Alvo de acusações, Lula diz 'tomar cuidado' com desafetos



Acusado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes de integrar uma "central de divulgação" de boatos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, em Brasília, que tem de tomar cuidado com seus desafetos. "Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas pessoas que não gostam e eu tenho de tomar cuidado com essas", disse Lula, sem fazer referência à polêmica envolvendo o membro da Suprema Corte.
Em entrevista à revista Veja, Mendes afirmou ter sofrido pressão do ex-presidente pelo adiamento do julgamento do mensalão no STF, oferecendo blindagem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários.
Após a repercussão das afirmações do ministro, Lula divulgou uma nota demonstrando "indignação" com a versão apresentada. Gilmar Mendes sustentou a tese e endureceu o discurso, dizendo ser vítima de um ataque promovido por "bandidos e gângsters" que estariam tentando atrapalhar o julgamento do mensalão.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Comentários

VEJA AS DEZ POSTAGENS MAIS VISITADAS NOS ÚLTIMOS 7 (SETE), DIAS