vazamento das escutas foi “seletivo”, e que teria o objetivo de desmoralizá-lo. Além disso, as tentativas de traçar um relacionamento entre ele e ministros do Supremo, Demóstenes afirma terem o objetivo de amedrontar os juízes da Corte.
- Vivemos um perigo. E a função principal é amedrontar os ministros do Supremo. Dá impressão que o senador é um bandido, que mexia com contravenção e se aproximou dos ministros até para fazer aproximação do contraventor com ministro do Supremo.
Gilmar Mendes e aviões particulares
Segundo Demóstenes, ele não viajou de avião com o ministro Gilmar Mendes. A viagem teria sido citada por Lula em conversa para pressionar o ministro a adiar o julgamento do mensalão, porque corria nos bastidores da CPI a história de que o ministro e o senador teriam usado avião pago por Cachoeira.
- Nos encontramos em Praga, pegamos um trem e fomos a Berlim. Eu voltei em um voo, e ele em outro. Cachoeira não estava conosco em Berlim, e o avião era de São Paulo pra cá e eu usei sozinho o avião e não o ministro – disse, ressaltando que o caso está esclarecido no processo.
O senador admitiu que usou aviões de empresários goianos, mas ressaltou que nunca utilizou isso em troca de sua atuação parlamentar.
- Usei aviões de diversas pessoas no Estado de Goiás. Não do Cachoeira. Ele não tinha avião e nem pagou avião para mim. Mas utilizei de outros, aviões de empresários e amigos de Goiás.
Imprensa
O senador reclamou que as informações são divulgadas com muita “maledicência”. Ele destacou, primeiramente, a machete sobre a evolução de seu patrimônio.
- Até fevereiro eu morava no apartamento da minha enteada. Comprei o apartamento. Paguei R$ 400 mil com dinheiro da minha mulher, financiei R$ 800 mil. Vou terminar de pagar a última prestação quando inteirar 80 anos. Disseram que era incompatível ao meu rendimento.
"Roberto Gurgel prevaricou"
O senador criticou a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que não teria dado sequência em encaminhar denuncia de operações da Polícia Federal em 2009.
- Ele prevaricou, para satisfazer sentimento ou interesse pessoal. Pode ser que não se prove o interesse pessoal. Mas, no caso da improbidade administrativa, é evidente. Creio que o procurador, mais dia ou menos dia, terá de responder sobre isso.
Retrospecto no Senado
O ex-líder do DEM usou boa parte para fazer um retrospecto dos projetos em que esteve à frente no Senado.
E relembrou que foi relator da Ficha Limpa, projeto que pode lhe custar oito anos de inelegibilidade caso seja cassado, e outros projetos de sua autoria.
- Fui lobista da escola pública integral e de qualidade.
FONTE: O GLOBO

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